Diante das batalhas que temos enfrentado contra as mudanças climáticas, sobretudo nos anos recentes, a elaboração de estratégias genuínas de descarbonização nunca foi tão crítica e necessária, e em todo o mundo, profissões, empresas e organizações de diversas áreas estão sob pressão para adotarem práticas e condutas mais sustentáveis em seus processos. No campo da arquitetura e do urbanismo não é diferente, e termos como "arquitetura sustentável" ou "arquitetura verde", misturadas a uma série de certificações, produtos e propagandas, tornaram-se cada vez mais comuns e populares, prometendo mudanças e melhorias na profissão que, teoricamente, estariam alinhadas aos novos parâmetros desejados para o futuro global.
No entanto, em meio à essa crescente conscientização ambiental, emergiu um outro fenômeno: o greenwashing, ou "maquiagem verde". O greenwashing refere-se a práticas adotadas por diversos setores, sobretudo ligadas às estratégias de marketing que apresentam iniciativas que transmitem uma impressão falsa ou que fornecem informações enganosas sobre como os produtos ou projetos de uma empresa são mais ecologicamente corretos do que eles realmente são, quando analisados sob um viés mais crítico e cuidadoso.
Ao digitarmos num site de buscas o termo "empreendimento sustentável" ou "arquitetura verde", por exemplo, aparecerão milhares de edifícios, cercados por muitas plantas e vegetações, que sugerem ser essa a imagem e realidade de uma construção ambientalmente mais consciente. Mas será que são esses os parâmetros indicados para julgarmos uma edificação como sustentável ou será que estamos diante de discursos de descarbonização falsos que, na realidade, representam estratégias de greenwashing na arquitetura?
Muitos empreendedores, e também muitos arquitetos, perceberam que o marketing em torno do tema da sustentabilidade poderia trazer ganhos e lucros para a profissão, e que determinados parâmetros e discursos "verdes" poderiam orientar, atrair e agradar seus consumidores. Mas, muitas vezes, mais do que estudos e medidas aprofundadas, que realmente estivessem alinhados aos contextos locais e a pensamentos ambientalmente mais coerentes, essas iniciativas apenas aparentam ser mais responsáveis quando, na verdade, são superficiais, controversas ou enganosas.
Em muitos casos, os aspectos anunciados não funcionam exatamente como prometido, trazem outros prejuízos não divulgados, ou foram introduzidos no design apenas para cumprir certas regulamentações básicas. Um edifício pode ser construído de uma maneira que seja muito prejudicial ao meio ambiente, mas ao adicionar alguns elementos chave em seu escopo, como painéis solares ou telhados verdes, por exemplo, o projeto pode ser anunciado e propagandeado como uma estrutura sustentável. Mas como podemos detectar o greenwashing na arquitetura?
Uma estratégia que costuma ser utilizada e que pode estar relacionada a discursos de descarbonização falsos são os "selos verdes". Algumas certificações buscam atestar a sustentabilidade dos processos por trás dos edifícios, mas empresas e projetos podem obter essas certificações sem, de fato, implementarem práticas e tecnologias sustentáveis de forma significativa. É possível perceber que os critérios, muitas vezes, abordam vieses ambientais específicos ou panoramas muito amplos, mas ignoram outras dimensões importantes do contexto local da construção, como aspectos sociais e econômicos, o que pode criar uma fachada de sustentabilidade, enquanto o desempenho ambiental real pode ser limitado.
O uso de telhados verdes ou de painéis solares como única medida para justificar a sustentabilidade de um edifício ou empreendimento também pode estar relacionada a uma estratégia de greenwashing na arquitetura. Apesar de serem soluções que trazem uma série de contribuições e benefícios, sobretudo em áreas urbanas, eles não garantem a adequação da construção como um todo aos ditos parâmetros da sustentabilidade, especialmente quando outros índices, como eficiência energética e a escolha de certos materiais e sistemas construtivos mais nocivos, são ignorados.
Outro ponto de atenção são as alegações não comprovadas ou o uso de termos genéricos como "eco" em certos materiais, sem maiores aprofundamentos. Um fabricante pode lançar um produto dito ecológico, justificar sua composição a partir de materiais reciclados, por exemplo, mas não divulgar o uso de outras substâncias nocivas ou de seu processo de fabricação altamente poluente. É necessário estar atento a outras documentações e informações sobre o material, assim como das condutas e processos do fabricante.
Uma tática que também pode ser enganosa é o discurso de expansão urbana sustentável, aliada ao lançamento de empreendimentos imobiliários "verdes" ou "ecológicos". Muitas vezes, o crescimento e assentamento de novos bairros urbanizados implica o desmatamento de áreas naturais, prejudicando ecossistemas inteiros. Não raro, as novas construções lançadas no local utilizam-se de falsos discursos ambientais, divulgando um maior contato com a natureza, por exemplo, por simplesmente implementarem alguns projetos paisagísticos ou elementos pontuais como telhados verdes, apresentando-se, ironicamente, como empreendimentos sustentáveis.
A luta contra a crise climáticas exige compromissos e ações genuínas de profissionais, empresas e governos, o que inclui os arquitetos e suas produções. É crucial estarmos atentos para reconhecer e expor estratégias falsas de descarbonização que servem apenas como táticas de greenwashing na arquitetura, assim como promovermos práticas transparentes e medidas mais sustentáveis no campo, contextualizadas e cuidadosas, para que possamos trabalhar em direção a um futuro mais equilibrado e menos nocivo para nós mesmos.