Corredores silenciosos e intermináveis, salas brancas e frias, uma atmosfera impessoal e distante: essa é uma imagem fortemente enraizada na nossa concepção cultural de ambientes hospitalares. A alvura desses espaços, que tenta reforçar uma ideia de esterilidade e limpeza tão necessárias, também pode ser capaz de criar uma sensação de desconforto e ansiedade para os pacientes e suas famílias.
A importância da humanização dos projetos de hospitais, clínicas e consultórios é um tema cada vez mais discutido e relevante na área da saúde, e que vai muito além da estética desses edifícios. Ela considera a necessidade de criar ambientes acolhedores que promovam o bem-estar dos pacientes, familiares e profissionais, reconhecendo que a arquitetura pode desempenhar um papel fundamental na recuperação e no conforto dessas pessoas em momentos de vulnerabilidade.
Estudos como os da neuroarquitetura exploram a relação entre o ambiente construído e o funcionamento do cérebro, especialmente as respostas emocionais, cognitivas e fisiológicas das pessoas. Nos projetos de saúde, ela ressalta a importância de criar espaços que promovam a calma, a concentração e a sensação de segurança, o que envolve o uso de cores, texturas e layouts que minimizem a sensação de confinamento e promovam uma maior percepção de controle sobre o ambiente. Por exemplo: cores suaves e relaxantes podem ajudar a reduzir a ansiedade, enquanto uma disposição inteligente dos espaços pode melhorar a orientação dos pacientes e facilitar o trabalho dos profissionais.
Outra dimensão fundamental que permeia a humanização nesses projetos é a biofilia, que entende que os seres humanos têm uma afinidade inata com a natureza e que a presença de elementos naturais em ambientes construídos pode melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Em áreas de saúde, os arquitetos podem incorporar elementos como luz natural, vegetação, vistas para o exterior e materiais orgânicos, elementos que podem reduzir o estresse, melhorar o humor e acelerar o processo de recuperação dos pacientes. Além disso, salas de espera confortáveis e jardins internos podem oferecer momentos de relaxamento e alívio emocional, transmitindo empatia e cuidado.
A humanização nos projetos de clínicas, consultórios e hospitais busca criar espaços que promovam a recuperação, o conforto e o bem-estar dos pacientes, familiares e profissionais. No entanto, é importante reafirmar que essa humanização não se limita apenas aos aspectos físicos das edificações, mas também se estende à cultura organizacional das instituições, onde é fundamental que os profissionais de saúde estejam engajados na promoção de um ambiente acolhedor e humanizado, em que a comunicação eficaz e o respeito pelo paciente sejam prioridades.
Ao incorporar certos elementos e conceitos, os arquitetos têm a oportunidade de contribuir significativamente para a qualidade da assistência médica e o processo de recuperação dos pacientes. A seguir, selecionamos 5 projetos de espaços de saúde que, com escolhas assertivas e cuidadosas, tornaram seus ambientes mais acolhedores e eficazes.
Centro Maggie de Leeds / Heatherwick Studio
"O projeto de interiores do centro explora tudo aquilo que muitas vezes é esquecido em um projeto de infra-estrutura hospitalar: materiais naturais e táteis, iluminação natural abundante e difusa e uma variedade de espaços projetados para incentivar trocas socais assim como espaços contemplativos e silenciosos. O desenho do mobiliário foi pensado de forma a acolher os visitantes, convidando-os à preencher o espaço com seus próprios objetos e a chamar este lugar de “casa”."
Hospital Infantil Lady Cilento / Lyons + Conrad Gargett
"Seu exterior reluzente e colorido em tons de verde e roxo da flora nativa transmite a ideia de um edifício projetado para crianças. O projeto incorpora estratégias voltadas para o suporte e bem estar dos pacientes: percursos claros, conexões com o exterior e vistas para o ambiente natural são questões fundamentais para a proposta. Obras de arte bi e tridimensionais são usadas extensivamente em todo o edifício para proporcionar ambientes agradáveis e garantir o bem estar dos pacientes."
Clínica no Bosque / Takashige Yamashita Office
"Em meio aos pequenos pátios jardins introduzidos entre os volumes e elevando-se pelo telhado, as salas de tratamento oferecem um cenário calmo e confortável, abraçado na natureza, aliviando a ansiedade dos pequenos pacientes. Cercada por vegetação e árvores, a clínica não só cria uma atmosfera relaxante para os jovens pacientes, mas também, oferece um espaço para abraçá-los e cultivá-los."
Centro de Saúde PAMS, Newman / Kaunitz Yeung Architecture
"O volume é predominantemente de taipa, material de construção original, abundante, gratuito e sustentável. No entanto, seu valor para o projeto é muito mais profundo do que isso. A terra compactada cria uma conexão humana e intuitiva com seu lugar. O material é o país. Ele reflete a luz e absorve a chuva. Isso é óbvio e imediato para todos, mas fundamental para o povo aborígine. Um lugar para a comunidade se orgulhar e ser bem-vinda. Um lugar que coloca o bem-estar no centro da sociedade."
Centro de Diabetes Steno Copenhagen / Vilhelm Lauritzen Architects + Mikkelsen Architects + STED
"Estudos mostram que ambientes hospitalares tradicionais podem fazer com que pacientes saudáveis se sintam doentes e enfraqueçam fisica e emocionalmente. Portanto, o envolvimento do usuário foi o fio condutor ao longo da criação do SDCC, com ênfase em garantir uma experiência agradável em todas as etapas de chegada, espera e consulta. O projeto repensa a função das áreas comuns, transformando o tempo de espera em tempo ativo e apoiando um fluxo natural de atividades em torno dos temas de dieta, exercício e novos conhecimentos."
Os trechos foram retirados dos respectivos memoriais dos projetos.