Se hoje já compreendemos que construir com concreto é prejudicial ao meio ambiente, uma das possibilidades de adotá-lo sem danos está na reforma de edifícios que podem expor sua estrutura e trazer o material à tona. Se sua aparência pode ser lida como austera ou extremamente fria para abrigar um lar, a madeira surge como alternativa para amenizar essa sensação e transformar uma possível estética industrial num ambiente residencial aconchegante. Desta forma, concreto e madeira conseguem brindar diferentes qualidades para um mesmo espaço a partir do contraste de suas texturas e cores que geram distintas sensações ao corpo. São várias as formas de pensar em como esses materiais podem dialogar e, aqui, apresentamos algumas delas a partir de seis apartamentos brasileiros.
Sob o conceito da criação de uma atmosfera atemporal inspirada nos lofts de ambiência industrial, Memola Estúdio + Vitor Penha realizaram o Apartamento Saint Honoré. O projeto revela os materiais a partir da remoção completa dos estuques e descascamento de alvenarias. Assim, o concreto aparente surgiu e agora está em diálogo com a madeira presente na caixilharia móvel que favorece a integração total, parcial e isolamento dos ambientes. Segundo os arquitetos, "os caixilhos dão ritmo e unidade à aparente casualidade das recorrências do tijolinho à vista e do concreto aparente - de presença marcante no espaço. No alto, eles são delimitados pelas vigas de concreto deixadas à mostra e, abaixo, pelas faixas de tacos de madeira que sinalizam as remoções das paredes com a sua tonalidade destoante daquelas do belo piso geral do apartamento, paginado em escama de peixe."
Já o CoDA Arquitetura, na fase de demolição do Apartamento Aurora encontrou a estrutura-base do edifício, composta por três paredes paralelas em concreto armado. Como estratégia, dentro do novo layout proposto, um painel de freijó com duas portas corrediças embutidas foi disposto abaixo de uma das vigas, permitindo que a circulação ocorra principalmente por esse elemento de madeira que atravessa a estrutura de concreto do apartamento. Além disso, a madeira também é vista no mobiliário desenhado, principalmente na ilha de madeira realizada ao longo da cozinha que, no intuito de trazer leveza ao elemento de grande dimensão, teve suas extremidades abauladas e a base de concreto recuada para dar a sensação de que ela esteja flutuando no espaço. Desta forma, há um equilíbrio entre os elementos estruturais em concreto aparente e elementos com tonalidades quentes e pouco saturadas oriundos principalmente da madeira.
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Interiores brutos: 20 projetos com concreto e madeira aparenteJá no Apartamento Carbono, a mesma equipe encontra esse equilíbrio de outra maneira. Aqui, a laje maciça de concreto armado e vigas no plano superior do ambiente se destacam junto do piso de parque no plano inferior. Ao adotar as paredes brancas, o contraste entre as superfícies se aprimoram e as texturas de cada material ganham ainda mais destaque.
No Apartamento Virgílio, o assoalho em ipê existente na sala e o taco em peroba dos quartos foram renovados. Além disso, LCAC Arquitetura descascou toda a laje e as vigas do apartamento, deixando aparente o concreto. No diálogo criado entre os distintos materiais, a marcenaria em cumaru - responsável pela divisão dos ambientes e por abrigar uma grande estante funcional - ganha protagonismo.
A planta livre do Apartamento Akyma, realizado pelo Estúdio BRA Arquitetura, é marcada pelos pilares redondos de concreto que a atravessam. Para estruturar o layout do apartamento, foi criado um ambiente em formato retangular, que além de servir de sala de jantar, recepciona a chegada ao apartamento e organiza a circulação para as áreas íntimas a partir de um painel em madeira tauari maciça, que mimetiza as portas de acesso aos outros cômodos. Além disso, um móvel baixo em marcenaria percorre a sala principal no sentido longitudinal da planta e brinda diferentes tipos de uso: sofá embutido, apoio de aparelho de som, televisão e floreira para o paisagismo.
Por último, fica o exemplo realizado por Flavia Torres Arquitetura que, ao fazer a prospecção estrutural do Apartamento Casa Branca, encontrou uma sequência de pilares lineares de concreto, que impediam a realização da ampliação desejada. Como solução, a estrutura foi assumida e valorizada, e os dois ambientes gerados por ela foram integrados para conformar a parte social. O piso original do apartamento é todo trabalhado com dois tipos de madeira, o que lhe confere personalidade. Ele também desempenha papel importante nessa integração entre os dois lados da estrutura, uma vez que foi complementado em todo o trecho de ampliação da sala para manter unidade.