Se o dinheiro não cresce em árvore, árvores tendem a crescer mais próximas ao dinheiro

A presença e distribuição de espaços verdes nas cidades costuma ocorrer de maneira desigual por seu território, e eles não são acessados e desfrutados por seus cidadãos da mesma forma. A relação entre a vegetação e a concentração de riqueza em áreas urbanas é um fenômeno complexo e multifacetado, e que inclusive pode ser percebido através de imagens aéreas de muitas áreas urbanas, onde a cor verde parece ter maior destaque e concentração nas regiões mais valorizadas economicamente. Essa ligação tem sido objeto de reflexão e debate em todo o mundo, e desempenha um papel significativo na forma como as disparidades socioeconômicas se manifestam espacialmente e afetam a qualidade de vida das populações urbanas, sobretudo as mais vulneráveis.

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Espaços verdes como parques, praças, jardins, ruas arborizadas e hortas comunitárias são essenciais aos centros urbanos, sobretudo diante da crise climática e ambiental que vivemos, e podem oferecer benefícios significativos para a população e para as dinâmicas de uma cidade. Eles podem abrigar práticas de lazer e recreação, atividades físicas e culturais, e ainda desempenhar um papel importante na redução da poluição do ar e na regulação do microclima urbano, melhorando a qualidade de vida dos cidadãos. Para as crianças, estudos apontam que atividades realizadas em espaços verdes podem melhorar o desenvolvimento físico e mental infantil, e que os idosos também se beneficiam desses locais através da melhoria da saúde física, da convivência e do bem-estar social.

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Parque Battery Playscape / BKSK Architects + Starr Whitehouse Landscape Architects and Planners. Imagem © Sahar Coston-Hardy | ESTO

A Organização Mundial da Saúde "recomenda que todos, independentemente de onde vivam, devem ter um espaço verde acessível de pelo menos 2 hectares de tamanho, a uma distância linear de no máximo 300 metros (5 minutos a pé) de casa". No entanto, apesar da recomendação essas diretrizes não costumam ser cumpridas, e quando existem, os espaços verdes normalmente não são distribuídos de maneira uniforme entre as regiões e diferentes classes sociais. Não é difícil observar que bairros mais valorizados socioeconomicamente tendem a ter maior acesso a espaços verdes bem cuidados e de qualidade, enquanto áreas de menor renda muitas vezes enfrentam a falta de vegetação e opções de lazer.

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Mumbai, Índia. Imagem © Johnny Miller / Unequal Scenes

Deste modo, a desigualdade urbana não se refere apenas à distribuição desigual de renda pelos territórios das cidades, mas também denuncia o acesso diferenciado de uma parcela da população a uma série de outros serviços, como equipamentos de saúde e de educação, sistemas de transporte público e, da mesma forma, espaços públicos e verdes. Essas infraestruturas costumam ser fornecidas de maneira desequilibrada entre as áreas urbanas e tendem a concentrar-se nas regiões mais valorizadas, relacionadas às pessoas de maior poder aquisitivo. Deste modo, grupos com diferentes status socioeconômicos, raciais ou geográficos tendem a ter um acesso mais restrito a esses equipamentos, o que pode dificultar uma série de aspectos de seus cotidianos e ainda cercear seus direitos plenos ao usufruto da cidade.

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Parque Linear do Córrego Grande / JA8 Arquitetura Viva. Imagem © Lio Simas

Em estudos elaborados pela Agência Europeia do Ambiente, o órgão detectou que há evidências por todo o continente que mostram que os espaços verdes estão menos disponíveis em bairros de baixa renda, quando comparados a outras regiões. Em cidades de países como Alemanha, Holanda e Portugal, constatou-se que bairros de baixa renda média, baixos níveis de escolaridade e altas taxas de desemprego tendem a ter acesso a menores áreas de espaço verde do que os bairros com melhores índices. Ademais, comunidades com uma alta proporção de imigrantes e minorias étnicas também apareceram com um menor acesso a áreas verdes de qualidade.

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Assentamento Kya Sands em Joanesburgo, África do Sul. Imagem © Johnny Miller / Unequal Scenes

Nos Estados Unidos, pesquisadores constataram que renda, educação e raça são marcadores que estão diretamente relacionados com o acesso a espaços verdes, a partir de levantamentos em áreas metropolitanas de cidades como Nova York, Los Angeles e Chicago. O estudo analisa as vegetações a partir de imagens de satélite, comparando sua distribuição com os marcadores citados anteriormente, e revela que o acesso aos espaços verdes reflete divisões mais profundas de classe e raça nos territórios, fatores tidos como mais significativos. Os bairros com maior concentração de habitantes com educação superior (proporção de graduados universitários) são também aqueles com maior concentração de espaços verdes. Por outro lado, regiões habitadas por populações latinas e afro-americanas contam com acesso reduzido à vegetação.

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High Line, Nova York. Imagem © Lucas Blair Simpsom © SOM

Os espaços verdes desempenham um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida urbana, sendo essenciais às dinâmicas do meio ambiente e ao cotidiano da população. A ausência desses espaços em áreas de maior vulnerabilidade não somente denuncia o desequilíbrio dessa distribuição, mas também ajuda a perpetuar o ciclo de desigualdade nas cidades. É fundamental que o planejamento urbano atue por uma distribuição mais equitativa de espaços verdes, garantindo que bairros de baixa renda também os acessem. Abordar essa relação de maneira justa e equitativa não apenas contribui para a melhoria da qualidade de vida, mas também ajuda a construir cidades mais sustentáveis e que fazem do verde uma cor cada vez mais presente e inclusiva.

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Sobre este autor
Cita: Adele Belitardo. "Se o dinheiro não cresce em árvore, árvores tendem a crescer mais próximas ao dinheiro" 27 Ago 2023. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1005058/se-o-dinheiro-nao-cresce-em-arvore-arvores-tendem-a-crescer-mais-proximas-ao-dinheiro> ISSN 0719-8906

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