Em dezembro do ano passado, publicamos notícias da campanha Kickstarter de Tomas Koolhaas para financiar um documentário sobre seu pai, Rem Koolhaas. Bom, o documentário de Koolhaas, REM,não foi apenas totalmente financiado, mas também três generosos patrocinadores ofereceram 500 dólares cada um em troca de uma pergunta respondida diretamente pelo próprio Rem Koolhaas. O vídeo acima é o resultado dessas perguntas, nas quais Koolhaas é questionado sobre urbanismo nos Países Baixos em comparação com a Índia, ainda em desenvolvimento; e uma pergunta sobre como seus primeiros trabalhos como diretor e roteirista de cinema influenciaram sua carreira arquitetônica.
Assista o vídeo e sabia mais sobre as respostas de Koolhaas, a seguir.
As duas primeiras perguntas são feitas pelos patrocinadores da Índia e Holanda, ambos questionando essencialmente como a arquitetura, o urbanismo, a política e a cultura podem assegurar um futuro feliz e próspero para seus respectivos países. Koolhaas combina ambas perguntas em uma só resposta, comparando as posições políticas e econômicas atuais de ambos países para questionar as diferentes abordagens de cada um deles.
No caso da Índia, ele faz referência à forma em que estão, literalmente, construindo seu país, dizendo que se está "construindo a si mesmo e imaginando a si mesmo, como pode crescer e definir-se no século XXI", e complementou que "terão um impacto muito importante no que faremos com este século, e como definiremos o que é moderno". Por outro lado, os Países Baixos, argumenta, "apontam o conservadorismo, não estão construindo nada novo - ou a tal construção de algo novo, não é um tema tangível ou visível, mas foca também em como alterar o comportamento ou a forma de trabalhar em algo complexo e político como a União Européia."
As respostas, portanto, são muito diferentes para cada país. Para os Países Baixos, Koolhaas afirma que "estamos em uma posição vantajosa e o que temos que aprender a fazer é, por um lado, desfrutar do que já fizemos e vivê-lo, e por outro, desenvolver uma maneira profunda de utilizar o que construímos". Ele identifica o consumismo como o principal obstáculo para esta grande interação, defendendo o compromisso político como algo que falta: "Particularmente na Holanda, estou muito surpreso pelo fato de que pouquíssimas pessoas estejam realmente comprometidas com todo o tema Europeu... Eu diria que a construção da Europa para o século XXI, será provavelmente tão importante quanto a construção da Índia, mas a nossa construção é de caráter político, e eu sou um apaixonado por estas melhorias, trabalhando nelas ou ajudando a desenvolvê-las de forma participativa e de maneira inteligente".
Entretanto, o arquiteto implora para que a Índia olhe seus cidadãos de maneira diferente no mundo ocidental, e destaca o que pensa ser o tema chave do urbanismo do século XXI, a interface entre os reinos físicos e digitais. "As cidades serão muito mais influenciadas pela tecnologia, haverá um grande impacto do digital na cidade e na vida urbana", diz Koolhaas. "Atualmente, todas as definições do digital vem de uma região do mundo, do Vale do Silício. Muito disso se deve ao desejo de lucro. Acredito que a Índia é muito inteligente em relação ao mundo digital, e que seria muito interessante poder encontrar uma maneira onde o digital pudesse ser de importância coletiva e pública... Acredito que existe energia e dinheiro na Índia, mas além de tudo, possuem o incentivo para tratar de encontrar uma maneira talvez menos exploratória, de integrar ou conceber simultaneamente a cidade e o digital, e o que será o resultado dessa interação".
A última pergunta que surge é: "Como seus estudos no cinema influenciaram sua abordagem na arquitetura?" Para Koolhaas, a influência do cinema não foi, como era de se esperar, uma influência visual. Sua experiência com os filmes, argumenta, "me ensinou ou me alertou que haviam similaridades incríveis entre fazer cinema ou escrever roteiros, e a arquitetura, pelo fato da necessidade de gerar uma narrativa... assim, para mim, o passo do cinema para a arquitetura foi um passo muito pequeno, essencialmente um passo para desenvolver narrativas em um meio diferente, mas em grande medida com as mesma estratégias".
"A influência ou relação com o cinema é mais um tipo de relação estrutural e conceitual, em vez de uma relação visual", conta Koolhaas, destacando técnicas como a montagem cinematográfica: "um princípio que me permitiu ler a arquitetura de uma maneira muito diferente; ler, por exemplo, a cidade de Nova Iorque quase como um roteiro". Contribuindo com sua compreensão da cidade e embasando suas ideias em "Nova Iorque Delirante", livro que ajudou a solidificar sua reputação entre os arquitetos.