A ONU-Habitat, Programa da Organização das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, é encarregada de questões relativas à habitação e ao desenvolvimento urbano de maneira mais adequada em todo o mundo. Desempenha um papel fundamental ao abordar questões urbanas globais, trabalhando para melhorar a qualidade de vida, enfrentar desafios como a rápida urbanização e a falta de moradia, e promover práticas de planejamento urbano que sejam socialmente mais inclusivas e ecologicamente responsáveis. Em 2022, lançou o projeto "Conexões Urbanas - Planejamento de Espaços Públicos para Comunidades Inclusivas", iniciativa importante da organização, que pretende promover o fortalecimento dos governos locais através do planejamento e desenho urbano participativo de espaços públicos.
Em um mundo cada vez mais urbanizado, onde a maioria da população já reside em áreas urbanas, a necessidade de criar cidades mais habitáveis e socialmente integradas nunca foi tão urgente. O projeto Conexões Urbanas reconhece a importância vital dos espaços públicos como locais de encontro, interação social e expressão cultural, e sua missão é transformar esses espaços em ambientes mais inclusivos, acessíveis e vibrantes. Uma de suas principais estratégias é promover uma abordagem participativa, que envolve uma colaboração entre os residentes, autoridades e especialistas, facilitando discussões significativas sobre as necessidades locais, identificando desafios específicos e criando soluções inovadoras, que reflitam as aspirações e valores das comunidades envolvidas.
Com duração de dois anos, o projeto se propôs a trabalhar com metodologias participativas, com a capacitação de autoridades e lideranças locais, e revisar algumas políticas públicas, especialmente migratórias e urbanas, em cidades do Brasil, Argentina, Paraguai e Líbano. Na América Latina, também há um destaque para as relações e dinâmicas fronteiriças entre alguns desses municípios, que foram divididos em dois grupos de atuação. São eles: Barracão (Paraná/Brasil), Bom Jesus do Sul (Paraná/Brasil), Dionísio Cerqueira (Santa Catarina/Brasil) e Bernardo de Irigoyen (Argentina); e Foz do Iguaçu (Paraná/Brasil), na tríplice fronteira entre o Brasil, Paraguai e Argentina, e Ciudad del Este (Paraguai).
Em março de 2023, o Conexões Urbanas realizou oficinas de metodologia de Desenho de Espaços Públicos em duas escolas de Barracão, no Brasil, e Bernardo de Irigoyen, na Argentina. O projeto envolveu vinte e quatro crianças brasileiras e argentinas, entre 9 a 14 anos, que por meio de oficinas foram incentivadas a pensar em soluções para os espaços públicos que desejavam. A ONU-Habitat compartilha técnicas descomplicadas de urbanismo e cartografia, e é apresentado aos jovens um repertório de soluções diversas, a partir do qual eles adaptam, rejeitam ou adotam ideias. Mesmo diante de realidades distintas, a produção dos grupos resultou num olhar conjunto para o mesmo território, compartilhado pelas duas nacionalidades.
No Brasil, as crianças focaram em melhorias para o bairro industrial de Barracão, uma área afastada do centro, propondo parques infantis, quadras esportivas e medidas para tornar as ruas mais seguras para caminhar. Do lado argentino, as oficinas concentraram-se em uma praça próxima à região fronteiriça, de grande potencial, com sugestões como uma escola de robótica, uma escola de inteligência artificial, espaço para piquenique e ainda a despoluição de um riacho próximo, visando atender a diversas necessidades e afinidades das comunidades envolvidas. As opiniões das crianças foram positivas, segundo relatos delas mesmas:
Eu gostei muito que foi a gente que fez esse projeto, e que ele vai sair do papel para virar uma praça mesmo. A gente vai estar lá quase todo dia brincando. É uma coisa que vai ficar de verdade. — Ana Carolina Chiogna, aluna do 5º ano que participou das oficinas
E ainda:
Foi muito divertido, nunca me imaginei fazendo tudo isso. A gente propôs um lugar para brincar perto do riacho e uma quadra de futebol para podermos fazer campeonatos. — Yeniffer, aluna de 11 anos
Após as oficinas, a equipe coordenadora apresentou os projetos urbanísticos, desenvolvidos a partir das sugestões das crianças, às comunidades locais. Foi elaborado um relatório que destaca o resultado das oficinas, falando sobre a metodologia que guiou os alunos na reflexão sobre os espaços públicos e os orientou em suas proposições. Ele também documenta o desfecho das intervenções, com os projetos resultantes, e foi compartilhado com as prefeituras, visando a continuidade da ação. Isso não apenas melhora a estética dos espaços públicos, mas também contribui para o desenvolvimento econômico, promove a inclusão social e melhora a qualidade de vida urbana.
O projeto Conexões Urbanas não trata simplesmente de projetar praças ou parques urbanos, mas de construir laços mais fortes entre as pessoas e suas cidades, promovendo uma cultura de participação ativa e cidadania responsável — o que, muitas vezes, inclui os municípios vizinhos e fronteiriços. Ao empoderar as comunidades a participarem do planejamento de seus próprios espaços públicos, o projeto não apenas transforma a paisagem, mas também transforma a vida dos cidadãos, criando cidades mais inclusivas, sustentáveis e resilientes para as gerações futuras.