O Taller General é um ponto de encontro no qual Martín Real e Florencia Sobrero, entre outros membros e colaboradores, se reúnem diariamente para fazer aquilo pelo que são apaixonados: canalizar sua criatividade por meio da arquitetura, fundindo todos os aspectos que moldam suas vidas, do ativismo ao ensino.
Com sede no Equador, a equipe passa por mudanças de acordo com as necessidades dos projetos e, na maioria das vezes, se expande, com um trabalho colaborativo que permite compartilhar diferentes perspectivas, opiniões e práticas, enriquecendo o ambiente e gerando resultados que seriam inimagináveis individualmente.
Por esses motivos, o Taller General foi selecionado pelo ArchDaily como um dos melhores novos escritórios de arquitetura de 2023. Abaixo, trazemos uma entrevista com Flor e Martín para saber mais sobre suas inspirações, processos de trabalho e projetos futuros.
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No Equador, vocÊs têm construído de tudo, desde casas e conjuntos habitacionais até cenários alternativos e refeitórios. Mas qual foi a primeira aproximação de vocês com a arquitetura? O que os inspirou a fazer arquitetura? Por que fazem arquitetura?
O Taller General é formado por várias pessoas, começamos o estúdio em 2017. Nossas abordagens são diferentes, nós dois nos conhecemos por nossa própria experiência neste mundo, mas nossa definição atual de arquitetura vai se moldando coletivamente.
Nós nos conhecemos quando estávamos terminando nossa graduação, buscando experiências mais relacionadas ao fazer, tentando entender o que estávamos estudando a partir da prática. Naquele ano, ocorreu o terremoto que afetou a costa equatoriana, o que gerou várias iniciativas da sociedade civil para lidar com o desastre, e nós nos envolvemos em uma delas: Actuemos Ecuador.
Essa foi a nossa primeira aproximação à arquitetura como um todo, onde encontramos um espaço de ação que nos interessava e que exigia um envolvimento absoluto com a construção, e onde aprendemos muito e moldamos nossa maneira atual de trabalhar.
Como é o processo de trabalho atual para obter "essa" arquitetura?
Cada projeto é um novo desafio, uma nova oportunidade de experimentar e aprender. Descobrimos que, com o passar do tempo, assumimos os processos de trabalho de forma diferente, nutrindo-nos constantemente do envolvimento na construção e das constantes reflexões que podem surgir a partir dela.
A partir daí, os processos de projeto se tornam mais conscientes e responsáveis, desde a facilidade de montagem, as tecnologias escolhidas, o manuseio de materiais, a viabilidade econômica e a qualidade espacial dos ambientes que construímos.
Em nosso processo de trabalho, entendemos que há três aspectos absolutamente importantes em cada projeto: os usuários, com suas realidades complexas e muito diversas; o lugar, a natureza, a cidade, as diferentes atmosferas; e a construção, a materialidade, sua origem, suas múltiplas vidas, seu futuro. Sob esses três pontos de partida, buscamos alternativas por meio da arquitetura.
Vocês trabalharam de forma colaborativa: com o ERDC na Casa Forno de Pão; José María Saenz na Casa Pitaya; e Al borde no Refeitório de Guadurnal. Para vocês, como funciona essa dinâmica?
O trabalho coletivo desde o início do Taller General nos permitiu acessar projetos e, dessa forma, aprender e perder o medo. As colaborações geram espaços fortalecedores que são nutridos por diferentes histórias, experiências, metodologias e aprendizados e nos dão uma base para propor e experimentar juntos. As colaborações, assim como os próprios projetos, são espaços para aprender e experimentar mais.
Interiormente, o Taller é uma equipe que está em constante mudança e reconfiguração. Há uma busca pela crítica e pelo trabalho coletivo, o que nos permite entender os pontos fortes e fracos de cada participante, ouvir e se comunicar adequadamente, organizar e entregar. O fato de a equipe não ser estática gera melhores resultados e torna os processos mais ricos e divertidos.
Recentemente, vocês foram selecionados pelo ArchDaily entre as melhores Novas Práticas de 2023. E eles mencionam que vocês estão interessados em "misturar todos os sabores que compõem suas vidas, seja ativismo, leitura, ensino, construção, desenho, planejamento, gerenciamento e outros ingredientes", podem falar um pouco mais sobre esse interesse?
Acreditamos que é inevitável ser afetado por influências e motivações que passam por nós diariamente. Nós mudamos e crescemos, e nossas preferências também mudam. Adoramos o campo, cozinhar, escrever, ler, dançar e viajar. Inevitavelmente, é a partir dessa diversidade que as perguntas e os processos que levam à prática do escritório são nutridos.
Embora os questionamentos sejam muitos, tentamos entender os mais urgentes, do ponto de vista de como eles nos afetam. Por exemplo, essas preocupações pessoais levaram ao surgimento do projeto Femingas, que são jornadas de construção participativa com uma perspectiva de gênero. É inevitável reconhecer a desigualdade de gênero, o deslocamento das mulheres e a dissidência que existe no campo da construção. Para isso, estudamos o problema em profundidade a partir de nossas próprias experiências e buscamos mecanismos de ação que nos permitam criar novos significados e ressignificá-los por meio de nosso trabalho. As Femingas nascem como uma construção feminista alternativa e se tornam uma ferramenta de ação política e social.
Essas questões também surgem em relação à cidade em que queremos viver. Estamos passando por um momento de expansão urbana complexa, em que, por um lado, há o crescimento descontrolado das cidades e, por outro, o esvaziamento de casas e edifícios dentro das mesmas cidades. Assim, a forma de ocupar a infraestrutura existente para novos usos é algo que ocupa muito tempo em nossas reflexões e discussões. Por meio de alguns exercícios dentro do Taller, buscamos mecanismos que nos permitam repensar o trabalho arquitetônico em torno dessas preocupações. Ultimamente, desenvolvemos quatro projetos que têm a ver especificamente com essas lógicas urbanas e com a infraestrutura que está em desuso ou carece de qualidades de habitabilidade. Assim, criamos os "Cenários Alternativos" como uma proposta para a reocupação e reabilitação desses espaços.
Por fim, em quais novos projetos vocês estão trabalhando atualmente e quais gostariam de desenvolver mais?
As questões que perpassam o escritório, onde o cotidiano, o urbano, a prática e a experimentação convergem, nos levaram a ingressar na academia e criar uma oficina sobre "Cenários Alternativos" que nos permite transmitir e trabalhar essas preocupações junto com os alunos. Queremos que todas as nossas perguntas sejam desencadeadoras e estimuladoras de reflexão para os outros, e é disso que se trata a criação de propostas que nos permitam explorar novos significados.
As Femingas continuam em seu curso - autogerido - com as limitações inerentes a um projeto que tem um foco de gênero desde a base, estamos constantemente buscando mecanismos para fortalecê-las e dar-lhes continuidade.
Atualmente, estamos desenvolvendo projetos de design e construção com diferentes escalas e programas, projetos privados, culturais e comunitários, nos quais atribuímos grande importância à exploração por meio da prática. Para nós, isso implica entender o processo de construção como um meio de experimentação, aprendizado e participação. Onde o vínculo com os materiais, os recursos monetários e sociais e os atores do processo é fortalecido e aprimorado durante toda a execução do projeto.
Este artigo é parte dos Tópicos do ArchDaily: Novas práticas. Mensalmente, exploramos um tema específico através de artigos, entrevistas, notícias e projetos. Saiba mais sobre os tópicos do ArchDaily. Como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuições de nossos leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
Para a edição de 2023, as Novas Práticas selecionadas foram Ahmadreza Schricker Architecture, Alsar Atelier, ASPJ: Agencia Social de Paisaje, ATELIER XI, Branco del Rio Arquitectos, Diogo Aguiar Studio, forty five degrees, gru. a, Infraestudio, JK-AR, KOSMOS Architects, Oana Stanescu, Office Kim Lenschow, Oficina Bravo, Paulo Tavares, prototype, Rayon, RoarcRenew Architects, Spacon & X, Taller General, Tideland Studio, U-Build, Urban Beta, vão, y Willow Technologies.
