A cada dois anos a empresa de automóveis Audi seleciona, através do Audi Urban Future Award (AUFA), um grupo de cidades de diferentes partes do mundo para questionar sobre o futuro da mobilidade. Com este prêmio busca-se desfazer algumas ideias relacionadas com o papel crítico da mobilidade no século XXI dentro de um contexto mutável de desafios complexos, porém também de novas oportunidades.
Partindo da pergunta “como os dados darão forma à mobilidade nas megalópoles do futuro?” as equipes da Cidade do México, Boston, Berlim e Seul foram selecionadas para mostrar uma visão de como poderia ser o futuro urbano se fossem utilizados dados de maneira estratégica. Os critérios para a avaliação das propostas incluíram formas inovadoras de gerar energia, sustentabilidade, viabilidade e potencial das ideias de serem transferidas para outras cidades.
A equipe da Cidade do México, formada pelo prestigiado arquiteto e urbanista José Castillo, o pesquisador Carlos Gershenson e a área experimental do Governo do Distrito Federal, o Laboratorio para la Ciudad, convenceu o júri internacional com seu “sistema operacional para a mobilidade urbana”, vencendo a edição deste ano. Seu elemento central é uma plataforma de dados que permitirá às cidades estruturar seu planejamento urbano e de tráfego sustentável, convertendo os cidadãos em doadores de dados que permitem modificar seu comportamento em relação a cada situação. Mais detalhes do projeto a seguir.
Atualmente, a Cidade do México apresenta grandes problemas de mobilidade: os translados são lentos, as distâncias grandes e as opções de transporte escassas. Em média, uma pessoa demora uma hora e 21 minutos para se deslocar dentro da cidade. Enquanto que menos de um terço dos percursos na cidade são realizados de automóvel, o transporte motorizado é responsável por 76% da poluição ambiental na Zona Metropolitana.
Apesar destas cifras, a Cidade do México conta com uma grande quantidade de pedestres e a bicicleta é um meio de transporte cada vez mais comum. Existem grandes oportunidades ainda a serem exploradas em uma cidade com 21 milhões de habitantes.
O primeiro problema que a Cidade do México enfrenta é a escassez de dados ou a falta de atualização destes. A pesquisa Origem-Destino da Zona Metropolitana do Vale do México de 2007 é o estudo mais recente de mobilidade na cidade, e não é possível saber se até 2014 tais padrões de mobilidade se modificaram. Desde então as fontes de informação de padrões de mobilidade têm se multiplicado (por meio de aplicativos para smartphones como, por exemplo, o Waze ou Google Maps, agora é possível conhecer, entre outras coisas, a rota mais rápida para atravessar a cidade).
Por esta razão, a equipe de AUFA México definiu a captação de dado como uma das principais tarefas do projeto. Hoje existem métodos para se obter informação a um custo menor, além de conceder informações mais precisas e que se atualizam constantemente.
O projeto da equipe AUFA México, Living Mobilities, consiste em coletar dados da maior quantidade de fontes possível, incluindo empresas e infraestrutura urbana, e dar uma importância particular para às informações que cada cidadão pode oferecer de maneira voluntária.
Estes cidadãos e empresas são chamados de "doadores de dados", e com sua contribuição não somente será possível conhecer a maneira como os cidadãos se deslocam em um momento determinado, mas também prever o que estará acontecendo na cidade num futuro próximo. A ideia é fazer um banco de dados coletivos e - em conjunto com a estratégia de cidade aberta do Laboratoria para la Ciudad - oferecer acesso livre e gratuito a todos os interessados.
O doador de dados poderá não somente compartilhar sua rota diária de maneira anônima, mas também sua velocidade média, seu meio de transporte preferido e as vantagens e desvantagens que encontra em suas decisões diárias, entre outros fatores de mobilidade. Além disso, no futuro, o doador de dados terá a oportunidade de compartilhar sua agenda e planos futuros para, por exemplo, permitir que a cidade saiba que haverá alguém se deslocando para o dentista na quinta-feira as 17:00 pela avenida Insurgentes na direção norte-sul. Desta forma será possível tomar decisões melhores por ter mais informação, ao se saber o que estará acontecendo na cidade com vários dias de antecedência.
Este protótipo de Sistema Operacional da Cidade do México tomaria uma grande quantidade de dados para produzir informações úteis e de forma ordenada, permitindo quem viaja pela cidade utilizá-lo para tomar decisões inteligentes. À medida que este sistema se completa com uma entrada abundante e constante de dados, a informação pode permitir aos cidadãos não somente tomar decisões cotidianas e de curto prazo, mas eventualmente tomar decisões sistemáticas, tal como aceitar uma oferta de trabalho ou alugar um novo apartamento mais próximo do emprego atual, e assim reduzir o tempo, custo e estresse da rotina diária.
A informação deste sistema permitirá também uma interação entre os cidadãos e as decisões que estes tomam para se deslocar na cidade. Tais decisões podem ser desde deixar o carro em casa ou ceder um lugar no Periférico, basta doar dados de forma constante.
Eventualmente, daqui a algumas décadas, o cidadão comum deixará de tomar decisões equivocadas e ineficientes e fará parte de um sistema de cidade que se move como um único organismo vivo.