Planejamento urbano "top-down" e "bottom-up": uma abordagem sinérgica

Desde as cidades gregas antigas até as idealizadas pela Renascença, a história do planejamento urbano é um reflexo das estruturas de poder em evolução e das prioridades da sociedade. A estrutura organizacional de uma cidade está profundamente enraizada nas necessidades culturais e nas relações sociais. O desenvolvimento urbano contemporâneo, por sua vez, é marcado por uma dicotomia — o contraste entre estratégias de planejamento de cima para baixo (top-down), lideradas por entidades influentes e órgãos governamentais, e as iniciativas de baixo para cima (bottom-up), impulsionadas pelas comunidades locais. Essa interação molda as cidades, influenciando desde aspectos da infraestrutura e espaços públicos até os modelos habitacionais e a atmosfera urbana. Investigar as diferenças entre essas estratégias é essencial para a construção de uma paisagem urbana harmônica que atenda às necessidades de seus moradores.

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Moradia, infraestrutura, serviços de saúde e educação, e espaços de lazer - esses elementos cruciais formam a espinha dorsal das cidades em todo o mundo. O planejamento urbano, então, parece uma tarefa fácil, onde modelos de arranjos podem ser justapostos em várias regiões e comunidades. A rubrica do planejamento modernista era, portanto, um conceito singular que estava sendo exportado para diferentes partes do mundo, falhando em capturar as complexidades das diversas paisagens sociais, culturais e ambientais.

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Vista aérea de Paris, França. Imagem © Lucas Gallone

Uma abordagem de cima para baixo dominava o campo do design e planejamento urbano. Hoje, está claro que um modelo hegemônico não pode simplesmente ser replicado em todos os contextos. No mundo urbano globalizado, é palpável a influência do capital privado na formação das cidades ao lado dos órgãos governamentais. O aumento do financiamento imobiliário deu às corporações uma participação significativa no desenvolvimento urbano, impactando a acessibilidade de moradias e espaços públicos. Atualmente, a responsabilidade do planejamento urbano passa por saber como responder adequadamente às diversas condições em diferentes paisagens. O que precisa ser comum é a sensibilidade a essas situações e não a singularidade da resposta.

O planejamento urbano de cima para baixo é frequentemente associado a figuras influentes e órgãos governamentais que detêm a autoridade para moldar a trajetória de uma cidade. Ao longo da história, exemplos de grandes visões urbanas foram trazidos à vida por pessoas poderosas - a transformação de Paris por Haussmann e os projetos de infraestrutura de Moses em Nova York exemplificam o método liderado pelas autoridades. A abordagem pode trazer eficiência, modernização e coesão aos espaços urbanos. No entanto, eles também podem deixar de capturar a essência dos bairros e suas necessidades.

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Ville Radieuse / Le Corbusier. Imagem via land8.com

Le Corbusier também passou a maior parte de sua carreira refinando essa abordagem, publicando princípios de design urbano em publicações como a Carta de Atenas. A carta deixou uma marca inesquecível no planejamento de cidades europeias e americanas no pós-Segunda Guerra Mundial, elucidando um conjunto de princípios destinados a tornar as cidades funcionais e eficientes. A rigidez da Carta de Atenas - oferecendo uma fórmula universal e ignorando a geografia e a cultura local - muitas vezes se mostrou limitante. As ideias de Le Corbusier provocaram debates sobre seu impacto nos bairros e na vida das ruas, com implicações que vão de condomínios fechados a projetos urbanos centrados no carro.

ABORDAGEM DE BAIXO PARA CIMA

Em contraste, as abordagens de baixo para cima são lideradas pelo empoderamento da comunidade e por iniciativas populares. Chamando a atenção para suas dinâmicas culturais, sociais e econômicas únicas, as comunidades são colocadas no centro desse método. A defesa de Jane Jacobs por cidades "orgânicas, espontâneas e desarrumadas" incorpora a essência da filosofia de baixo para cima. Uma abordagem de baixo para cima permite que os cidadãos se responsabilizem por suas condições ambientais, promovendo um forte senso de propriedade e identidade dentro dos bairros. Apesar de suas táticas voltadas para o cidadão, a abordagem muitas vezes pode levar a um desenvolvimento fragmentado, infraestrutura inadequada e desafios ao facilitar projetos de grande escala.

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Cocriação de Espaços Urbanos à Beira do Rio Nobogonga. Cortesia da imagem de Co.Creation.Architects, Jhenaidah Citywide People's Network, Plataforma de Ação Comunitária e Arquitetura (POCAA), Rede de Arquitetos Comunitários (CAN)

ABORDAGEM SINÉRGICA

A colaboração entre o planejamento de cima para baixo e as iniciativas de baixo para cima pode ter resultados promissores, especialmente na criação de espaços públicos e na renovação urbana. O programa Plaza da cidade de Nova York, por exemplo, demonstra como órgãos governamentais podem se associar a grupos comunitários para recuperar ruas para o uso público. Além de captar os insights locais, também promove um senso de propriedade e vibração nos bairros. Da mesma forma, o concurso Making Places de Londres mostra como a participação popular pode melhorar os espaços públicos existentes e envolver jovens designers no processo de planejamento.

O planejamento do desenvolvimento urbano no México foi originalmente caracterizado por abordagens de cima para baixo, lideradas pelo Estado, com envolvimento público mínimo. Nas últimas décadas, a abordagem do planejamento urbano mudou de um método centralizado e científico para um método mais participativo e colaborativo. As práticas atuais passaram para um modelo mais comunicativo, enfatizando perspectivas de baixo para cima e a participação das partes interessadas. Encontros internacionais sobre moradia humana e meio ambiente na década de 1970 influenciaram estruturas legais e políticas, levando a mudanças nos métodos de planejamento.

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Expansão Urbana de Colorado Springs. Imagem © Chris Waits

A parceria entre órgãos governamentais e grupos comunitários se estende para além dos espaços públicos. Vai até modelos habitacionais alternativos. Iniciativas como o Greater London Authority Small Sites, o programa Small Builders e a colaboração de Enfield com a Naked House exemplificam como o suporte de cima para baixo pode permitir a expansão de soluções habitacionais inovadoras. Ao disponibilizar pequenos terrenos para pequenos incorporadores, associações habitacionais e grupos de autoconstrução, esses modelos contribuem para moradias acessíveis, ao mesmo tempo em que nutrem um senso de comunidade e personalização.

Desafios urbanos complexos exigem soluções multifacetadas. O planejamento de cima para baixo é essencial para estabelecer uma visão grandiosa de cidade. As estratégias de baixo para cima ajudam a garantir que essa visão esteja alinhada com as necessidades e desejos dos cidadãos. A combinação dessas abordagens pode ajudar a nutrir um tecido urbano com mais nuances, que respeite o caráter local, permita a equidade e lute em questões como mudança climática e integração social. A criação de feedback entre o conhecimento científico e as percepções locais permite o planejamento urbano transdisciplinar, resultando em uma visão holística para o desenvolvimento urbano e em maior responsabilidade na tomada de decisões.

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Vista aérea de Barcelona, Espanha. Imagem © digitalglobe

Ao contrário do que se acreditava no planejamento modernista, as cidades não podem ser vistas como entidades monolíticas. São habitats para diversas comunidades e ecologias sociais que fomentam suas próprias culturas, preferências e necessidades. O poder do desenvolvimento urbano eficaz reside no reconhecimento da complexidade dos espaços urbanos por meio de uma abordagem sinérgica. Juntos, o planejamento de cima para baixo e o de baixo para cima permitem a criação de estruturas urbanas flexíveis para diferentes contextos. Os pontos fortes de ambas as estratégias são combinados para produzir cidades inclusivas e resilientes.

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Sobre este autor
Cita: Gattupalli, Ankitha. "Planejamento urbano "top-down" e "bottom-up": uma abordagem sinérgica" [Top-Down and Bottom-Up Urban Planning: A Synergetic Approach] 24 Ago 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1005576/planejamento-urbano-top-down-e-bottom-up-uma-abordagem-sinergica> ISSN 0719-8906

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