Em 1993, um jovem casal com dois filhos pequenos e um amplo terreno nos arredores de Naarden, cidade a menos de meia hora de carro a sudeste de Amsterdã, contratou Ben van Berkel para projetar uma casa incomum. Eles buscavam algo progressista e inovador em todos os aspectos. Mais do que isso, queriam um tipo de construção "que fosse reconhecida como referência na renovação da linguagem arquitetônica". Antes de optarem pelo arquiteto, conversaram com diversos profissionais, incluindo Rem Koolhaas. Optaram por van Berkel, que, cinco anos antes, havia fundado seu escritório em conjunto com sua então esposa, Caroline Bos. "Visitei o local e o estudei cuidadosamente, já tinha ideias sobre o que chamei de quatro quadrantes da paisagem. Sabia que tipo de casa seria. Podia ver claramente onde ficariam os diferentes cômodos, como seriam formados e como se relacionariam entre si", comenta o arquiteto.
O casal não resistiu. Porém, não houve pressa no projeto, que levou cinco anos para ser concluído, sendo que a maior parte do tempo foi investida em seu projeto, passando por muitas iterações e refinamentos, todos inspirados no conceito da fita de Möbius.
Quando a casa foi concluída em 1998, os arquitetos relançaram seu escritório como UNStudio, tornando-se um dos escritórios mais renomados do ramo. Naturalmente, batizada de Casa Möbius, a residência tornou-se uma sensação instantânea. Foi amplamente divulgada e, no ano seguinte, foi incluída em uma importante exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York, intitulada "The Un-Private House". O curador da exposição, Terence Riley, a descreveu da seguinte forma: "Este loop arquitetônico produz uma continuidade e integração de áreas sociais e trabalho. A parte externa de concreto e vidro da casa, também parece se dobrar sobre si mesma: de uma perspectiva, o vidro é uma pele sobre uma casa de concreto; de outra, o edifício é uma casa de vidro emoldurada por concreto."
Embora o projeto seja um dos menores da carreira de van Berkel, provou ser seu trabalho mais importante, um manifesto de certa forma. Serviu-lhe como um modelo organizacional que ele mais tarde empregou em muitas de suas criações maiores. "Ainda acredito que a arquitetura precisa ser definida por seus princípios organizacionais - a maneira como você experimenta a arquitetura, como a percorre e como se desdobra diante de você é essencial. Nunca acreditei na criação de imagens apenas pelo lado de fora. A arquitetura precisa surgir de sua organização espacial", explicou.
A casa também refletia o seu tempo, quando o escritório adquiriu seu primeiro computador especificamente para trabalhar no projeto. Apesar dos croquis iniciais terem sido feitos à mão e os modelos feitos manualmente, quando os desenhos técnicos foram desenvolvidos, em 1995, os computadores já estavam em uso. O projeto paramétrico ainda estava em seus estágios iniciais. Em 1995, a Universidade de Columbia iniciou seu famoso estúdio sem papel. Van Berkel lecionava lá com Hani Rashid, Stan Allen, Greg Lynn, Jesse Reiser e Alejandro Zaera-Polo. As ferramentas de modelagem 3D ainda não estavam disponíveis comercialmente e precisavam ser desenvolvidas pelos escritórios. Van Berkel estava entre os pensadores arquitetônicos da nova geração. Ele explicou: "Começamos esse diálogo: Quais novas ferramentas poderiam ser usadas para trazer novos efeitos visuais para a arquitetura? Como essas ferramentas poderiam estimular e visualizar o novo papel de um arquiteto contemporâneo? Como poderiam dar novas liberdades criativas aos arquitetos? Como poderiam ser alcançados novos efeitos espaciais? Isso é o que você pode desfrutar no projeto da Casa Möbius, que conceitualmente é uma casa que antecipou as ferramentas de modelagem computacional 3D e foi refinada assim que essas ferramentas se tornaram disponíveis."
Ouvir van Berkel me levou de volta a uma conversa que tive com Rashid em 2015, o que ajuda a entender melhor a energia criativa na Columbia naquela época. Ele afirmou com paixão: "Éramos jovens arquitetos rebeldes, mudando o mundo. Estávamos obcecados em fundir desenho e modelagem em uma única entidade. Nossa busca se tornou desenhar um modelo e modelar os desenhos. As novas ferramentas digitais nos permitiram exatamente isso." O espírito de experimentação estava no ar. Poucos anos depois, o Guggenheim Bilbao de Frank Gehry explodiu as expectativas mais audaciosas sobre que tipo de arquitetura era possível. Asymptote Architecture, Zaha Hadid Architects, Coop Himmelb(l)au, Reiser + Umemoto, Foreign Office Architects e NOX estavam entre os pioneiros que usaram o projeto paramétrico para alcançar complexidade inovadora.
"Foi um momento muito emocionante. Estávamos brincando e testando como o design computacional poderia ser manipulado por variantes paramétricas. Foi um momento muito especial para o design paramétrico, muito novo e muito promissor", disse-me van Berkel. Perguntei a ele sobre a origem da ideia de incorporar a fita de Möbius na casa. De onde ela veio? Ele respondeu: "Do meu interesse em matemática, ciência, teoria da complexidade, teoria do caos e superfícies topológicas".
VB: A Casa Möbius foi o primeiro projeto em que você utilizou a fita de Möbius?
BB: Foi. Mais tarde, foi usada repetidamente. O Museu Mercedes-Benz em Stuttgart foi talvez o exemplo mais conhecido.
VB: Quais são seus momentos favoritos na casa?
BB: Eu gosto especialmente de uma viga em balanço sobre a entrada, pois ela leva ao quarto principal. Esse é o momento de suspensão em que a paisagem se abre de uma maneira espetacular. De repente, você entra na paisagem através da casa.
VB: Há algo mais que você queira adicionar?
BB: Sabe, no passado, a arquitetura experimentou fenômenos como os "Cinco de Nova York", o Pós-Modernismo ou o Desconstrutivismo. Acho que os desconstrutivistas foram os últimos arquitetos a serem reconhecidos como um grupo com ideias semelhantes. Mas e os arquitetos paramétricos? Também tivemos nosso momento. No entanto, nunca fomos retratados como um movimento. Talvez isso ainda possa acontecer, em retrospecto.
