Recentemente tive a oportunidade de visitar a exposição “Fay Jones and Frank Lloyd Wright: Organic Architecture Comes to Arkansas”, organizada pela University of Arkansas, sem comprar um ingresso ou sequer sair de casa. Essa extensa exposição sobre a vida e obra desses dois grandes arquitetos foi possível através de uma colaboração entre a University of Arkansas Libraries’ Special Collections e o Crystal Bridges Museum of American Art Library and Archives. Exibições como essas fazem parte de um movimento mais amplo dos últimos anos de tornar o conteúdo de arquivos mais acessível ao público através de plataformas online. O conceito de exposição online, contudo, é ainda embrionário e há ainda muito espaço para inovação.
A exposição de 137 imagens inclui uma vasta coleção de materiais, variando de cartas pessoais entre Jones e Wright a fotografias profissionais mostrando suas obras mais proeminentes, além de um ensaio escrito pelo Professor Associado Gregory Herman. Segundo Timothy G. Nutt, chefe das Special Collections, a exposição permite que "fãs de Wright e Jones tenham uma ideia de sua relação mentor-protégé." O ensaio introdutório e o grande número de cartas e documentos do arquivo permitem-nos apreciar a vida e a obra de Wright de forma mais íntima e compreender sua influência sobre Jones. Visto por completo, o website oferece um panorama incrível da vida desses dois influentes projetistas em um formato biográfico detalhado. Contudo, assim como qualquer plataforma online, a exposição enfrenta um desafio ao emular a experiência física completa de uma exposição tradicional, com os curadores forçados a questionar como o conteúdo digital pode engajar o espectador de formas diferentes, tirando maior proveito da plataforma.
Apesar de podermos aumentar as imagens em alta resolução e vermos cada grão de poeira sobre as fotografias originais, as imagens podem parecer chapadas e sem vida quando vistas em meio digital. Embora talvez menos crucial para a fotografia que para a pintura, escultura ou arquitetura, o efeito físico e emocional de estar diante de um artefato original é completamente excluído. Além disso, em uma exposição física a arquitetura desempenha um papel fundamental, conduzindo nosso caminho pelo espaço e influenciando nossas percepções. Exposições bem projetadas envolvem o visitante a cada passo, dirigindo sua atenção para os objetos à sua frente, removendo-o momentaneamente do mundo exterior. Sem poder contar com o espaço físico, plataformas de conteúdo digital podem empregar estratégias como animações para oferecer um maior sentido de profundidade e espaço, ou experimentar com novas estruturas para compartimentalizar os vários elementos exibidos.
Ao elaborar a curadoria da exposição, o arquivista Cat Wallack "buscou organizar o conteúdo digital em uma ordem que destacasse relações específicas entre os objetos - criando uma experiência online para o espectador que se se aproxima do modo como os visitantes veriam uma exposição física." Olhando de perto, pode-se compreender relações sutis entre as imagens, no entanto, em última instância, o formato "galeria de imagens" oferece ao usuário controle completo sobre a ordem do conteúdo. Tal controle sobre a experiência de reunir informações poderia ser visto como liberador, mas com frequência nos sentimos desorientados. Em vez de uma experiência que trás consigo uma curadoria, tal "exposição" nos lembra a imensa lista de imagens de um resultado de busca na internet, onde os croquis do arquiteto são justapostos a retratos felizes de amigos e anotações manuscritas, causando a impressão de estarmos vasculhando antigas caixas no sótão de Wright. Houve claras tentativas de aproximar o tipo de experiência que o visitante encontra em um museu, mas a interface dessa plataforma particular torna a compreensão desses temas sutis ainda mais difícil.
A interface e o modo de navegar de uma imagem para outra se tornam incrivelmente importantes quando se pensa em uma exposição online como essa. Ter que rodar a página passando por várias miniaturas, clicar em uma imagem e carregar outra página para poder ver de perto se torna uma experiência incômoda e frustrante após algum tempo. Certamente essas experiência melhorará com o desenvolvimento da tecnologia de softwares e a resolução cada vez mais alta das telas que aproxima a experiência digital de uma verdadeira descrição da realidade. Somado ao avanço da tecnologia de realidade virtual e mesmo hologramas, o museu online poderá permitir que vejamos artefatos físicos sem sair de casa. Apesar das atuais insuficiências das exposições online, não podemos argumentar contra o grande valor desses recursos ao ensino e pesquisa, e a University of Arkansas e o Crystal Bridges Museum deveriam ser elogiados por sua ousada decisão de avençar esse discurso. Tornar a informação acessível para as regiões mais remotas do mundo foi um dos maiores avanços dos últimos tempos e essa exposição se mostra um primeiro passo importante ao oferecer um serviço público de tamanha qualidade.
Visite a exposição "Fay Jones and Frank Lloyd Wright: Organic Architecture Comes to Arkansas" aqui.
Organização da exposição
Equipe Crystal Bridges: Catherine Petersen e Jennifer De Martino
Equipe University of Arkansas: Janet Parsch coordenou os esforços juntamente com Jason W. Dean, Angela Fritz, Deb Kulczak, Arthur Morgan, Tim Nutt, Martha Parker e Cat Wallack, curador do projeto.
Assistência e ensaio: Gregory Herman