Arup explica: Como o vencedor do MoMA PS1 criou tijolos feitos a partir de fungos

Descubra nesse artigo como o projeto vencedor do MoMA PS1 (torres de tijolos biodegradáveis), concebido por David Benjamin do The Living, foi testado e construído. Esse texto foi originalmente publicado na como "Engineering a mushroom tower".

Macios, esponjosos e deliciosos na pizza, os cogumelos - fungos - têm aproximadamente tanto em comum com a engenharia estrutural quanto jacarés ou cortadores de grama. Ou era assim que pensávamos até que o arquiteto David Benjamin, da firma The Living, de Nova Iorque, entrou em nossos escritórios com um tijolo produzido a partir de fungos.

Este tijolo era a chave para sua proposta na competição do Young Architects Program do MoMA PS1. Todos os anos o museu elege um arquiteto para construir um elemento central para sua série de apresentações musicais Warm Up.

Se concursos de arquitetura são a oportunidade para as idéias mais ousadas e inovadoras aparecem, a torre de fungos do The Living ( intitulada Hy-Fi) cumpriu com todos os pré-requisitos. Além do fator novidade, os tijolos de cogumelo oferecem uma série de benefícios de sustentabilidade. As matérias-primas necessárias para sua produção - fungos e talos de milho (os resíduos de fazendas) - são tão sustentáveis como parecem ser. Os tijolos podem ser cultivados em apenas cinco dias e o processo não produz resíduos nem emite carbono. Quando a estrutura for desmontada, no fim do verão, eles poderão ser compostados e transformados em adubo.

Novas fronteiras

A inspiração de David surgiu a partir da Ecovative, uma empresa fundada para desenvolver usos econômicos e práticos para os cogumelos. Um fungo fibroso microscópico se conecta à sua fonte de alimento para criar uma matriz forte, resistente, da forma que for desejada: embalagens para os computadores Dell, por exemplo. Ecovative havia cultivado um tijolo feito a partir deste composto de fungos e o The Living queria nossa ajuda para descobrir como usá-lo.

Os projetos competidores devem apresentar ideias avançadas e ao mesmo tempo ter consciência de seu real potencial - exatamente o tipo de desafio que os engenheiros da Arup adoram. Para este trabalho em particular, a diversão de resolver um problema difícil foi acompanhado pelo prazer de colaborar com ótimos parceiros como The Living e Ecovative.

© Arup

Primeiros Passos

Em nosso primeiro encontro precisávamos realizar um teste para ver o que o tijolo de fungos poderia realmente fazer. Seria resistente o bastante para construir um projeto vencedor?

Na fase inicial, não tínhamos o luxo de um laboratório de testes formais.A conclusão - "Sim, é possível" - veio após ficarmos em pé sobre o tijolo, para então calcularmos a sua resistência com base no peso do engenheiro.

Com isso resolvido, a próxima grande decisão foi a forma da estrutura. Se você quer construir muros altos e fortes, as curvas são suas amigas. Nós, portanto, sabíamos que, arcos, tubos e abóbadas seriam a linguagem básica do projeto. Com a recordação  do furacão Sandy ainda fresca, também sabíamos que precisávamos de uma base larga para lidar com os esforços do vento.

© Arup

Usando os resultados do "teste empírico" calculamos que uma chaminé de 12 metros de altura funcionaria como base da proposta. Com a evolução do projeto, uma chaminé se tornou três e, finalmente, uma torre de três chaminés.

A essa altura estávamos confiantes de que poderíamos vencer a competição e de que a estrutura poderia ser construída a tempo para a inauguração em junho.

Tornando realidade

Após o júri ter anunciado a vitória do The Living tivemos que nos aprofundar na ciência necessária para tirar o projeto do papel. Comprometidos com os 12 metros de altura, tivemos que descobrir como fazer isso acontecer.

Os testes eram o centro do projeto de engenharia. Os resultados nos ajudariam a moldar os tijolos, escolher a forma de organizá-los e como conectá-los. Mais importante, eles nos ajudariam a garantir que a estrutura suportasse uma tempestade.

Nenhuma pessoa pode resolver tantos problemas interligados ao mesmo tempo. O sucesso ou fracasso deste tipo de projeto está na forma como os colaboradores trabalham em conjunto para resolver as incógnitas, cada um contribuindo em partes essenciais.

Neste caso o processo funcionou muito bem. O laboratório da Universidade de Columbia proporcionou os testes de carga. Melissa Burton do BMT Fluid Mechanics descobriu qual seria a pressão do vento na estrutura durante o verão. Desmond Cook do Advanced Metal Coatings , providenciou os testes de envelhecimento acelerado. Art Domantay Artworks nos ajudou a pensar sobre como a torre seria construída. Ecovative continuou a experimentação e a produção de diferentes tipos de tijolos com diferentes densidades e resistências. A Arup transformou os dados em projeto e garantiu sua viabilidade, o tempo todo à procura de oportunidades e riscos e fornecendo orientações sobre quais testes deveria ser realizados. Liderando a equipe e juntando tudo isso estava o The Living, que moldou uma escultura a partir de todas essas informações.

© Arup

A estrutura resultante é impressionante. Dez mil tijolos cultivados organicamente se erguem a 12 metros de altura, uma catedral de construção experimental. Os tijolos de fungos podem facilmente ser empilhados até esaa altura - e, na realidade, poderiam ir mais longe. Embora cada tijolo na base suporte, aproximadamente, o peso de uma pessoa, isto está longe do seu limite; os testes mostraram que um único tijolo poderia lidar com o peso de muitos carros.

A estrutura final pode resistir, seguramente, a rajadas de vento de mais de 105 km/h. Embora os tijolos possam  suportar esses esforços sozinhos, deixamos as formas de construção de madeira no interior da torre, a fim de ajudar com a resistência contra o vento.

© Arup

Os fungos podem ainda estar longe de substituir o aço e concreto, mas o projeto Hy-Fi mostra que eles já têm um lugar no mercado da construção de hoje. A Ecovative continua experimentando produtos para o ambiente construído, e nós, da Arup, ansiosos para trabalhar novamente com eles e lançar o material nos próximos anos.

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Sobre este autor
Cita: Matt Clark and Shaina Saporta. "Arup explica: Como o vencedor do MoMA PS1 criou tijolos feitos a partir de fungos" [Arup Engineers Explain: How the MoMA PS1 YAP Winners Grew Ten Thousand Mushroom Bricks] 11 Jul 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/623830/arup-explica-como-o-vencedor-do-moma-ps1-criou-tijolos-feitos-a-partir-de-fungos> ISSN 0719-8906

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