Durante a participação no Congresso Mundial de Arquitetura UIA 2023 em Copenhague, o ArchDaily teve a oportunidade de conversar com Yasmeen Lari, a primeira arquiteta do Paquistão e vencedora da RIBA Royal Gold Medal de Arquitetura em 2023. Yasmeen Lari ganhou reconhecimento internacional por seus esforços na preservação do patrimônio e no ativismo humanitário, destacando as possibilidades de praticar arquitetura em comunidades desfavorecidas. Sua abordagem inovadora e socialmente consciente tem tido um impacto significativo tanto em seu país de origem quanto internacionalmente. Ao projetar para comunidades resilientes, seu trabalho também está alinhado com os objetivos do Congresso Mundial de Arquitetos UIA e com a forma como a arquitetura pode contribuir para os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Durante a conversa, Lari descreveu seu início na área de arquitetura, motivada pela recém-conquistada independência do Paquistão. Nesse período de mudanças, a profissão passou por um momento de entusiasmo e busca por uma nova identidade nacional, distinta do domínio colonial e adaptada ao século XX. Após se formar na Escola de Arquitetura de Oxford Brooks, na Grã-Bretanha, Lari retornou ao Paquistão. Embora sua prática arquitetônica estabelecida lá estivesse mais focada em clientes corporativos, projetando alguns dos maiores edifícios do país na época, o interesse de Lari também se voltou para redescobrir a cultura do Paquistão, suas tradições e patrimônio.
Levei algum tempo para reaprender e entender minha própria situação. As antigas cidades pelas quais andei me deram muitas informações e inspiração para poder ver o que estava acontecendo antes, e talvez algo que pudéssemos fazer agora também. - Yasmeen Lari
Os projetos do início de sua carreira foram influenciados por tendências mundiais, com uso significativo de concreto, aço e vidro. No entanto, já nessa fase, podemos notar um interesse em arquitetura com foco social, evidenciado em alguns dos projetos de habitação social que ela desenvolveu nesse período. Em 2000, Yasmeen Lari decidiu se aposentar de sua prática arquitetônica e, durante três anos, aceitou o convite da UNESCO para se tornar conselheira nacional no Lahore Fort. Foi nesse contexto de trabalhos de conservação que Lari se familiarizou com técnicas tradicionais, como o uso de cal, que se mostraram surpreendentemente valiosas em seus empreendimentos futuros.
Em seguida, em 2005, um terremoto devastador atingiu o Paquistão. Lari descreve como ela se envolveu ativamente nos esforços de ajuda, junto com voluntários, jovens arquitetos e estudantes de todo o mundo. Ela descreve essa experiência como uma verdadeira "revelação", demonstrando o impacto positivo que a arquitetura pode ter, mesmo quando não se dispõe de grandes recursos financeiros. Ela se considera uma pessoa de sorte por ter vivenciado desastres dessa magnitude, pois isso permitiu a compreensão das necessidades e desafios reais enfrentados pelas pessoas, bem como maneiras eficazes pelas quais a nossa profissão pode contribuir para ajudar.
Sinto que em países como o meu, há tantas injustiças, especialmente as mulheres têm que sofrer muito. Então, realmente sinto que o design pode desempenhar um papel muito importante em elevar as pessoas e ajudá-las a superar tudo e também ganhar respeito. Este é o empenho, e o que estou notando é que há muitos jovens que desejam fazer isso. - Yasmeen Lari
À medida que mais desastres ocorreram, agravando as desigualdades sociais já presentes no país, Yasmeen Lari continuou seu trabalho incansável. Ao direcionar seus esforços para ajudar os menos privilegiados, Lari busca dar voz àqueles que são frequentemente silenciados. Nesse processo, ela tem mostrado um caminho alternativo para a prática de nossa profissão. Ela reconhece que as novas gerações de arquitetos desejam se envolver mais e estão cada vez mais conscientes da importância de abordar e implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. No entanto, ela percebe que essa abordagem está longe da direção ensinada nas escolas e na indústria da arquitetura.
Nossa profissão abdicou de sua responsabilidade para com o planeta. Por termos sido formados de uma forma diferente, sempre esperamos pelas comissões e pelas pessoas que podem nos pagar, então não conseguimos nos relacionar com todas as outras questões que estão aí. - Yasmeen Lari
Sobre aconselhar as gerações futuras, Lari destaca a importância de incentivar arquitetos e designers talentosos a se envolverem no campo humanitário. Dado que muitas vezes esses profissionais precisam operar com recursos limitados, é fundamental contar com talento e criatividade, mas também garantir uma remuneração justa. Ela enfatiza que organizações não governamentais (ONGs) e todas as agências envolvidas devem reconhecer o valor acrescentado pelos arquitetos e se esforçar para fornecer aos jovens profissionais as condições necessárias para que a atuação humanitária seja mais comum. Além disso, Lari acredita que as universidades e instituições têm a responsabilidade de apoiar esses profissionais em início de carreira e contribuir para o desenvolvimento de sistemas que permitam aos arquitetos se integrarem de maneira eficaz nas comunidades.