Em setembro deste ano, a cidade de Nova York vivenciou uma tempestade severa que inundou suas ruas com mais de 177 mm de água em menos de 24 horas, causando o fechamento de várias ruas, a inundação de carros e o bloqueio de ônibus. Esse evento destacou novamente a incapacidade da antiga infraestrutura da cidade de lidar com chuvas torrenciais. À medida que as mudanças climáticas se intensificam, os especialistas alertam que esses eventos se tornarão cada vez mais frequentes. Essa vulnerabilidade é especialmente preocupante em áreas urbanas densamente ocupadas, como a cidade de Nova York, onde os riscos de inundação aumentam devido à grande quantidade de superfícies impermeáveis.
Em resposta a esse desafio iminente, o Escritório de Proteção Ambiental da cidade de Nova York lançou em 2022 um plano de resiliência de longo prazo para tempestades na cidade de Nova York. Uma parte significativa do plano envolve estratégias para reduzir a quantidade de águas pluviais que entram no sistema de esgoto de uma só vez. Isso é feito por meio de projetos que usam infraestrutura cinza e verde, com a instalação de projetos que permitem a permeabilidade da água no solo, como jardins e cinturões verdes, bem como projetos que retêm a água da chuva, como fontes, tanques e lagoas secas. Os projetos específicos dos locais em seu plano piloto incluem intervenções de infraestrutura que não só proporcionariam alívio as inundações, mas também comodidades públicas e espaços abertos que podem ser usados quando não estiver chovendo.
O projeto-piloto NYCHA South Jamaica Houses foi criado como parte de um masterplan regional para tempestades de chuva intensa na parte de South Jamaica, no Queens, em resposta ao aumento das inundações causadas por tempestades. O projeto envolve a implementação extensiva de espaços públicos externos que serviriam como infraestrutura para prevenção de inundações. Além de fornecer amenidades públicas, esses espaços externos reduziriam a necessidade de criar uma infraestrutura subterrânea. O plano também inclui a implementação de bioswales (biovalas) e sugere o uso de campos esportivos, trechos de ruas e parques como parte de uma rede de intervenções para reter e drenar a água da tempestade de forma controlada. Isso significa que a água das tempestades é mantida em espaços públicos e liberada lentamente, seja por infiltração no solo ou por meio de conexões com o sistema de esgoto pluvial existente da cidade.
Copenhague enfrentou desafios semelhantes na década de 2010, quando tempestades de chuva levaram a inundações frequentes no distrito de Vesterbro. A revitalização do Enghaveparken apresentou uma oportunidade para lidar com chuvas extremas, ao mesmo tempo, em que atualizou um parque subutilizado. Projetado pela Third Nature, COWI e Platant, o parque foi adaptado para ter uma capacidade significativa de armazenamento de água da chuva, ao mesmo tempo, em que preserva sua simplicidade histórica. A escavação e a construção de um muro baixo, que também serve como banco durante períodos de seca, permitiram que o parque armazenasse até 22.000 m³ (800.000 ft³) de água da chuva. A reformulação do parque incluiu também a adição de uma série de comodidades em todo o espaço e novas experiências de lazer e interação com a água.
Outro método inovador implementado em Copenhague foi a criação de "Climate Tiles". Criados pela Third Nature, em colaboração com a IBF e ACO Nordic, eles transformam as calçadas em coletores de água em áreas urbanas densas. O sistema capta a água dos telhados e a redireciona para áreas verdes e bancos de água, o que permite que ela penetre no solo. A Third Nature, em colaboração com a Prefeitura de Copenhague, construiu um piloto em 2018, localizado no bairro de Nørrebro, em Copenhague. Essa abordagem promete não apenas gerenciar eficazmente as águas pluviais, mas também melhorar o ambiente urbano, transformando ruas cinzentas em vibrantes espaços de convivência ao ar livre.
Em Bangkok, Tailândia, o Parque Centenário de Chulalongkorn da LANDPROCESS é outro exemplo de projeto de mitigação de enchentes que serve como comodidade pública. Inaugurada em 2017, a Universidade Chulalongkorn desenvolveu 4 hectares (11 acres) de terra para servir como parque público e como infraestrutura para reduzir os riscos de inundações urbanas em uma cidade propensa a inundações. Com uma inclinação gradual de 3 graus, o parque coleta, trata e armazena água. Ele inclui telhados verdes, áreas úmidas, gramados de detenção e lagoas de retenção. Além disso, possui três tanques subterrâneos que armazenam a água da chuva dos telhados verdes para irrigar o parque. No ponto mais baixo do parque, há uma grande lagoa de retenção que, durante inundações graves, pode dobrar de tamanho para armazenar o excesso de água. Além da mitigação de enchentes, o Parque Centenário oferece uma série de áreas de uso múltiplo, incluindo um jardim de ervas, área de meditação, playground, anfiteatro natural e jardim de bambus.
À medida que os impactos das mudanças climáticas continuam a se manifestar na forma de eventos de inundações extremas, áreas urbanas ao redor do mundo devem se adaptar na luta contra as mudanças climáticas. Criar novos tipos de espaços públicos e fazer da água uma característica semipermanente do seu tecido urbano. Os exemplos apresentados aqui demonstram como essas adaptações podem não apenas servir como infraestrutura eficaz de mitigação de enchentes, mas também melhorar a qualidade de vida das comunidades em áreas urbanas densamente povoadas. Os planos de chuvas torrenciais da cidade de Nova York, espelhando os precedentes globais de "cidade-esponja", oferecem a dupla promessa de mitigação de riscos e a criação de espaços públicos mais vibrantes. Considerando a urgência da mudança climática e seus efeitos, sua rápida implementação não será apenas um benefício público imediato, mas uma necessidade iminente.