Há e sempre existiram mulheres arquitetas, planejadoras e políticas urbanas inspiradoras, mas em todo o mundo, as profissões de ambiente construído – e em particular seus escalões superiores – permanecem fortemente dominadas por homens, mais do que outras esferas, como educação ou saúde.
Hoje, 64% dos arquitetos formados no Brasil são mulheres. Na Engenharia, houve um aumento de 42% no número de mulheres registradas no CREA desde 2016. Mas, onde estão esses reflexos na sociedade brasileira? No mundo o processo é mais lento. Temos apenas 40% de mulheres arquitetas e pouquíssimas nos papéis de líderes.
De muitas maneiras, a arquitetura é uma profissão que tem sido o epítome do patriarcado branco dominante, da maioria dos famosos arquitetos à obsessão muito frequente por edifícios que são mais conhecidos pela beleza do objeto do que a qualidade de vida que eles possibilitam. — Liz Ogbu
Aqui listamos alguns nomes de mulheres arquitetas que merecem serem conhecidas e estão fora do eixo ocidental e branco dominante na maioria das menções mundo afora.
Yasmeen Lari
Nascida em Dera Ghazi Khan, Paquistão, Lari se mudou para o Reino Unido com sua família aos 15 anos e passou a estudar arquitetura na Oxford Polytechnic, que agora é a Oxford Brookes University. Aos 23 anos, ela voltou para Karachi, no Paquistão, e abriu seu estúdio Lari Associates, que teve sucesso na criação de vários escritórios e projetos habitacionais.
Isso inclui o primeiro esquema de habitação pública do Paquistão, o projeto Anguri Bagh e edifícios históricos, como o Finance and Trade Center e a Pakistan State Oil House em Karachi.
No entanto, foi seu trabalho focado na criação de edifícios de baixo impacto para as comunidades marginalizadas do Paquistão que chamou a atenção global. 50.000 abrigos autoconstruídos sustentáveis e mais de 80.000 fogões ecológicos.Desde sua “aposentadoria” em 2000, ela se dedicou à fundação e às causas humanitárias.
Lari é uma defensora da utilização de materiais tradicionais, incluindo lama, cal e bambu. Ela já afirmou que o uso de “sabedorias e técnicas antigas” pode levar a edifícios neutros em carbono.
Sumaya Dabbagh
Crescendo numa época em que era ilegal as mulheres serem arquitetas na Arábia Saudita, Sumaya Dabbagh é uma das poucas mulheres sauditas que dirigem estúdios de arquitetura de longa data no Golfo.
Ela teve que deixar o país para estudar arquitetura, antes de retornar à região e fundar seu estúdio nos Emirados Árabes Unidos, onde projetou uma série de edifícios culturais. Estas incluem o Centro Arqueológico Mleiha, Sharjah, e a Mesquita de Mohammed Abdulkhaliq Gargash, no Dubai – uma das poucas mesquitas proeminentes do mundo concebida por uma mulher.
Com as mulheres agora capazes de praticar arquitetura na Arábia Saudita, Dabbagh está trabalhando em diversas comissões culturais. Segundo ela, a comunidade perde quando um segmento da população é o grande responsável pela construção das nossas cidades.
Suhailey Farzana
A maioria das arquitetas mulheres partilha uma profunda preocupação com a igualdade no ambiente construído – e não construído – e o poder da arquitectura para facilitar isto é mais visível nas regiões do chamado Sul Global.
Em Bangladesh, por exemplo, Suhailey Farzana é cofundadora da Co.Creation.Architects, uma prática que responde às necessidades da comunidade local, em particular das mulheres, permitindo-lhes trabalhar para a renovação do seu ambiente partilhado. Em um de seus projetos, melhorou a ecologia local como parte da Rede Popular da Cidade de Jhenaidah.
Farzana descreve o trabalho em que está envolvida como muito orgânico, co-projetando e co-criando com comunidades que geralmente autofinanciam qualquer construção que ocorra. Farzana enxerga o futuro liderado pela comunidade e feito em conjunto com várias mãos e não só mãos masculinas.
Mariam Issofou Kamara
Seja convertendo uma mesquita num centro comunitário em Dandaji, construindo um mercado colorido na mesma aldeia ou o famoso Centro Cultural Niamey na capital do país, a arquiteta nigeriana Mariam Issofou Kamara demonstra uma filosofia coerente criando uma arquitetura localmente focada e materialmente sensível.
Mariam quer criar uma forma universal de trabalhar que produza resultados completamente diferentes dependendo de onde você está. Isto inclui atenção às condições locais – o que está disponível localmente, quais são as competências locais e qual é a história local – para depois ter um processo que pode acontecer em qualquer lugar.
O gatilho para a filosofia de Kamara foi compreender o impacto que a arquitetura pode ter nas comunidades locais. “Eu queria que tudo fosse local”, explicou ela. ‘Eu não queria trabalhar em projetos com olhos que vinham de fora do lugar.’
Anupama Kundoo
Radicada em Auroville, uma inovadora ecovila localizada no sul da Índia, a arquiteta indiana Anupama Kundoo utiliza técnicas de construção artesanais e materiais simples como cerâmica, palha e taipa; para projetar edifícios totalmente singulares focados em trazer o bem-estar sem agredir o meio ambiente.
Após se formar na faculdade de arquitetura em 1989, Kundoo deixou para trás a frenética Mumbai, a maior cidade da Índia, e passou vários anos pesquisando formas de construção e artesanato na Índia rural e se estabeleceu em Auroville, uma ecovila pioneira no sul do país.
A arquitetura de Kundoo gira em torno das tradições artesanais e das técnicas comunitárias de construção. Seus edifícios costumam priorizar peças feitas à mão montadas por artesãos locais, ao invés de métodos de produção em massa. Combinando materiais modernos com as habilidades das comunidades artesanais, ela lança mão de matérias-primas como madeira, palha, taipa, casca de coco, argila, cerâmica, entre outras,, para erguer construções que atendam às necessidades climáticas, ecológicas e socioeconômicas de cada lugar.
Em 2021, Kundoo ganhou o célebre prêmio Auguste Perret 2021 de tecnologia aplicada à arquitetura por seu uso inovador de técnicas de construção locais, pesquisa de materiais e trabalho alinhado com o meio ambiente, o clima e a cultura.
Kotchakron Voraakhom
Inundações, alagamentos, cidades construídas em cima de mangues ou no nível do mar.Todos esses problemas tão brasileiros também são comuns em países tropicais como a Tailândia, terra de Kotchakron Voraakhom.
De tanto ver Bangkok, sua cidade natal, inundada quando chovia, Kotchakron decidiu que queria trabalhar com isso.
Hoje ela é diretora executiva da Porous City Network, uma empresa social que busca aumentar a resiliência urbana no Sudeste Asiático. É também a fundadora da Koungkuey Design Initiative, que trabalha com comunidades para reconstruir espaços públicos.
Seu mais famoso projeto, a fazenda urbana da Universidade de Thamassat, urbaniza a agricultura em terraços permitindo que a água da chuva ziguezaguei a encosta enquanto é colhida para alimentar uma horta gigante no meio da cidade.
Via Tabulla.