Hoje, quando imaginamos um espaço coberto, provavelmente um teto estruturado por uma laje de concreto é a imagem que nos vem na cabeça. Também hoje, quando pensamos em concreto, surge um leve desconforto na possibilidade de utilizá-lo em construções, visto os levantamentos que apontam como ele contribui para a crise climática e danos ao meio ambiente. Ampliar nosso repertório para técnicas vernaculares e tradicionais pode ser uma boa alternativa neste cenário. E, neste sentido, as coberturas naturais surgem como uma ótima solução. Utilizadas por muito mais tempo que o concreto para abrigar os humanos, elas ainda são pouco atribuídas a edificações contemporâneas, apesar de estarem alinhadas com muitas das qualidades que buscamos num projeto: materiais biodegradáveis, portanto, mais sustentáveis, apelo estético e conforto térmico.
Provavelmente a cobertura natural mais comum é a de palha. Trata-se de um método tradicional que envolve o uso de vegetação seca - como as palhas de piaçava, sapê, santa-fé - para criar um abrigo coberto. Sua montagem é realizada a partir do agrupamento e entrelaçamento das fibras que, através de sucessivas sobreposições, conformam uma superfície impermeável. Sua construção é realizada de baixo para cima, sendo que o topo é onde deverá haver mais cautela - no momento da execução e com futuras manutenções - por ser o ponto de maior fragilidade para infiltração de água. Como acontece com outros materiais, quanto maior a inclinação do telhado, mais rápido será o escoamento da água e isso poderá ajudar a evitar possíveis problemas de infiltração. Normalmente realizada sobre uma estrutura de madeira ou bambu, a cobertura de palha, por se tratar de um material flexível, permite que a criatividade do arquiteto vá longe, conformando até mesmo formas orgânicas complexas.
Ao adotar essa solução, vale se atentar para os diferentes tipos de palha existentes no mercado para decidir qual deverá ser utilizada no seu projeto. Como dito anteriormente, as mais comuns são:
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Telhados de sapê: história, desempenho e possibilidades na arquitetura- Piaçava: Seria a fibra mais fina e, portanto, mais maleável. Esta qualidade faz com que suas pontas fiquem caídas nas extremidades do telhado. Sua durabilidade, conforme a manutenção e região a ser instalada, é de aproximadamente 8 anos;
- Sapê: Possui um aspecto mais firme que a anterior e pode finalizar as coberturas com linhas retas. No entanto, sua duração aproximada é de apenas 5 anos;
- Santa-fé: A mais rígida de todas, possui um aspecto de bloco maciço. Devido a sua alta durabilidade e resistência, ela pode ser mantida por cerca de 20 anos e utilizada de formas bastante versáteis na construção.
Em geral, todas elas são altamente inflamáveis e devem receber tratamentos para proteção contra incêndio. Também é importante checar a procedência, que seja de confiança e garanta que o material adquirido não venha com pragas que poderão danificar a cobertura e o edifício. Entre os benefícios que esta solução apresenta, além do alto aporte sustentável, também pode-se citar o bom isolamento térmico e questões estéticas que levam a um diálogo constante com a natureza.
Por fim, outra solução de cobertura natural, não tão comum nos países tropicais, mas utilizada em construções vernaculares ao redor do mundo, que desponta como um material promissor, são as algas. A designer Kathryn Larsen já comprovou que elas possuem resistência à podridão e ao fogo, são livres de composições tóxicas e possuem características de isolamento comparáveis à lã mineral.