Cidades efêmeras: três conceitos radicais que propõem aos usuários moldarem seu ambiente

O conceito de uma cidade pode ser entendido como um sistema em constante transformação, no qual arquitetos e habitantes colaboram para sua concepção e remodelagem. Embora sua estrutura inicial possa ser delineada por designers ou arquitetos, a essência da trama urbana é, em última instância, moldada pela sociedade e pelas gerações que a ocupam. A questão da "autoria da cidade" frequentemente surge no contexto do planejamento urbano. Será que os arquitetos e urbanistas podem prever até que ponto uma cidade evoluirá por meio de seu projeto inicial? A resposta é não. A noção de autoria do usuário reconhece, então, que o planejamento urbano não deve ser abordado como um projeto de construção convencional, no qual os designers tentam prever todos os aspectos de forma, padrão, comportamento e cultura. Em vez disso, ela reconhece o papel desempenhado pelas pessoas na configuração da trama urbana por meio de suas preferências arquitetônicas, desenvolvimento da identidade do bairro e remodelagem contínua que contribui para a história e o espírito do lugar. Esses elementos devem ser considerados desde o início do processo de projeto, contemplando ideias relacionadas à expansão futura, infraestrutura adaptável e capacitação dos cidadãos para contribuir com a arquitetura da cidade, tornando, assim, o planejamento urbano mais democrático. Este artigo explora conceitos de cidades radicais, nas quais os designers adotam ideias de autoria dos usuários e a evolução constante da arquitetura efêmera.

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The Plug-In City / Peter Cook, Archigram

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Plug-in City. Imagem © Peter Cook via Archigram Archives

Durante suas explorações arquitetônicas gráficas entre 1960 e 1974, o grupo Archigram concebeu a ideia da Cidade Plugável, uma cidade hipotética e provocativa que explora formas de construção flexíveis e uma infraestrutura de grande escala para habitação. Esta cidade foi planejada com unidades modulares que serviriam tanto como espaços residenciais quanto públicos, e que poderiam ser facilmente conectadas a uma megaestrutura em constante evolução, que incluiria transporte e outros serviços essenciais. O tecido urbano da Cidade Plugável possui uma estética de "incompletude", com estruturas e guindastes gigantes móveis que os habitantes poderiam operar para reconfigurar suas casas e, por consequência, a forma da cidade. Em uma entrevista sobre o trabalho do Archigram, Peter Cook explicou que a Cidade Plugável representava um método que permitiria às pessoas expandirem suas moradias por conta própria. Ele enfatizou que essa abordagem envolvia os moradores no processo de construção, utilizando elementos pré-fabricados e oferecendo diversas opções viáveis, tornando a arte da construção mais interessante e criando uma cidade continuamente dinâmica.

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Plug-in City. Imagem © Peter Cook via Archigram Archives
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Plug-in Offices. Imagem © Peter Cook via Archigram Archives

Road Town/ Edgar Chambless

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Roadtown proposta por Edgar Chambless em 1910. O conceito previa uma linha ferroviária subterrânea. Imagem © Roger Taft

Como é possível planejar as operações de uma cidade para seguir um padrão linear? Essa foi uma das questões de planejamento urbano mais revolucionárias levantadas por Edgar Chambless em 1910. A ideia de uma cidade rodoviária surgiu da percepção de que as ferrovias haviam transformado significativamente a maneira como as pessoas viviam, reconfigurando a vida ao longo de suas rotas. A proposta de Chambless apresentava uma configuração de prédios residenciais de dois andares, dispostos em diferentes níveis ao longo de um sistema de monotrilho silencioso. Apesar de os edifícios serem concebidos como parte da infraestrutura permanente, o crescimento linear da cidade dependeria das escolhas individuais dos usuários em relação ao monotrilho, ou seja, de onde eles partiam e para onde se dirigiam. Chambless acreditava que, dessa forma, a cidade estaria completamente interconectada com todos os destinos necessários para seus cidadãos, tornando-a verdadeiramente democrática, eliminando favelas e proporcionando habitações acessíveis. Essa visão utópica de uma fusão entre arquitetura e infraestrutura, com foco nos próprios usuários determinando o crescimento da cidade, também serve como um modelo para explorar as formas de autoria do usuário em propostas de cidades radicais, como o famoso projeto The Line na Arábia Saudita, que segue um conceito semelhante.

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O edifício da rodovia que Le Corbusier imaginou para o Rio de Janeiro. Imagem © Agenda Bafafá

Plug and Play Masterplan for Tokyo/ Kenzo Tange

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Um Plano para Tóquio 1960. Imagem © Tange Associates

Como resposta ao Plano Regional de Tóquio de 1958, que visava descentralizar a cidade devido ao aumento da população, o plano de Kenzo Tange se baseou nos princípios do conceito de "cidade rodoviária", que acreditava que a comunicação e a mobilidade seriam fatores determinantes no futuro das cidades. Ele propôs uma megaestrutura linear como base, composta por uma rede fixa de metrôs e rodovias. Dentro desse esquema, conexões interligadas, projetadas para se expandirem pela baía, permitiriam que a população influenciasse e moldasse as habitações e os serviços públicos necessários à cidade. A abordagem de Tange representou uma exploração simbólica sobre a natureza permanente ou transitória das cidades. Sua visão era estabelecer uma nova ordem espacial de crescimento constante e transformação de estruturas flexíveis, nas quais os cidadãos participariam ativamente dos benefícios da mobilidade no século XXI. A concepção da "cidade plug-and-play" tinha como objetivo integrar a estrutura da cidade, o sistema de transporte e a arquitetura urbana por meio de uma abordagem aberta e da mobilidade espontânea da sociedade contemporânea.

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Um Plano para Tóquio 1960. Imagem © Tange Associates

No passado, as pessoas caminhavam pelas ruas até chegarem ao seu destino e simplesmente desapareciam na porta. No entanto, com os automóveis na rua, tudo é diferente. É necessário separar pedestres de veículos e criar rodovias e ruas exclusivas para o uso de veículos. Graças ao automóvel, há a necessidade de uma nova ordem em que um veículo possa se mover de uma rodovia rápida para uma mais lenta e, em seguida, parar no destino. -- Kenzo Tange

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Um Plano para Tóquio 1960. Imagem © Tange Associates

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Sobre este autor
Cita: Yakubu, Paul. "Cidades efêmeras: três conceitos radicais que propõem aos usuários moldarem seu ambiente" [Ephemeral Cities: 3 Radical City Concepts That Propose for Users to Shape Their Built-Form] 30 Set 2023. ArchDaily Brasil. (Trad. Simões, Diogo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1006314/cidades-efemeras-tres-conceitos-radicais-que-propoem-aos-usuarios-moldarem-seu-ambiente> ISSN 0719-8906

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