O ambiente construído é responsável por aproximadamente 42% das emissões anuais globais de CO2. Durante a vida útil de um edifício, metade dessas emissões provém de sua construção e demolição. Para tornar a arquitetura mais sustentável e controlar as emissões globais, é essencial repensar e reduzir os impactos de carbono gerados durante as demolições, bem como implementar estratégias sustentáveis na construção de edifícios. As demolições geralmente envolvem a desmontagem, derrubada, destruição ou eliminação de edifícios e estruturas, resultando em níveis insustentáveis de emissões de carbono, esgotamento de recursos, resíduos e poluição. Esses métodos apressados para encerrar o ciclo de vida de um edifício têm impactos negativos no meio ambiente, nos materiais envolvidos e nas possibilidades de reciclagem. Portanto, é evidente a necessidade de repensar como abordamos o fim da vida de um edifício ou projeto de infraestrutura, em vista de um sistema de desconstrução mais sustentável.
Embora muitas demolições resultem em resíduos de construção que geralmente são enviados para aterros sanitários, a desconstrução sustentável visa a desmontagem cuidadosa de um edifício ou estrutura, peça por peça. O foco principal é recuperar e reutilizar o maior número possível de componentes em outros projetos. Estratégias sustentáveis de desconstrução dão prioridade a elementos de construção como portas, janelas, elementos estruturais, telhados e materiais de acabamento.
Nas práticas de demolição atuais, estratégias como implosão controlada e o uso de sistemas robóticos avançados estão sendo incorporadas para desmontar cuidadosamente os edifícios e preservar o maior número possível de componentes para reutilização. A demolição controlada, frequentemente empregada em edifícios altos, consiste na utilização de uma série de pequenas explosões estrategicamente posicionadas dentro da estrutura. Essas explosões enfraquecem ou removem gradualmente os suportes críticos, evitando que a estrutura seja totalmente destruída. Em vez disso, essa abordagem cataloga os componentes do edifício em seções maiores para facilitar a reciclagem dos materiais.
A incorporação de sistemas robóticos nos procedimentos de demolição atuais, utilizando técnicas como corte e perfuração de concreto, desempenha um papel fundamental na desmontagem minuciosa das conexões em estruturas. Essas demolições automatizadas não apenas eliminam a necessidade de seres humanos por questões de segurança, mas também podem separar os componentes do edifício, facilitando o processo de reciclagem. Outra abordagem para uma demolição sustentável envolve o uso de Agentes de Expansão Química Não Explosivos. Esses agentes de demolição química, geralmente compostos por óxidos de cálcio, silício e alumínio, auxiliam na desintegração de estruturas de concreto. São métodos silenciosos que não emitem gases, poeira ou qualquer outra forma de poluição ambiental.
No entanto, embora esses processos integrativos e outros busquem minimizar a destruição total de edifícios, o United Kingdom Green Building Council (Conselho de Construção Verde do Reino Unido - UKGBC) enfatiza o escopo e os princípios da desconstrução sustentável. Essa abordagem prioriza a prevenção, a reutilização e a reciclagem, em detrimento da demolição. A demolição é considerada como a última alternativa, a ser adotada somente após uma minuciosa exploração de todas as outras opções. O processo de avaliar e examinar essas alternativas é conhecido como "design para desconstrução" e começa no início da vida do edifício. O foco está em maximizar o valor de seus componentes materiais até o momento da desconstrução.
Design para Desconstrução
O principal objetivo do movimento Design para Desconstrução (DfD) é gerenciar de maneira responsável os materiais de construção no final de sua vida útil e reduzir o consumo de matérias-primas na produção de novos edifícios. Isso é alcançado com a otimização do uso dos materiais retirados durante as demolições, reutilizados em outros projetos de construção ou reciclados em novos produtos. Dessa forma, o movimento busca eliminar as emissões de carbono associadas à criação de novos materiais para construção e aprimorar o impacto ambiental global dos componentes dos edifícios no final de sua vida útil. O UKGBC desenvolveu um guia prático de desconstrução sustentável que destaca diferentes estratégias para as diversas partes interessadas no setor da construção contribuírem para e alcançarem demolições sustentáveis.
Para desenvolvedores, arquitetos e equipes de design, o guia prático recomenda priorizar a longevidade, flexibilidade e adaptabilidade como estratégias essenciais no design para desconstrução. Projetar edifícios para que sejam utilizáveis pelo maior tempo possível é o ideal, pois isso estende seu ciclo de vida devido à sua natureza adaptável e resistente. Além disso, ao projetar para pré-fabricação, pré-montagem e construção modular, facilita-se a desmontagem durante a demolição. A construção modular promove a padronização, o uso de uma paleta simplificada de materiais e componentes, a utilização de fixadores mecânicos em vez de adesivos, além de um maior controle do processo de construção. Isso garante que os elementos do edifício possam ser facilmente desmontados e reutilizados sem perder seu valor.
Para os usuários de edifícios e infraestruturas, o guia prático recomenda a realização de manutenção proativa e a documentação de reformas, atualizações e trabalhos de manutenção, a fim de facilitar o processo de desconstrução no final da vida do edifício. Por fim, para as equipes de desconstrução, é essencial criar registros abrangentes de materiais e catálogos baseados nos desenhos originais da construção e no estado atual do edifício no final de sua vida útil. Esse catálogo de materiais fornece informações sobre a capacidade funcional e estrutural de diferentes componentes do edifício, o processo de desmontagem e a qualidade dos materiais para revenda ou reutilização em outras estruturas.
Um exemplo que ilustra o conceito de "design para desconstrução" é a Triton Square, projetado pela ARUP. A estrutura original, construída em 1998, precisou de atualizações devido à inadequação para seu propósito original. A fim de minimizar o desperdício, uma parte significativa da estrutura existente foi preservada. Isso incluiu 88% da subestrutura e 3000m² dos painéis originais da fachada, que foram reutilizados. Além disso, o projeto empregou escória granulada de alto-forno (GGBS), obtida a partir de resíduos de demolição, para substituir em média 65% do cimento utilizado. Como resultado desse processo de desconstrução, o projeto evitou a emissão de 40.000 toneladas de carbono e reduziu os custos em 43% em comparação com um edifício comercial típico.
Estratégias de demolição sustentável também envolvem a colaboração entre profissionais do setor da construção e as comunidades onde os edifícios e infraestruturas estão localizados. Isso inclui educar e envolver as comunidades para prolongar a vida útil dos edifícios e reciclar seus componentes materiais. A publicação de catálogos de materiais de edifícios destinados à demolição permite que o público participe e adquira elementos que podem ser utilizados em outros projetos de construção. Isso cria um sistema circular para a demolição sustentável nas comunidades e reduz as emissões de carbono. Como resultado, o conceito de demolições sustentáveis está em constante expansão e exige que todos questionem, analisem e desenvolvam novas estratégias para reduzir a pegada de carbono ao encerrar a vida útil dos edifícios.
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