As cores são fundamentais para as dinâmicas e o cotidiano da vida urbana, mas seu impacto ultrapassa sua aparência e dimensão estética, sobretudo para as pessoas com algum tipo de comprometimento visual. Para essa parcela da população, as cores desempenham um papel ainda mais significativo, porém muitas vezes subestimado, na formação e aprimoramento da acessibilidade dos espaços públicos. A arquitetura tem um papel importante nessa inclusão, o que perpassa a escolha consciente de cores que tem o poder de melhorar a acessibilidade urbana e criar um ambiente mais inclusivo para as pessoas de todas as habilidades.
A Organização das Nações Unidas estima que até 2050, quase um bilhão de pessoas com alguma deficiência viverão nas cidades, representando 15% do total de seus habitantes, um grande desafio para os centros urbanos e seus planejadores. No Brasil, de acordo com o IBGE (2022), 18,6 milhões de pessoas ou 8,9% da população é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência, e a visual é uma das mais representativas, atingindo mais de 3% dos brasileiros que "têm dificuldade para enxergar, mesmo usando óculos ou lentes de contato".
A visão é o principal sentido envolvido na percepção espacial humana e grande parte de nossa decodificação dos ambientes vem através de imagens visuais, atreladas a algum tipo de significado. No âmbito da arquitetura e do planejamento urbano, o uso estratégico das cores pode fornecer pistas e informações cruciais para indivíduos com deficiências visuais, uma vez que a uniformidade e repetição de uma série elementos que compõem os espaços urbanos podem implicar em desorientação espacial.
O desafio rumo a uma acessibilidade urbana mais inclusiva por meio da cor exige um equilíbrio delicado entre aspirações estéticas e necessidades funcionais, assim como questões culturais que também devem ser reconhecidas e avaliadas. O projeto de ambientes acessíveis para esse grupo deve levar em consideração e se atentar para alguns parâmetros das cores como matiz, saturação, luminosidade, temperatura e contraste, assim como índices como maior nitidez e contorno de mobiliário, texturas, redução da poluição visual e de reflexos também são fatores que ampliam as condições de obter melhores informações do ambiente.
Esquemas de cores de alto contraste em vias para pedestres e em sinalizações e sistemas de transporte público podem auxiliar na navegação e garantir um deslocamento mais seguro, como o pavimento tátil amarelo brilhante em contraste com um pavimento mais escuro, por exemplo. Em estações de transporte público, plataformas e rotas codificadas por cores podem simplificar a navegação para passageiros com deficiências, reduzindo a confusão e promovendo a independência.
A cor é uma ferramenta dinâmica que pode interferir profundamente na acessibilidade urbana. Quando utilizada de maneira eficaz, ela pode capacitar indivíduos com deficiências visuais a navegarem e interagirem com o ambiente urbano com mais confiança. Esforços colaborativos entre planejadores urbanos, arquitetos, especialistas e a comunidade são essenciais para que as cidades possam dar passos significativos rumo à criação de espaços que não sejam apenas visualmente agradáveis, mas mais inclusivos e acessíveis a todos.
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