Em meio à crise ambiental que enfrentamos atualmente, a bioeconomia tem ganhado destaque em diversas áreas, o que inclui o setor da construção civil e seus esforços para tornar-se mais sustentável. Esse pensamento também trouxe reverberações para o campo da arquitetura de interiores, e assim, à medida em que a consciência sobre as mudanças climáticas e a necessidade de preservar nosso planeta aumentam, os arquitetos e designers têm recorrido aos biomateriais, elaborando espaços que não apenas encantam visualmente, mas que também têm um compromisso positivo em relação ao meio ambiente.
Biomateriais são aqueles de origem natural e que tem uma ampla gama de utilizações na arquitetura e na construção civil, podendo compor desde elementos estruturais a mobiliários e itens decorativos. No cenário da arquitetura de interiores, esses materiais tornam-se não apenas escolhas estéticas de um projeto, mas podem atestar um compromisso maior com a natureza. Cada textura e cada padronagem natural podem oferecer soluções e possibilidades para criar espaços esteticamente atraentes e ecologicamente mais responsáveis.
Dentre muitos exemplos, podem ser citados materiais como o bambu, uma alternativa versátil e sustentável, amplamente utilizado em pisos, móveis e acessórios, devido à sua rápida taxa de crescimento e resistência mecânica impressionante. A cortiça, derivada da casca do sobreiro, não só confere um toque natural e acolhedor aos interiores, mas também é conhecida pelas suas propriedades acústicas e durabilidade. A palha natural, com sua textura orgânica, pode ser empregada em paredes, móveis e tetos, criando uma atmosfera autêntica nos espaços. Já a pedra natural oferece uma elegância atemporal aos ambientes, ainda sendo um material extremamente durável.
Esses materiais não apenas proporcionam mais aconchego aos projetos, mas também estabelecem uma sensação de maior conexão com a natureza, eixo central de discussão da biofilia, que entende que a presença de elementos naturais nos espaços pode melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas. Ao incorporar biomateriais nos projetos de interiores, os ambientes ganham uma sensação de maior autenticidade e calor, que acolhe e envolve seus ocupantes, podendo ainda incentivar um maior respeito pela natureza e uma apreciação renovada pelo que ela nos oferece.
Ao adotar biomateriais, os designers não apenas reduzem a pegada ecológica de seus projetos, mas também enriquecem as experiências dos ocupantes dos espaços. Estes materiais não apenas embelezam os interiores, mas mostram que é possível aliar design inovador e responsabilidade ambiental de maneira harmoniosa, acolhedora e inspiradora. A seguir, selecionamos cinco exemplos de biomateriais utilizados em projetos de interiores:
Bambu
Já conhecido por suas propriedades construtivas e estruturais, em projetos de interiores o bambu pode ser utilizado de diversas maneiras. Sua maleabilidade o torna ideal para a criação de uma série de objetos personalizados, a partir da possibilidade de moldá-lo em diferentes formas, permitindo que os arquitetos e designers explorem uma infinidade de desenhos, combinações e texturas com o mesmo material.
Pedra natural
Para além de considerar as pedras como elementos construtivos, atualmente, elas são mais comumente empregadas como elementos de revestimento. As pedras brutas, como vimos nos exemplos acima, são uma forma de se inserir texturas naturais na arquitetura. Outra opção é utilizar pedras brutas, porém cortadas em peças, como é o caso desta casa na Espanha projetada pelo Hiha Studio, que usa o contraste entre a madeira, a parede de taipa, a parede de tijolo, o vidro e as pedras naturais do piso para atingir um resultado harmônico.
Cortiça
A cortiça desempenha um papel fundamental, sendo um material macio ao toque, é ideal para criar um ambiente propício e seguro para as crianças. Sua textura ideal permite que as crianças brinquem em silêncio, escalando, pulando e explorando. Além disso, a cortiça cria um ambiente acolhedor e atraente graças aos seus tons quentes de laranja e amarelo.
Palha natural
A palha refere-se aos caules secos ou caules de culturas de cereais, como trigo, arroz , cevada e aveia, que são colhidas após a remoção do grão. Esse material pode se tornar um ator chave na descarbonização da indústria da construção, sendo vantajoso em comparação a muitos outros materiais por ser um recurso renovável e biodegradável. Como a palha é um subproduto agrícola amplamente disponível, construir com ela libera menos carbono se comparado à compostagem ou queima do material. Além disso, a palha evita procedimentos de fabricação complexos e reduz significativamente o consumo de energia para produção e transporte, minimizando efetivamente a sua pegada de carbono.
Cânhamo
No campo dos materiais de construção sustentáveis, o cânhamo emergiu como um forte concorrente. Trata-se de um recurso renovável e biodegradável amplamente disponível por meio do cultivo. Suas propriedades isolantes e acústicas, aliadas à sua capacidade de regular os níveis de umidade, tornam-no uma escolha ideal para projetos de construção. O "hempcrete" é resistente a pragas, deterioração e mofo, e absorve e armazena ativamente dióxido de carbono na atmosfera. Os tijolos de cânhamo proporcionam estabilidade e isolamento acústico impressionante, enquanto seu efeito ionizante permite a remoção de poeira fina, fungos e bactérias do ar circundante. Com propriedades não tóxicas, os materiais à base de cânhamo promovem ambientes internos mais saudáveis.