Continente com a população que mais cresce no mundo, as fronteiras da África se tornarão em breve áreas atrativas para assentamentos urbanos, porém, o potencial de conflitos das fronteiras coloniais pode inibir o crescimento econômico necessário. O legado colonial continua espalhar conflitos relacionados aos limites arbitrários estabelecidos por nações europeias nos séculos XIX e XX, que não levaram em consideração as diferenças étnicas, linguísticas e religiosas no continente. Essas decisões resultaram na divisão de comunidades culturais dentro de cada país e na criação de fronteiras políticas que geralmente não refletem os interesses comuns. Consequentemente, a África sub-saariana passou por longos conflitos nos anos que seguiram a independência, resultando na diminuição do potencial de desenvolvimento econômico futuro em muitas regiões. Atualmente, disputas territoriais levaram ao surgimento de movimentos separatistas em diversos países, mas os governos africanos estão hesitantes em abandonar os limites coloniais para evitar outros conflitos.
Ao passo que abordagens políticas a essa questão continuam a ser extremamente controversas, uma intervenção arquitetônica em escala urbana proposta por Sebastian Irarrazaval Arquitectos pode ser a chave para um futuro cultural e econômico próspero na África. Em sua proposta para uma cidade africana ideal, Sebastian Irarrázaval e sua equipe conceberam sua solução como uma rede de cidades transfronteiriças. Esse conjunto de "entidades urbanas bi-nacionais" servirá para suprimir as antigas fronteiras coloniais e "reintegrará o continente como era antes da dominação europeia, quando as trocas culturais e econômicas prosperavam."
Descubra como a proposta visa abordar alguns dos problemas sociais e políticos mais antigos da África, a seguir.
A proposta de Trans-frontier Cities é uma oportunidade não apenas de integração territorial, mas também um meio de abordar muitos desafios antigos do continente. Por exemplo, integração social de grupos multi-étnicos, aumento do capital humano, e aumento dos padrões sanitários são algumas das principais questões que as cidades africanas em desenvolvimento devem enfrentar se visam promover o crescimento e coesão social. Levar essas questões em consideração é algo importante para o desenvolvimento da proposta, que resultou em um esquema em forma de "pente" que alterna faixas de infraestrutura urbana e rural.
A natureza alternada do esquema permite que os habitantes experienciem uma vida urbana vibrante, ao passo que desfrutam dos benefícios físicos e mentais de estar em contato com a natureza. Esse aspecto da proposta funciona como uma estrutura organizacional global que permite a divisão dos espaços baseada no programa e na relação com o ambiente. Assim, o eixo principal recebe o transporte público e a infraestrutura de purificação da água incorporada a uma paisagem artificial que conecta o aeroporto e a estação de trem. Esse eixo será futuramente definido por praças públicas que proporcionarão sombras e espaços para feiras externas e encontros comunitários. O eixo secundário abriga a infraestrutura educacional e conecta importantes instituições públicas, com a biblioteca em uma extremidade e o estádio em outra.
Os elementos separados do padrão urbano permitem a auto-organização de comunidades com fronteiras claras para reforçar as identidades étnicas perdidas no contexto das nações coloniais. No centro de cada uma dessas comunidades haverá uma rua comercial para pedestres, cercada por uma rua para carros e estacionamentos no perímetro. O comprimento máximo de cada faixa urbana é ditado pela escala humana e limitado para garantir que a caminhada mais longa até o eixo de transporte público seja de 20 minutos.
Como visto na volumetria do ambiente construído, o padrão urbano de cada faixa será inspirado nas tradicionais geometrias encontradas em artesanatos em todo o continente. A extrusão desses padrões revela várias configurações que compartilham de longos perímetros para permitir fachadas duplas e ventilação cruzada. Essa é apenas uma das muitas considerações climáticas para a cidade, bem como promover o conforto térmico adequado no clima tropical.
As faixas rurais, por outro lado, são retratadas como terrenos vazios a serem usados para produção agrícola, organizadas tanto por um sistema de canais de irrigação que se estendem a partir do eixo principal, como por vias perpendiculares que conectam cada faixa. Todas as formas de infraestrutura são vistas como oportunidades para criar novos espaços públicos convidativos, e por não causar os mesmos riscos à saúde como as usinas de energia causavam, as fonte renováveis serão localizadas no centro de cada cidade, ao longo do eixo de água. Essa nova paisagem urbana de chaminés ecológicas servirá para sinalizar e orientar os cidadãos.
A proposta também inclui ideias preliminares de zoneamento, com plantas para seu desenvolvimento nas próximas décadas. Os territórios afastados ocupados pelas cidades transfronteiriças serão considerados Zonas Econômicas Especiais, com acesso através de estradas com postos de controle, estações ferroviárias e aeroporto internacional. Como resultado de sua relevância geopolítica e importância econômica, todas as propriedades permanecerão sob domínio do estado, com concessões privadas de 70 a 90 anos.