Diante de estudos que estimam que até 2050 quase 70% da população mundial será urbana, pensar num desenvolvimento mais sustentável e equilibrado das cidades torna-se um imperativo para as próximas décadas. Essa discussão perpassa, invariavelmente, uma escolha mais assertiva de materiais de construção que tragam melhores benefícios urbanos e ambientais. Nesse cenário, um material que vem ressurgindo como uma escolha mais sustentável para a infraestrutura urbana é a madeira, sobretudo quando aliada a novos recursos tecnológicos, que vem se reintroduzido nas paisagens das cidades devido às suas características versáteis e à sua capacidade de se alinhar às construções do amanhã.
Chegando a ser chamada de "o concreto do futuro", a madeira vem desafiando as percepções e processos convencionais dos materiais de construção, que têm reconhecido suas qualidades construtivas e adaptabilidade a uma grande variedade de aplicações. Ao contrário de materiais tradicionais como o concreto e o aço, que consomem grandes quantidades de energia e emitem um montante significativo de carbono durante sua produção, a madeira é um recurso renovável e reutilizável, que tem um impacto ambiental menor durante sua fabricação e instalação. Ela também é um material leve em relação à sua resistência, possui boas propriedades térmicas e é durável, desde que instalada e mantida adequadamente.
Um outro aspecto a ser levado em consideração é que as árvores também conseguem capturar o carbono atmosférico à medida em que crescem, contribuindo para a redução das emissões de CO2 do planeta e da pegada de carbono da edificação. Estudos recentes mostram que a utilização da madeira na construção de novos edifícios e infraestruturas têm o potencial de evitar a emissão de mais de 100 gigatoneladas (Gt) de carbono até o ano de 2100, número que representa cerca de 10% do "orçamento global" de carbono restante para manter a temperatura de aquecimento do planeta abaixo de 2°C. Isso faz com o que a infraestrutura urbana possa funcionar como um grande reservatório de carbono armazenado, até maior do que as florestas naturais em termos de rendimento por área.
Inovações recentes, aliadas à versatilidade característica da madeira, têm desempenhado um papel fundamental em sua crescente popularidade construtiva. Avanços na área da engenharia de madeira, como o uso de Madeira Laminada Cruzada (CLT) e Madeira Laminada Colada (MLC ou Glulam), permitem a constituição de elementos como pilares, vigas e painéis estruturais, possibilitando a construção de edifícios cada vez mais altos e resistentes. O material passa por processos industriais que otimizam seu uso para a construção civil, com o tratamento das peças e a exclusão de elementos indesejados, como nós e rachaduras. O desenvolvimento das técnicas de pré-fabricação e construção modular também simplificaram o processo construtivo, ao alcançarem um formato mais eficiente de produção e prazos mais curtos de instalação.
No que diz respeito à infraestrutura urbana, a madeira pode ser utilizada de diversas formas e em múltiplos elementos. Além de seu amplo uso nas edificações, como em estruturas, painéis, pisos e móveis, no cenário urbano ela pode ser empregada na construção de pontes, decks, coberturas, estruturas temporárias e mobiliários variados, o que demonstra sua versatilidade construtiva. Para tirar o máximo proveito da matéria-prima, sobretudo quando pensada numa escala urbana, é fundamental considerar fatores como regulamentações florestais, de incêndio, manutenção adequada e a escolha responsável da madeira, para garantir que as construções sejam seguras, duráveis e mantenham seu compromisso ambiental. Ademais, estudos comprovam que elementos feitos de madeira são agradáveis e confortáveis para a convivência humana, uma dimensão importante para o contexto urbano, capaz de tecer uma maior conexão das pessoas com o seu meio.
E enquanto muito se estuda e se discute, algumas cidades e países já estão se destacando pelo uso da madeira em sua infraestrutura urbana, implementando algumas ideias e medidas. Estocolmo, na Suécia, a partir de 2025 começará a construir o maior empreendimento urbano em madeira do mundo. Chamado "Stockholm Wood City", o projeto de 250 mil metros quadrados pretende ser um exemplo sustentável para o mercado imobiliário e será a maior "cidade de madeira" do mundo, contando com serviços como locais de trabalho, habitações, restaurantes e lojas, no sudeste da capital sueca. O país também se destaca por já possuir atualmente cerca de 10% de seus edifícios de apartamentos construídos com estrutura de madeira, sobretudo com Madeira Laminada Cruzada (CLT) e Madeira Laminada Colada (MLC ou Glulam).
A cidade de Vancouver, no Canadá, está utilizando a madeira e sua geografia estratégica para lidar com o crescimento urbano e a crise habitacional que enfrenta, se comprometendo a reduzir suas emissões de carbono incorporadas na construção em 40%, até 2030. Para atingir essa meta, a cidade está promovendo a construção de edifícios de madeira certificada, proveniente de florestas gerenciadas por povos indígenas. Essa abordagem, além de colaborar com a meta ambiental, também fortalece a economia local, tornando Vancouver um mercado de destaque para a madeira de alto valor produzida regionalmente. A cidade canadense também se destaca pela construção de edifícios inovadores de madeira, como o Brock Commons Tallwood House.
Aliando sustentabilidade, versatilidade e inovação, a madeira vem se destacando como uma boa opção para as demandas construtivas modernas. À medida em que as cidades se empenham na busca de maneiras mais sustentáveis e resilientes de construir, o material emerge como uma escolha promissora para a constituição da infraestrutura urbana nas próximas décadas, que procura harmonizar natureza e tecnologia na construção do amanhã.
Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: O futuro da madeira. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuição de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.