O concreto possui enorme resistência aos esforços de compressão, mas é um material frágil em relação à tração, quando forças são aplicadas em direções opostas em uma estrutura, tentando separar suas partes. É por isso que a incorporação do aço, com sua alta resistência quando esticado, tornou o chamado concreto armado o método construtivo mais utilizado no mundo. Em outras palavras, o concreto armado combina as vantagens intrínsecas de seus dois componentes principais -concreto e armaduras de aço-, para resultar em um material extremamente robusto, versátil e prático. Essas armaduras, além de reforçarem a estrutura, podem ser utilizadas em instalações artísticas, fachadas e mesmo interiores.
Quanto à sua invenção, pesquisadores divergem em relação à autoria. Alguns o creditam ao jardineiro Joseph Monier. Outros consideram que a primeira casa de concreto armado foi feita pelo industrial François Coignet, revolucionando o campo da construção. No entanto, há consenso que ele surgiu na França por volta de 1850, sendo patenteado em 1867 por Joseph Louis Lambot. Os anos subsequentes viram abordagens diversas empregando barras de ferro ou aço à mistura de cimento, brita e água, explorando diferentes formas, tamanhos e métodos de união. François Hennebique foi uma figura essencial, revolucionando o concreto armado através de seu método patenteado de integrar barras de ferro e malhas, aumentando a resistência a cargas e a prevenção de trincas.
As barras de reforço (vergalhões) geralmente apresentam um perfil "nervurado", caracterizado por deformações com padrões elevados que percorrem a peça. Esta textura serve para elevar a eficácia dos vergalhões quando incorporada às formas de concreto, aumentando sua adesão à mistura ainda líquida. Aliado a seus atributos funcionais, essas barras possuem um caráter peculiar e sua utilização para fins estéticos tem sido comum em exemplos na arquitetura contemporânea.
Estruturando e materializando instalações artísticas
É o caso de instalações como a de Groves-Raines Architects, na Escócia. A estrutura é uma extensão orgânica do jardim e funciona como um pequeno abrigo, onde a vegetação cresce por cima. Suas origens são derivadas da tecelagem de cestas e a estrutura utiliza vergalhões e aço Corten. Já o studio:indigenous usou o material para criar uma réplica da Primeira Igreja Cristã que Eliel Saarinen e seu filho Eero, projetaram na década de 1940. A Wiikiammi se conecta ao presente ao ser fabricada com materiais modernos, como vergalhões soldados e painéis metálicos cortados com jato de água.
O Cloud Pavilion de Arquitetos Associados, por outro lado, utiliza telas de vergalhões soldadas em tamanhos regulares para definir toda a modulação do sistema, a fim de evitar perdas de resíduos e produção. Adotou-se uma industrialização das peças montadas no local, a fim de permitir sua desmontagem no final do evento, seu transporte para um local definitivo e sua remontagem integral, onde pudesse se encaixar em outros usos. Já a tumba de Baba Beski, projetada por Zav Architects, transforma um grande jardim privado no Irã em um espaço semi-público de reflexão e descanso. Simboliza o ciclo entrelaçado da vida e da morte e a incompletude como um estado perpétuo. Neste sentido, o próprio monumento, criado a partir de vergalhões, incorpora essa filosofia, evocando instabilidade estrutural com seus planos angulados.
Brincando com a translucidez em cercas e fachadas
Na Casa da Lagoa, de Brasil Arquitetura, barras verticais de vergalhões fazem a vez de cercas e muros à edificação, tornando-se aparatos para o crescimento de vegetação. Na Casa Feliz em Begur, de SALA FERUSIC Architects, o telhado jardim se conecta ao terreno em declive e cria um percurso agradável com um paisagismo projetado. Nas bordas, um guarda-corpo cuidadosamente moldado em vergalhões cria segurança, mas repousa leve e translúcido e não se torna um obstáculo visual.
No Fireplace Pavilion, barras de reforço de aço fornecem estabilidade, bem como permeabilidade visual à toda a estrutura. O quadro é composto por 8 toneladas de vergalhões soldados entre si por 16 mil pontos de soldagem. Nestes vazios, são apoiadas toras de madeira, fazendo o pavilhão servir como uma unidade de armazenamento de lenha e como um local para os hóspedes se aquecerem. Já no caso do Blue Barn Theatre & Boxcar 10, vergalhões recobrem o exterior, soldados à frente de um revestimento de aço corten, acomodando as mudanças do edifício no decorrer do tempo. Enquanto o padrão subjacente foi derivado de algoritmos e otimizado digitalmente, a instalação de peças é decididamente de baixa tecnologia.
Incorporando a estrutura bruta em interiores
Vergalhões também podem ser utilizados para estruturar objetos cotidianos, como estantes, por exemplo. É o caso da WeWork Yangping Lu, do Pamplona Apartment, ou do Ap. Cobogó, de Alan Chu. No caso do Changan Noodle Bar, de Atelier Boter, projeto que buscou replicar o ar despojado das ruas, a madeira tradicional foi substituído por elementos metálicos finos. Barras de aço para reforço são usadas por suas linhas simples para construir a estrutura do rack de exibição; hastes de cobre, relativamente mais complicadas no processo de fabricação, são usadas como sistema de suspensão para criar um contraste visual.
Em suma, a incorporação de vergalhões no concreto armado revolucionou a resistência e a durabilidade dessas estruturas, permitindo ao concreto lidar com forças de tração de maneira mais eficaz. Mas o uso inventivo de vergalhões em expressões artísticas e arquitetônicas reafirma sua importância como um elemento importante da construção moderna e da inovação no design. Ainda que muitas vezes oculto, trata-se de um material que desempenha um papel vital na construção moderna e na expressão artística. Acima de tudo, sua presença é testemunho da inovação contínua e da busca por soluções que elevem a resistência e a estética das estruturas construídas.
