É difícil não perceber a onda de torres super altas e esbeltas que invadiu Manhattan nos últimos anos. Todos conhecem os projetos individualmente: 432 Park Avenue, One57, Nordstrom Tower, a MoMA Tower. Mas, quando uma companhia do ramo imobiliário mostra como será o skyline de Nova Iorque em 2018, os novaiorquinos são forçados a considerar, pela primeira vez, os efeitos combinados desse novos projetos. Nesse artigo, originalmente publicado pela Metropolis Magazine como "On New York's Skyscraper Boom and the Failure of Trickle-Down Urbanism," Joshua K Leon argumenta que o caso para uma cidade do "um porcento" não resiste à análises profundas.
Como seria uma cidade dominada por um porcento?
Novas simulações da CityRealty mostram como será Manhattan em 2018. A principal característica será a proliferação de arranha-céus especialmente altos e esbeltos pontuando o skyline como caixas pós-modernistas, estalagmites estranhas e seringas de ponta cabeça. O que elas compartilham é a escala monumental e uma clientela de plutocratas descompromissados.
As imagens instilam um sentimento deprimente de inevitabilidade em relação a projetos que deveriam ter sido combatidos. Eu não me refiro a apenas uma ou duas dessas torres de luxo, mas todas elas. Alguns desses projetos ameaçam desfigurar o skyline por décadas. O ONE 57 deveria parecer uma cascata, falhou completamente. A "Nordstrom Tower" na West 557th Street é clara o bastante para complementar o ethos do shopping suburbano de seu inquilino homônimo. O 125 Greenwich oferece outra variante de alto, esbelto e brando. O complexo Hudson Yards ganhou para si o título de "Hong Kong do Hudson".
Para ser justo, outros projetos não são tão ruins. Entre os melhores: o 432 Park Avenue de Raphael Viñoli apresenta uma silhueta distinta composta por uma infinidade de ângulos retos. A MoMA Tower de Jean Nouvel tem uma forma piramidal levemente desordenada, Essa torre abrigará as exposições do Museu de Arte Moderna, o que faz dela um raro edifício de luxo capaz de oferecer momentos de entretenimento e cultura para outras pessoas que não a elite.
Alguns observadores elogiam a escala dessa construção por ajudar a cidade a recuperar sua suposta virilidade perdida. Kriston Capps, do The Atlantic, afirma que Nova Iorque pode - citando Nicolai Ouroussoff—uma vez mais ser uma "grande citadela do capitalismo" como Dubai, Singapura e Pequim. (Deveriam as grandes citadelas do capitalismo ser autoritárias?). Essa vitalidade urbana recém-descoberta será registrada com orgulho nos cartões postais, mas de perto se dissolverá. O fato de muitos proprietários da elite raramente morarem na cidade promete algumas quadras bem desérticas.
A ideologia de um urbanismo multiplicador justifica o escopo imoderado dessas construções. Nosso ex-prefeito explica melhor: "Se pudermos fazer alguns bilionários de outras partes do mundo se mudarem para cá, seria uma benção", argumentou Michael Bloomberg. "Porque é daí que vem o dinheiro para cuidar do todos os outros."
Mas nós precisamos, como insistiu Bloomberg, de um ambiente construído que atenda primeiramente os absurdamente ricos? O argumento ignora a saraivada de apoios sociais ascendentes, lutando pela moradia e emprego da elite. Como explica o New York Times, os compradores de unidades super caras recebem enormes isenções de impostos. Os empreendedores tiram vantagem da grande demanda por esses cofres nas alturas
Grandes somas de dinheiro público também subscrevem a economia corporativa sobre a qual os mais altos estratos prosperar. Isso inclui a construção de arranha-céus na cidade. Por exemplo, o World Trade Center, Bank of America Tower, e a sede do banco Goldman Sachs são criaturas do estado tanto quanto do mercado. (Seus benefícios exclusivos são extensivamente documentados pela reportagem sobre os subsídios municipais feita pela Good Jobs New York).
Meu ponto aqui é que a cidade luxuosa é uma política escolhida, ao invés de uma inevitabilidade do mercado livre, e sempre há alternativas. A habitação social enfrenta grandes períodos sem reparos básicos. Por que não direcionar um pouco da verba municipal para esse problema?
Aqueles que propõem esse tipo de urbanismo argumentam que a construção de luxo é um bem social capaz de aliviar a escassez de habitação ao aumentar a renda total da cidade. Essa posição ignora a segmentação no mercado da habitação. Resolver uma crise na habitação construindo coberturas é como tentar resolver a carência de automóveis construindo Bentleys. Deixado a seus própria sorte, o "mercado livre" está produzindo o tipo errado de moradias.
Mesmo se a renda total importasse, edifícios de luxo ainda assim são maravilhas da ineficiência. o 432 Park, o maior arranha-céu residencial do hemisfério ocidental, terá apenas 104 unidades. Um projeto similar de Viñoly na 25 Greenwich Street, que terá 407 metros de altura, terá apenas 128 unidades. O One57, com mais de 300 metros, terá apenas 92 unidades. Em comparação, meu relativamente pequeno edifício de treze andares, construído em 1957 em Upper East Side, tem 119 apartamentos.
A enorme contradição aqui é que a cidade está construindo tanto para vender, e ainda assim tão pouco para se usar. Deveriam os empreendedores de Nova Iorque - que vocês pensaria que são obrigados efetivamente a produzir espaços para se morar - estar no ramo do acúmulo de riqueza?
Quando se trata das demandas de investimento do "um porcento" global, nenhum subsídio é conspícuo demais, nenhuma altura ou recorde de vendas é seguro. Poderiam esses urbanistas advogar em prol dos desafios sociais com tanta intensidade? O que esses edifícios realmente refletem é o empobrecimento da imaginação política de nosso tempo. Eles contarão para a posteridade como nós reforçamos o a hierarquia social.
Joshua K. Leon é professor assistente de ciências políticas e estudos internacionais no Iona College. Seus escritos sobre cidades aparecem em publicações como Metropolis, Dissent, e Foreign Policy in Focus. Seu livro The Rise of Global Health: The Evolution of Effective Collective Action deve ser publicado ainda no início de 2015.