“Manaus: Tese para o Território Amazônico” reúne nove teses de graduação realizadas na Disciplina Arquitetura 6A / Oficina Mediterrânea da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Desenho da Universidade Nacional de Córdoba, Argentina. Os trabalhos exploram o potencial de associar grandes infraestruturas urbanas com programas arquitetônicos mistos que se apropriem e maximizem a concentração de investimentos e infraestruturas.
Os ensaios, motivados pela experiência do programa S.O.S. Cidades, organizado pela Oficina Sul-americana da FADU-UBA, adotam como caso de estudo a cidade de Manaus, localizada em meio à selva amazônica.
Manaus é a capital do estado de Amazonas e constitui o principal centro econômico e cultural da região. Ao longo da sua história, o vínculo entre o meio urbano e seu território sofreu transformações radicais. Manaus deixou de ser a "Paris dos trópicos" para tornar-se o é hoje:uma cidade industrial em permanente conflito com seu suporte natural. Cada tese ensaia diferentes estratégias para reverter os processos de fragmentação, deterioração urbana e degradação ambiental presentes na cidade.
Os trabalhos foram dirigidos pela equipe docente da Oficina Mediterrânea composta por seu titular Alejandro Cohen; os adjuntos Alberto Baulina e Cristian Nanzer; os assesores, Fernando Díaz Terreno, Carlos Barrado e María del Carmen Fernández Saiz; os chefes dos trabalhos práticos Cecilia Cornaglia, Javier Giorgis e Marcelo Fiorito e os colaboradores Leticia Gómez e Nahuel Recabarren.
A seguir, um breve memorial descritivo de cada projeto.
01 - Novas Redes de Mobilidade como catalizadoras de Projetos Urbanos
Autores: Federico Torres, Juan Ignacio Olazabal
Considerando que a proposta de infraestrutura de mobilidade urbana feita pelo estado de Manaus supõe uma rede conectiva que vincula as principais áreas da cidade, a proposta emprega o âmbito da intervenção para induzir uma reestruturação urbana abrangente. Os nós desta nova rede de mobilidade possuem particular relevância, já que, fazendo usufruto das tensões urbanas geradas por estas tipologias, são propostos projetos de grande sinergia com o entorno imediato, capazes de induzir a restauração e requalificação de importantes áreas urbanas.
Esta nova rede de mobilidade se apresenta, então como uma proposta capaz de fazer reagir um conjunto de intervenções catalisadoras, resolvendo problemáticas que excedem o caráter mono-funcional das infraestruturas convencionais contribuindo para uma construção holística e integradora da cidade.
02 - Linking Manaus
Autores: Santiago Canene Leandro Piazzi
Manaus está na selva: altos e baixos delineiam o território, a floresta e as nuvem ocupam o firmamento e um complexo sistema hidrológico de fendas que dão origem aos igarapés (riachos) praticamente estanques, mas de cota inundável variável de acordo com a estação e o ano. A convivência com a água é um desafio constante e insistente já que prejudica a urbanidade, escorrendo por onde pode. A geografia é um tema tácito.
A infraestrutura de vínculos proposta (Porto de Fluxos) é uma resposta que surge ao entender o igarapé como um unidade urbano-ambiental. Sua ação principal é a de associar território, tecido e infraestrutura projetando até as bordas da vida urbana de Manaus através do espaço público. Esta plataforma reúne as camadas de informação e as fazem conviver celebrando a mistura e a compacidade. Como instrumento de reconversão urbana ambiental, democratiza o território original outorgando espaço público operacional. A plataforma é produto e resultado das intensidades do contexto e suas vicissitudes.
03 - Indústria Brasileira
Autor: Juan Ramírez
Manaus é uma cidade industrial que prescindiu da sua realidade selvagem devido ao domínio do capital global. A cidade está assentada sobre uma densa rede de rios, muitos contaminados pela pressão da indústria e a ausência de infraestruturas sanitárias. A cidade está implementando um mapa de saneamento (PROSAMIN), que simplesmente canaliza estes rios e em alguns casos os elimina, sem comprometer a variabilidade deste frágil território.
Esta tese cria uma espécie de embrião que pode expandir-se a toda a mancha urbana, começando por um dos rios já modificado por PROSAMIN, para logo, continuar saneando um por um todos os aquíferos utilizando o mesmo critério. Cria-se um território artificial que pretende ocupar o lugar de uma indústria sanitária, mas, com a vantagem de ser auto-suficiente em matéria energética e 100% de uso público. Este território depura os rios da cidade e reconstrói os ecossistemas perdidos utilizando processos biológicos próprios das áreas úmidas do Amazonas. Deste modo, o território converte-se em uma mega-fábrica de saneamento, uma fusão entre arquitetura, paisagem e engenharia, onde a importância não está em uma massa construída, mas na capacidade de manipulação do território para criar uma nova condição de equilíbrio, utilizando sempre a matéria-prima da Amazônia: a selva.
04 - Salada de Frutas
Autores: Alejandro Alaniz, Christian Barrera, Ivan Baez, Patricio Cuello.
Este projeto reverte a lógica fragmentária atual da face costeira de Manaus através de ações que possibilitam o vínculo cidade-rio e responde a variação do nível de água do rio otimizando o funcionamento do programa costeiro. As infraestruturas existentes na costa misturam-se com novos programas arquitetônicos e são relocadas para uma plataforma flutuante sobre o rio adaptando-se a cota variável da água. A porção do território liberado na costa se transforma em um parque urbano inundável que ameniza os efeitos da inundação na área central.
05 - Novo Porto Flutuante
Autores:David Agustin Bacurdi, Pablo Lanfranco, Juan Ignacio Mayuli.
O porto está localizado no ponto culminante de um grande sistema social e público, convertendo-se em um espaço de ócio e a porta de entrada à grande área natural da costa da cidade. A localização da nova infraestrutura surge de um estudo da localização do antigo porto de Manaus que atuava como borda que envolvia o centro histórico. Este lugar foi tratado muito sutilmente permitindo a permeabilidade direita-esquerda e acima-abaixo atando todas as situações de uma borda-costeira. Estrategicamente, o novo porto funciona como um aglomerador social e recreativo, dando as boas-vindas a área desde o rio e, ao mesmo tempo, sendo o ponto focal de todo o parque linear, fomentando a apropriação por parte do usuário da cidade.
06 - GRAPA
Autores: Jorge Aid e María Yoma.
GRAPA, é uma plataforma híbrida de ponte e programa que dissolve os limites previsíveis entre o feito urbano e o natural da selva, explorando ao máximo as singularidades de uma cidade complexa como é Manaus, colocando a serviço das pessoas suas virtudes naturais como os igarapés, e ao mesmo tempo, fazendo frente ao grave problema que assola muitas cidades latino-americanas: a marginalização e segregação social - ambiental. Seu programa é diverso e flexível, assim como são as relações entre interior e exterior. As atividades humanas cotidianas e a realidade amazônica extraordinária acabam por "enlaçar-se".
07 – PIC: Plataforma de Intercâmbio Comercial
Autoras: María Cruz Villar, Andrea Videla, Noelia Vargas
PIC MANAUS, é uma plataforma de intercâmbio comercial localizada sobre a cota 30m do igarapé São Raimundo. Ela se posiciona dando continuidade transversal entre o centro e o morro, vinculando-se com a ponte existente para criar uma zona de descarga de mercadorias e passageiros.
A plataforma acomoda o Mercado Central, sendo um polo de dinamismo, diversidade e complexidade social, constituindo um eixo fundamental de vínculo urbano. Sua localização estratégica próxima ao porto favorece o intercambio comercial e produtivo. A inserção da peça é harmônica em relação a trama urbana existente, sendo os acessos, grandes praças públicas com estacionamentos no subsolo. A ponte com 260m de comprimento e 20m de largura é diagramada através de 3 corredores: SERVIÇO, PEDESTRE e MIRANTE.
08 - Paisagem que Vai Mudando
Autoras: Yohana Cicaré e Mariana Knez
Manaus sofreu um grande incremento de população o que gerou grandes bolsões de pobreza principalmente nas margens dos igarapés. O crescimento e a falta de saneamento básico produziram condições insalubres. Nossa intervenção se desenvolve nos igarapés agrupados no vale de São Raimundo. Buscamos criar uma nova borda para possibilitar uma integração entre a cidade e o igarapé e melhorar as condições de saneamento através da vegetação. A ideia é trazer a selva novamente à cidade, através de uma reinterpretação humana da mesma.
Desta forma, buscamos conectar SO-NE através da margem do igarapé e uma conexão transversal por meio de uma sutura fluvial. Tentou-se consolidar ambas margens do igarapé intervendo na trama viária existente e criando, por sua vez, um sistema de percursos de uma dinâmica mais próxima ao usuário, pedestre e ciclista.
09 - Manaus +31: Novos Cenários Amazônicos
Autores: Federico del Canto, Hector Páez Ferreyra, Florencia Prato, Daniela Lusich.
Pensar em Manaus é pensar na dinâmica entre cidade e Rio Negro. Nossa proposta indaga a relação entre a borda da cidade e seu rio, assumindo todas suas particularidades. O rio Negro, principal via de comunicação, experimenta anualmente uma variação no seu fluxo que oscila entre as cotas +15 e +30 metros. A porção compreendida entre ambos os níveis determina a área que denominamos TERRITÓRIO ANFÍBIO já que encontra-se a mercê da variabilidade da água e sobre a qual se desenvolverá a nossa proposta.
A variabilidade do suporte e o crescimento desmedido da cidade têm como resultado uma qualidade ambiental precária que é agravada nas margens do centro histórico. Para reverter esta situação, propusemos um novo cenário que assume a convivência entre a cidade e a água, aproximando a urbanidade da água e a natureza a cidade e funcionando como novo suporte de reativação do centro.
* Convidamos vocês a lerem a tese completa no seguinte link.