Com grandes populações vêm desafios formidáveis, especialmente no campo da saúde e saneamento. No último século, manter condições sanitárias em áreas urbanas tem sido um desafio persistente, especialmente em uma nação que abriga mais de 1,4 bilhão de pessoas. A Índia enfrenta uma infinidade de problemas — infraestrutura inadequada para saneamento, falta de banheiros públicos e práticas deficientes de gestão de resíduos. Nas cidades mais densas, a luta se intensifica à medida que o gerenciamento do saneamento e limpeza urbana se mostra deficiente. A rápida urbanização da Índia superou o desenvolvimento da infraestrutura de saneamento, e problemas sanitários se enraizaram profundamente no ambiente construído do país.
Fatores históricos, sociais, econômicos e infraestruturais influenciaram mudanças significativas no saneamento da Índia. As cidades indianas - especialmente aquelas com maior densidade populacional, pobreza e saneamento inadequado - há muito tempo são suscetíveis a doenças. Centros urbanos densos proliferam doenças em ritmo acelerado, geram resíduos e esgoto substanciais e contaminam recursos compartilhados, resultando em condições de vida insalubres.
O objetivo do saneamento básico é mitigar os riscos à saúde, gerenciando fatores dentro do ambiente urbano que podem contribuir para problemas de saúde. A importância do saneamento básico na Índia é diversa - impacta profundamente a saúde pública, a sustentabilidade ambiental e a qualidade de vida. À medida que a população urbana da Índia cresce e a urbanização progride a todo vapor, garantir condições de vida limpas e higiênicas se torna um desafio. O saneamento básico inadequado pode propagar doenças transmitidas pela água, aumentar os custos com saúde e deteriorar a qualidade de vida de milhões de pessoas. Também representa graves ameaças ambientais, como poluição da água e degradação do ecossistema. Em países muito populosos, a infraestrutura existente geralmente está sobrecarregada, levando a falhas frequentes e custos crescentes com manutenção. Há mais indianos que possuem telefones celulares do que banheiros.
Há mais indianos que possuem telefones celulares do que banheiros
O passado
O saneamento básico nem sempre foi um desafio na Índia. A nação ostenta o legado de uma das primeiras civilizações do mundo que desenvolveu um sofisticado sistema de abastecimento de água e esgoto - a Civilização do Vale do Indo da Idade do Bronze. Essa antiga civilização demonstrou uma compreensão profunda de saneamento e planejamento urbano. Suas cidades eram meticulosamente organizada em forma de grade com sistemas de drenagem bem planejados que direcionavam eficientemente as águas residuais e pluviais para longe das áreas residenciais. As casas possuíam banheiros privativos e sistemas de drenagem, enquanto poços públicos e plataformas para banho eram estavam em todos os lugares, revelando um compromisso comunitário com a limpeza e saúde.
Uma fase crucial na história do saneamento da Índia evoluiu durante o domínio colonial. A partir do meio do século XIX, a saúde pública ganhou destaque nas cidades da Europa Ocidental. A Índia britânica espelhou essa preocupação, resultando na demolição em larga escala de habitações superlotadas e de baixa qualidade em cidades como Delhi. Embora supostamente impulsionada por interesses de saúde pública, acredita-se que mais de um terço da transformação de Delhi tenha sido uma tática britânica de afirmação de controle.
Antes do domínio imperial, princípios indígenas orientavam práticas de saneamento, saúde e meio ambiente nos assentamentos indianos. A infraestrutura tradicional e os sistemas de saúde desempenharam um papel integral na moldagem do ambiente construído. Com o início da municipalização, os administradores britânicos abraçaram a reforma sanitária e a remodelação da infraestrutura, incluindo drenagem, abastecimento de água e descarte de resíduos, em sua busca para transformar as cidades indianas em metrópoles modernas no estilo ocidental. Os esforços de saneamento básico na Índia refletiram os princípios do movimento britânico de saúde pública. As cidades indianas foram remodeladas, e a infraestrutura sanitária existente foi preterida por soluções ocidentais.
O presente
Hoje, as cidades indianas continuam dependendo de infraestrutura de saneamento básico modernizada, e não conseguem atender às necessidades de uma população em crescimento. A rápida urbanização sobrecarregou a infraestrutura urbana e as instalações de saneamento existentes. Os municípios do país, com dificuldades financeiras, além da escassez de gestores urbanos qualificados, continuam mal equipados para enfrentar este problema. Dados do censo revelam que cerca de 46% dos domicílios indianos não possuem banheiros internos, e 49% da população defeca ao ar livre. A população restante depende de banheiros públicos. 40% dos resíduos da Índia permanecem não coletados e não tratados, com esgoto humano fluindo diretamente para rios em muitas cidades.
A desigualdade de renda na Índia agrava esses problemas, pois as comunidades mais pobres geralmente não têm acesso a instalações de saneamento básico. Isso, por sua vez, resulta na eliminação não regulamentada de resíduos e em condições de vida precárias. Embora a sociedade indiana valorize a higiene nas famílias, a maioria dos espaços públicos padece da falta de higiene cívica, uma vez que são considerados espaços impessoais.
A pandemia do COVID-19 em 2020 trouxe o tema do saneamento básico para o centro das discussões públicas. As áreas urbanas densamente povoadas da Índia enfrentaram desafios únicos na luta contra o vírus, evidenciando as falhas nos sistemas e práticas de saneamento. Além disso, a pandemia ressaltou a desigualdade e a insustentabilidade intrínsecas ao processo de urbanização do país, o que serviu como um lembrete claro da vulnerabilidade dos habitantes urbanos a doenças respiratórias devido aos altos níveis de poluição do ar no país.
As reformas governamentais tiveram um impacto positivo no progresso das instalações de saneamento básico. A pandemia acelerou a adoção de tecnologia no saneamento básico. Agora, banheiros sem contato, sensores automáticos em banheiros públicos e a aplicação da análise de dados para monitorar e manter as estruturas de saneamento são mais comuns.
Em 2014, o governo indiano lançou a Swachh Bharat Abhiyan (Campanha Índia Limpa), um programa com orçamento de 10 bilhões de dólares com o objetivo de melhorar as instalações sanitárias em todo o país. A campanha visava eliminar a prática de defecação ao ar livre através da construção de mais banheiros, aprimoramento de métodos de descarte de resíduos e educação da população sobre a importância da relação entre saneamento e saúde pública. Sendo a maior campanha de saneamento do mundo, a Swachh Bharat Abhiyan resgatou conhecimentos indígenas sobre saúde e saneamento que haviam sido negligenciados durante o período colonial. A mudança de comportamento desempenhou um papel crucial no saneamento básico na Índia, e a abordagem localizada da campanha obteve sucesso nesse aspecto.
Um aspecto crítico do futuro do saneamento urbano na Índia gira em torno da mudança de comportamento, onde estratégias localizadas têm se mostrado eficazes. Dados do governo revelam progressos significativos no saneamento em toda a Índia, incluindo a construção de mais de 100 milhões de casas com banheiros nas zonas rurais, mais 6 milhões em zonas urbanas e quase 6 milhões de banheiros comunitários públicos nas regiões urbanas. Este esforço coletivo fez com que mais de 4.234 cidades e mais de 600.000 aldeias alcançassem o status de livre de fecalismo a céu aberto.
Saneamento é mais importante que a independência política - Mahatma Gandhi
O futuro
Embora os avanços da Índia no campo do saneamento sejam inegáveis, o caminho a seguir ainda é desafiador. Muitas vezes, os recursos públicos são direcionados para as maiores cidades, em parte devido à sua visibilidade. No que diz respeito às questões de saneamento, o país necessita de uma abordagem que leve em consideração o contexto das áreas urbanas e rurais. Atualmente, a Índia apresenta uma melhora drástica em termos de limpeza urbana e instalações sanitárias, à medida que a conscientização e o interesse se espalham.
Num mundo urbanizado, as cidades desempenham um papel fundamental na construção de futuros saudáveis. Cidades bem gerenciadas, com serviços aprimorados, contribuem de forma significativa para a saúde, a governança, a limpeza ambiental, a dignidade e o crescimento econômico. Além de beneficiar a saúde e o meio ambiente, o saneamento urbano auxilia no desenvolvimento e no planejamento urbano, atraindo investimentos e promovendo um sentimento de bem-estar entre a população urbana. Iniciativas do governo, como o Swachh Bharat Abhiyan, destacam a importância do saneamento básico na agenda nacional de políticas e seu papel fundamental em garantir a qualidade de vida urbana para os cidadãos.
A batalha da Índia pelo saneamento urbano decorre de uma complexa combinação de fatores históricos, econômicos, sociais e ambientais. Enfrentar essas questões multifacetadas exige uma abordagem abrangente que inclui desenvolvimento de infraestrutura, campanhas de conscientização, envolvimento da comunidade e iniciativas governamentais.
This article is part of an ArchDaily series titled India: Building for Billions, where we discuss the effects of population rise, urbanization, and economic growth on India’s built environment. Through the series, we explore local and international innovations responding to India’s urban growth. We also talk to the architect, builders, and community, seeking to underline their personal experiences. As always, at ArchDaily, we highly appreciate the input of our readers. If you think we should feature a certain project, please submit your suggestions.
