Atrium Ljungberg divulgou o Stockholm Wood City na Suécia, o maior projeto de construção urbana em madeira do mundo, e na Noruega, há apenas quatro anos atrás, o escritório Voll Arkitekter terminou a construção da Torre Mjøstårnet do Lago Mjøsa, um dos edifícios de madeira mais altos do mundo com 18 andares. No outro extremo do planeta, o projeto Tamango de Tallwood Architects é um exemplo dos desafios e oportunidades da construção em madeira no Chile, pois poderia ser o primeiro edifício de 12 andares com estrutura de madeira pré-fabricada da América Latina.
No Peru, por sua vez, o projeto Construye para Crecer de da Poggione+Biondi Arquitectos, venceu a XIX Bienal Nacional de Arquitetura 2022 com um conjunto residencial a ser construído principalmente em madeira. Mais para o sul, o Uruguai concluiu recentemente seu concurso de habitação social em madeira no caminho para a inovação na arquitetura de interesse social e, em 2020, Vicente Guallart foi o vencedor de um concurso internacional que buscava definir os padrões para edifícios em uma nova cidade na China. O projeto, intitulado A Cidade Autossuficiente, já era um projeto que concretizava um novo modelo urbano feito de madeira em quatro quarteirões.
Em todo o mundo, vemos que a sustentabilidade e a inovação na construção estão em constante evolução, e as estruturas de madeira são apresentadas como uma opção promissora. O ArchDaily apresentou o tema O Futuro da Madeira e não quis perder a oportunidade de abrir a discussão com um convite para explorar junto com vocês, nossos queridos leitores, e ouvir suas previsões e pensamentos relacionados ao futuro desse material na arquitetura e no urbanismo. A madeira é a chave para um futuro urbano mais sustentável e habitável? Ou há desafios que precisamos enfrentar antes de adotar essa tendência? Quais são as implicações para a arquitetura, as cidades, a economia e o meio ambiente?
Depois de analisar uma imensa quantidade de comentários e opiniões, encontramos um consenso a favor do uso da madeira em termos de menor emissão de carbono, eficiência e estética; e contra em termos de resistência ao fogo e a pragas, durabilidade e impacto ambiental. Confira abaixo os principais pontos de vista.
A favor: menor emissão de carbono, eficiência e estética
O uso da madeira na construção urbana pode representar uma decisão sustentável e voltada para o futuro. Esse material não só pode dar um toque estético e acolhedor às nossas cidades, como também pode contribuir significativamente para a redução da pegada de carbono do setor de construção. A madeira é um recurso renovável e, se cultivada de forma eficiente, seu uso em edifícios pode reduzir as emissões de carbono durante a fabricação e a construção, além de proporcionar excelente eficiência energética. Portanto, a madeira pode ser uma opção importante na criação de ambientes urbanos mais sustentáveis e atraentes para as gerações atuais e futuras.
"As cidades de madeira representam uma perspectiva empolgante na evolução da arquitetura urbana. A tendência de construções sustentáveis e ecologicamente corretas está impulsionando a pesquisa e o desenvolvimento desse material renovável. A madeira não só é mais ecológica do que outros materiais de construção, como também pode oferecer um ambiente mais quente e humano. A capacidade de misturar o antigo com o moderno em projetos de madeira acrescenta um charme especial às cidades e pode promover uma maior conexão entre as pessoas e seu ambiente. À medida que avançamos em direção a uma sociedade mais consciente em relação ao meio ambiente, as cidades de madeira podem, sem dúvida, se tornar uma revolução urbana que melhora a qualidade de vida e reduz a pegada ecológica", diz Lisset, uma estudante de arquitetura do Peru.
Do mesmo país, Horacio Núñez, arquiteto, escreve: "Está claro que a madeira continuará a ser uma opção importante para nossas moradias, cidades e infraestrutura; no entanto, será necessário diversificar as opções tecnológicas (espécies/componentes), de acordo com a heterogeneidade cultural e climática, bem como a escala da demanda global e seus impactos".
Contra: resistência ao fogo e pragas, durabilidade e impacto ambiental
Apesar de seus atributos estéticos e sustentáveis, o uso da madeira na construção urbana apresenta desafios significativos. Em comparação com outros materiais de construção, a madeira tem menor resistência ao fogo e é suscetível a pragas e fungos que podem comprometer sua integridade. Além disso, sua durabilidade a longo prazo é questionável, pois exige manutenção constante. Além disso, a extração de madeira de florestas naturais pode causar um impacto ambiental significativo se não for gerenciada de forma sustentável. Esses fatores levantam dúvidas sobre a adequação da madeira enquanto material principal na construção de cidades modernas e seguras.
Manuel Alvarez, um arquiteto colombiano, diz que "uma cidade com um grande número de edifícios de madeira é forçada a conviver com muitas espadas de Demócles: fogo, xilófagos, vetores e manutenção permanente. Se os cidadãos estiverem dispostos a conviver com isso, tudo bem. Do mesmo país, outro arquiteto comenta sobre a importância de rever "como conciliar o uso maciço de madeira como meio de arquitetura sustentável e sustentabilidade ambiental com a pressão que será exercida sobre as florestas".
Santiago Gallues Urrutia, um arquiteto espanhol, participa da conversa: "Os incêndios estão fora de controle, milhões de m2 queimados e destruídos, temos certeza do que estamos oferecendo com a madeira?". Toni Solanas, outro arquiteto do país, nos diz que "o mais sustentável é reabilitar, dar nova vida a edifícios vazios e, em seguida, construir o novo com madeira, terra ou fibras vegetais, mas não precisamos de novas cidades, edifícios residenciais ou instalações".
Da Argentina, Alicia, uma estudante de arquitetura, escreve: "Considero que a madeira é um material que foi deixado de lado ao longo dos anos, acreditando que outros materiais são capazes de realizar grandes construções. A madeira pode ser a chave para uma grande mudança em nosso estilo de vida, mas não se deve seguir uma tendência sem mais nem menos. É preciso muita pesquisa por parte dos arquitetos que optam por projetar com esses 'novos' materiais". Outro estudante do país diz: "Acredito que, com o tempo, a madeira começará a adquirir um desgaste bastante evidente devido a sua exposição contínua ao ambiente. Do ponto de vista estético, a influência do tempo pode ser considerada bonita, mas outras pessoas podem não gostar dessa aparência suja e negligenciada. E, de qualquer forma, em algum momento você precisará reformar ou trocar os módulos e assim por diante. Acho que, em termos de substituição ou reforma, você pode experimentar e deixar os módulos antigos junto com os novos, mas certamente seria necessário mobilizar muitas pessoas para recuperar as peças (pouco prático para os moradores)".
No Brasil, o estudante de arquitetura Matheus Cunha de Oliveira Bispo escreve: "Ainda estamos em um mundo onde o dinheiro impera, e hoje, no meu país, principalmente, há um mercado negro muito grande em relação à madeira. Uma vez que se torne uma tendência para o progresso sustentável, deve haver um enorme planejamento para que o desmatamento não continue a ocorrer de forma desagradável e ocorra o efeito contrário". Gunther Kiekebusch, um entusiasta da arquitetura do mesmo país, escreve: "Hoje temos uma devastação de nossas florestas, então eu pergunto: quem fornecerá a madeira, há um programa de plantação, há um programa de reciclagem?
Em resumo, o uso da madeira na construção urbana tem vantagens em termos de sustentabilidade e eficiência, mas também apresenta desafios relacionados à resistência e à durabilidade. A escolha de usa-la ou não depende de fatores como localização, tipo de construção e considerações ambientais e econômicas específicas - e aqui os arquitetos têm uma grande tarefa a investigar.
Este artigo é parte dos Temas do ArchDaily: O futuro da madeira. Mensalmente, exploramos um tema em profundidade através de artigos, entrevistas, notícias e projetos de arquitetura. Convidamos você a conhecer mais sobre os temas do ArchDaily. E, como sempre, o ArchDaily está aberto a contribuição de nossas leitoras e leitores; se você quiser enviar um artigo ou projeto, entre em contato.
