Construir menos, compartilhar mais: Arquitetura pelas pessoas e para as pessoas / Alastair Parvin

"Quando pensamos que os maiores conflitos ideológicos que herdamos giram em torno da pergunta de quem deveria controlar os meios de produção, hoje as tecnologias de informação digital parecem ter respondido com uma solução clara e radical: Nada, nenhum de nós." Com esta frase, Alastair Parvin explica como o surgimento do Free Software transformou as lógicas tradicionais de produção industrial graças à abertura em massa do suporte digital, onde a obtenção, elaboração e criação de informação é agora livre e compartilhada. Este fenômeno provocou um surgimento da metodologia denominada "faça você mesmo", onde os processos de projeto podem ser visualizados e baixados de qualquer parte do mundo e as pessoas são capazes de produzir suas ferramentas, a infraestrutura e os materiais necessários para poder construir, fabricar e elaborar seus próprios projetos, suscitando através do tempo uma espécie de "economia social da arquitetura". O que significa para as sociedades democráticas oferecer a seus cidadãos o direito de construir? Estamos próximos de passar de uma democratização do consumo à uma democratização da produção 

Conheça mais sobre a proposta de Parvin, a seguir.

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Salvo exceções como Shigeru Ban, TYIN Tegnestue, ou Vo Trong Nghia, nos encontramos numa situação que revela um panorama onde os melhores arquitetos e designers do mundo trabalham apenas para os setores mais ricos, isto é, o 1% da população mundial. Para Alastair Parvin, o desafio da próxima geração de arquitetos é como fazer com que seus clientes passem deste 1% da população para os outros 99% restantes.

Abrigo de papel e papelão para as vítimas do terremoto e tsunami no Japão. Imagem © Voluntary Architects' Network

Construir menos, compartilhar mais

Alastair parvin (1), Designer industrial, funou há alguns anos a WikiHouse, uma plataforma digital cuja iniciativa fundamental é construir uma ampla biblioteca que permite que qualquer pessoa no mundo possa compartilhar livremente arquivos de modelos digitais e detalhados conjuntos de construção, os quais podem ser baixados, impressos e cortados através de uma máquina de corte CNC, para então serem manualmente montados. Sob uma licença no comercial de Creative Commons, a iniciativa se desenvolveu de modo colaborativo por uma pequena comunidade de pessoas de todo o mundo, a WikiHouse não possui uma 'equipe' fixa ou uma sede, mas sim uma comunidade cada vez maior de designers e profissionais de diversas disciplinas que compartilham a crença de que o desenvolvimento das soluções de projeto devem ser de livre acesso, sustentáveis e adaptáveis às diferentes necessidades das sociedades contemporâneas.

"Um paradoxo fascinante para a arquitetura é que como sociedade, nunca necessitamos do pensamento de projeto tanto como agora e, ainda sim, a arquitetura não o está utilizando. O que as tecnologias de informação estão fazendo é baixar as limitações de tempo, custo e capacitação. Caminhamos para um futuro em que as fábricas podem estar em todos os lados, e isso quer dizer que cada vez mais a equipe de projetistas está em todos os lados. Isso é o que eu chamo de revolução industrial".

Diagrama
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Para uma democratização da produção

Parvin reconhece que a WikiHouse é um experimento muito recente, mas é a semente de um grande projeto para o século XXI: a democratização da produção.

"... na verdade estamos presos a esta filosofia da Idade Industrial que dita que os únicos que podem fazer cidades são as grandes organizações ou corporações para quem construímos, resultando em bairros inteiros a partir de apenas um projeto monolítico, e naturalmente, a forma segue o financiamento. Então acabamos com bairros únicos e monolíticos baseados neste modelo universal..."

Diagrama processo de montagem
Diagrama de corte
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O futuro: Arquitetura impressa?

Outro escritório que tem compartilhado seu trabalho através das tecnologias de informação digital é o TYIN Tegnestue, conhecidos por suas obras de pequena escala construídas nas zonas mais desfavorecidas de todo o mundo. Em seu site, muitos de seus projetos disponibilizam fotos, desenhos, modelos 3D e outros materiais para download. O Escritório acredita que ao compartilhar seu conhecimento, estão animando os estudantes, jovens arquitetos e as pessoas comuns a aprender através da construção. A arquitetura cooperativa de TYIN Tegnestue chegou inclusive a criar uma "caixa de ferramentas" que opera como um guia que pode ser baixado e usado em projetos que necessitem.

Butterfly House. Imagem © Pasi Aalto

O crescimento constante de uma biblioteca aberta e colaborativa propaga progressivamente uma construção contínua de conhecimento amplo, aberto e democrático há mais de 20 anos. Sem dúvida este fenômeno transforma o modo como entendemos a produção e os processos de projeto a partir de uma perspectiva política. Compartilhar é nosso trabalho, e entender as ferramentas da tecnologia de informação digital como ferramentas de desenho não apenas ajuda em termos de acessibilidade e adaptabilidade de uma economia social da Arquitetura a nível local, mas também incentiva a enriquecer gradualmente a formação de uma rede de conhecimento coletivo, cujo objetivo não busca outro fim além da contínua melhoria da qualidade de vida da nossas futuras gerações.

É preciso construir menos e compartilhar mais?

Para conhecer mais e fazer o download de Wikihouse v3-3 clique aqui e para baixar a caixa de ferramentas do TYIN Tegnestue clique aqui.

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Sobre este autor
Cita: Vergara, Enzo. "Construir menos, compartilhar mais: Arquitetura pelas pessoas e para as pessoas / Alastair Parvin" [Construir menos, compartir más : Arquitectura por la gente y para la gente / Alastair Parvin] 21 Ago 2014. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/625798/construir-menos-compartilhar-mais-arquitetura-pelas-pessoas-e-para-as-pessoas-alastair-parvin> ISSN 0719-8906

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