Faz pouco mais de um ano que foi revelado o Estádio Al-Wakrah de Zaha Hadid em Doha, Qatar, e nos doze meses seguintes, parece que esta edificação nunca saiu dos noticiários. Mais recentemente, observações feitas por Hadid sobre as mortes de trabalhadores da construção civil em condições de trabalho questionáveis no Qatar geraram uma tempestade de mídia de proporções jurídicas. O estádio de Hadid tem sido amplamente ridicularizado devido a sua aparência "biológica", para não mencionar o fato de que a Copa do Mundo de 2022 no Qatar, para qual o estádio foi construído, também encontrou uma tempestade de controvérsias próprias.
As críticas em torno do Al Wakrah nos levaram a procurar os edifícios mais debatidos no mundo. Poderia o Al Wakrah ser o edifício mais controverso de todos os tempos? Confira uma lista do ArchDaily de nove candidatos, a seguir.
Descubra quais edificações estão no topo desta controversa lista na continuação.
9. Edifício Portland (Portland, Estados Unidos) / Michael Graves
“Toda a ideia de demolir a edificação é como matar uma criança...não sei exatamente como reagir a isso ,” disse o arquiteto Michael Graves numa discussão recente sobre o futuro do Edifício Portland, a primeira grande construção Pós-moderna na América do Norte. A edificação está há décadas no centro de um acalorado debate sobre a validade e utilidade do pós-modernismo em um contexto funcional. Encomendado pela Cidade de Portland como um edifício público, o Edifício Portland recebeu grande crítica por seu projeto "mais é mais" quase clássico e interior de planta fechada.
Projetado pelo membro do New York Five, Michael Graves, o edifício tinha como objetivo celebrar os moradores de Portland, mas em vez disso os enfureceu. Atormentado pelo orçamento minúsculo e requisitos exagerados do programa, Graves concebeu um edifício revestido de colunas vermelhas gigantes alternando com janelas opacas, conduzindo à uma lembrança das fitas decorativas de concursos de beleza. Graves supostamente ganhou a licitação para o projeto graças à sua proposta abaixo do orçamento e adesão à exigência da cidade de janelas minúsculas repetitivas ao longo do exterior. Trinta e dois anos depois, o edifício necessita urgentemente de restauro, com custos avaliados em US$ 95 milhões ao longo de dois anos. As autoridades da cidade continuar a ponderar sobre o futuro do Edifício Portland.
8. Sagrada Familia (Barcelona, Espanha) / Antoni Gaudi
“Meu cliente não está com pressa,” disse o famoso arquiteto espanhol, Antoni Gaudi sobre seu trabalho na icônica basílica católica romana de Barcelona, la Sagrada Familia. A basílica é o projeto de construção mais longo do mundo, atualmente em seu 132º ano - financiado inteiramente por doações privadas que atingem US$ 31 milhões anuais. A construção teve início em 1882, mas enfrentou uma brusca interrupção em 1926 com a repentina morte de Gaudi por um bonde no centro de Barcelona, lançando dilemas éticos sobre se seu projeto seria concluído. Quase 100 anos após a morte de Gaudi, uma série de arquitetos tem executado uma fac-simile dos planos originais apesar da completa destruição dos desenhos originais da edificação no início da Guerra Civil Espanhola.
Iniciando nos anos 60, diversos arquitetos prolíficos, incluindo Le Corbusier e Alvar Aalto lançaram, sem sucesso, campanhas para modernizar os projetos de Gaudi, sugerindo que seu trabalho se tornou datado e irrelevante. Os arquitetos do projeto estão, no momento, projetando uma data de conclusão em 2026 para marcar o centenário da morte de Gaudi, 144 anos após o reinício da construção.
7. Torre Residencial Antilla (Mumbai, Índia) / Perkins + Will/Hirsch Bedner Associates
Construída adjacente a favela de Golibar no centro de Mumbai, esta torre com 27 pavimentos é a residência de uma única família e atualmente mantém o título de residência privada mais cara do mundo, com a marca recorde de US$1 bilhões. Propriedade do quinto homem mais rico do mundo, Mulesh Ambani, a residência foi projetada em conjunto pelos escritórios americanos Perkins + Will e Hirsch Bedner Associates, arquitetos dos hotéis Mandarin Oriental. Cada pavimento da casa apresenta um tema específico de materiais opulentos, raros, de todo o mundo selecionados pela Sra. Ambani.
O projeto recebeu uma desaprovação generalizada pelos moradores de Mumbai que argumentam que a torre é insensível e excessiva, o que parece um eufemismo para uma casa que possui seis pavimentos de garagem, nove elevadores privativos e 400.000 m² de um único espaço familiar residencial.
6. Edifício da Mulher, World’s Columbian Exposition (Chicago, Estados Unidos) / Sophia Hayden Bennett
Foi "tímida", "delicada", "apagada" e "feminina", de acordo com os críticos que se opõem à equipe de projeto e gestão composta apenas por mulheres para construção do Edifício da Mulher na World's Columbian Exopsition em Chicago. Inaugurado em 1893, o edifício foi dedicado aos sucessos das mulheres nas artes e ofícios, mas foi indeferido por ser irrelevante segundo o comitê organizador de Daniel Burnham, com a predominância de membros do sexo masculino. Apesar de grandes reclamações, o projeto foi adiante como planejado sob a supervisão da arquiteta Sophia Hayden Bennett, primeira mulher graduada do Instituto Tecnológico de Massachusetts.
A edificação foi criticada por sua discreta estética "feminina" em comparação aos extravagantes edifícios vizinhos projetados por arquitetos homens. Lideradas pelo Conselho de Gerentes Mulheres, um conselho formado apenas por artistas e patronas mulheres, a edificação se tornou o centro de uma discussão implacável sobre a necessidade de um espaço dedicado apenas ao trabalho de mulheres e ao grande papel das mulheres na arquitetura.
5. O "Walkie Talkie" na 20 Fenchurch Street (Londres, Reino Unido) / Rafael Viñoly Architects
Muitos londrinos consideram a 20 Fenchurch Street um endereço comum nas ruas do centro de Londres. Comum até que o apelido, Walkie Talkie” seja mencionado, lançando repentinamente um debate acalorado sobre o desgosto generalizado em relação ao projeto não ortodoxo (leia-se: odiado) da edificação. A estrutura curvilínea se expande a partir de sua base modesta como um balão inflado prestes a explodir. Posicionado ao norte do Rio Tâmisa e, controversamente, fora da principal aglomeração de torres na cidade, o "Walkie Talkie" assumiu uma vida própria na imprensa após uma série de incidentes no ano passado envolvendo a infeliz tendência do edifício em destruir objetos no nível do solo com a seu "Raio Laser da Morte" (também conhecido como reflexo do sol).
A edificação foi apelidade de “Walkie Scorchie”(to scorch: chamuscar) após uma série de incidentes, incluindo um sobre um carro Jaguar parcialmente derretidos, uma fachada de loja e um tapete queimados pelo sol, muitos acentos de bicicleta destruídos e vários experimentos com ovos fritos devido as temperaturas do nível da rua ultrapassarem os 100 graus celsius. Paul Finch, um apoiador veemente do edifício ao longo do processo de projeto, tornou público desde então seu arrependimento por apoiar a obra, dizendo que os empreendedores "fizeram uma bagunça com ele, e são os arquitetos de sua própria ruína".
4. Torre Eiffel (Paris, França) / Gustave Eiffel
“É o único lugar em Paris onde eu posso comer e não ver aquela torre hedionda,” disse o romancista parisiense Guy de Maupassant nos final dos anos de 1880, descrevendo um café aos pés da então recém construída Torre Eiffel. A infame torre foi o alvo de uma verdadeira avalanche de críticas dos parisienses de todas as classes, que argumentavam que a torre iria arruinar a paisagem elegante de gabaritos baixos da cidade, resultado do plano Haussmann no século XIX. Campanhas anti-torre difundiram-se e ocuparam os arrondisements de Paris, referindo-se à torre como uma "chaminé gigante" e um "poste de iluminação verdadeiramente trágico". Representações satíricas mostram a cabeça do engenheiro civil parisiense Gustave Eiffel sobre o topo da torre como uma personificação do que muitos acreditaram ser o maior erro da Cidade de Paris. Entretanto, desde sua inauguração em 1889, cerca de 250 milhões de pessoas já visitaram a Torre Eiffel.
3. Opera House de Sydney (Sydney, Austrália) / Jørn Utzon
Foi uma história de raiva, demissão, rejeição, escandalo, gastos excessivos, e tudo mais. Em 1957, Jørn Utzon da Dinamarca foi selecionado dentre 232 participantes para projetar a Opera House de Sydney. Seu projeto, inicialmente rejeitado pelo comitê de seleção do concurso, foi poupado pelo arquiteto Finnish e jurado, Eero Saarinen. Foi garantido ao projeto meros $18 milhões de dólares australianos e exigida a conclusão em 18 meses, porém, uma vez iniciado o processo se mostrou lento e trabalhoso: guindastes para as elaboradas coberturas tiveram que ser feitos sob medida na França e importados para a Austrália. Em 1966, após quase dez anos da construção, o recém eleito governo de Nova Gales do Sul considerou que os custos eram muito altos e os avanços muito lentos devido ao perfeccionismo insaciável de Utzon. O arquiteto foi deposto do projeto pelo novo Diretor de Obras Públicas, Davis Gughes, embargando a construção, acabando com seu salário e congelando o orçamento no projeto.
O arquiteto australiano Peter Hall substituiu Utzon, alterando significativamente o projeto vencedor original da edificação. Os custos inflaram para $102 milhões de dólares australianos sob a supervisão de Hall, com um adiamento adicional de quase 10 anos - o projeto levou 16 anos para ser concluído. Utzon nunca visitou a estrutura finalizada, mas recebeu uma desculpa formal da Opera House em 1999.
2. Estádio Al Wakrah (Doha, Qatar) / Zaha Hadid Architects
Zaha Hadid foi satirizada sobre seu trabalho controverso no Estádio Al-Wakrah em Doha, um dos cinco em construção para a Copa do Mundo de 2022. As críticas iniciais se deram em torno do projeto do estádio e sua aparência mas, desde então, o estádio foi pego em controvérsias acerca das condições de trabalho de trabalhadores imigrantes envolvidos em diversos projetos para a Copa do Mundo no Qatar. Mais de mil trabalhadores foram dados como mortos durante a construção das instalações para a copa do mundo, e quanto perguntada se ela tomaria alguma medida em relação às condições dos trabalhadores, Hadid declarou: “Não é meu dever como arquiteta cuidar disso."
A Fifa prometeu monitorar as condições de trabalho no Qatar, mas recentemente ficou sob fogo cruzado pela suposta corrupção durante a licitação da copa do mundo no Qatar, causando alguns a sugerirem que a copa deveria ter sido atribuída a um país diferente para evitar problemas causados pelo calor extremo do Qatar. As obras continuam no controverso estádio de Hadid, apesar de críticas por parte de funcionários do governo, críticos e arquitetos famosos.
1. Conjunto Habitacional Pruitt-Igoe (St. Louis, Estados Unidos) / Minoru Yamasaki
Descrido como "um inferno na terra" por um morador, o Pruitt-Igoe é a mais notória falha na história dos projetos de conjuntos habitacionais nos Estados Unidos durante sua existência de 1954 a 1972, mas nunca foi totalmente ocupado devido ao racismo desenfreado e o subsequente "voo branco" após a dessegregação da habitação social no Missouri em 1956.
Críticos contemporãneos acusaram o Pruitt-Igoe de ser intrinsecamente semelhante a uma prisão, causando a difusão de problemas mentais entre seus residentes de baixo poder aquisitivo; menos de duas décadas após sua conclusão, o complexo foi dado como impróprio para ocupação e foi rapidamente esvaziado e demolido. Entretanto, desde sua demolição, alguns dos estudos da época foram criticados por pesquisa imprópria, muitos citando o racismo inerente em resultados estatísticos. A destruição explosiva do Pruitt-Igoe foi declarada por Charles Jencks como a "morte da arquitetura moderna," e o conjunto é agora citado como um contra-exemplo em projetos urbanos. O Pruitt-Igoe é, muitas vezes, creditado como o líder da queda dos conjuntos habitacionais em St. Louis.
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