"Quantos mais estarão mortos amanhã? Acreditei que havíamos construído algo onde as pessoas pudessem trabalhar, viver e estarem seguras. Se queria reduzir os custos por que não diminuiu o número de pavimentos em vez da qualidade?" Com esta frase, o arquiteto Doug Roberts (Paul Newman) recrimina o construtor da sua "Torre de Vidro" - edifício mais alto do mundo em 1974 - depois que um enorme incêndio acaba com a vida de quase 200 pessoas durante sua festa de inauguração.
Este incrível filme enfrenta o cidadão dos ano 70 - não acostumado a arquitetura em grande escala - com um enorme arranha-céu que é visto tanto como atrativo quando como ameaçador. Hoje em dia, quando nossas cidades estão inundadas de torres de grande altura, o filme parece ter uma especial relevância, apresentando uma série de interessantes temáticas relacionadas com nossa profissão.
Como a figura e a relevância do arquiteto mudou nos últimos 40 anos? Até onde chega nossa responsabilidade após desenhar um projeto? Tem sentido continuar enchendo nossas cidades de arranha-céus?
O filme realizado me meio ao boom imobiliário que sofreu a cidade de São Francisco entre 1960 e 1980, uma "onda de Manhattanização" que mudou definitivamente o seu skyline. De alguma maneira, seus criadores (o filme é baseado em dois livros de diferentes autores) estavam à frente do que viria. Atualmente, São Francisco é a segunda cidade com edifícios mais altos da costa oeste dos Estados Unidos, depois de Los Angeles, e a sétima a nível nacional, depois de Nova Iorque, Chicago, Los Angeles, Houston e Dallas
O arranha-céu fictício do filme se apresenta como uma torre de 138 pavimentos e 550 metro de altura, um equivalente ao One World Trade Center (541 metros de altura), inaugurado em 2014 em Manhattan. O edifício mais alto do mundo em 2015, continua sendo o Burj Khalifa, inaugurado em 2010 em Dubai, com 828 metros de altura. Seria este o caminho certo?
CENAS CHAVE
1.O Skyline de São Francisco em 1974
O protagonista retorna das suas férias sobrevoando a cidade de São Francisco em helicóptero. Isto nos permite ver o skyline que mostrava a cidade no ano de 1974, com mais ou menos 17 edifícios de grande altura (evitando a "Torre de Vidro", claramente distinguível na imagem inferior). Hoje em dia, São Francisco possui 410 arranha-céus, dos quais, 44 possuem altura superior aos 122 metros.
2. A Figura do Arquiteto, 40 anos atrás
Já nas primeira cenas, é possível notar como o arquiteto da torre é esperado ansiosamente para a inauguração do edifício. É recebido no heliporto e é - excessivamente - respeitado pelos seus colegas e por sua equipe de trabalho. O arquiteto se apresenta como uma figura de importância na hora de resolver problemas, utilizando um vocabulário muito técnico e enfatizando seu conhecimento relativo às instalações e mecanismos dos edifício.
3. Os cidadãos impressionados com a arquitetura
A inauguração do edifício é o evento do ano. Os cidadãos se impressionam com sua altura e suas modernas instalações; a alguns, a obra lhes causa desconfiança, enquanto que outros sonham em viver nele. Um grande tapete vermelho espera os convidados da inauguração - convocando um grande número de jornalistas - e em reiteradas ocasiões mostra-se as pessoas olhando para cima. Continuamos nos assombrando com este tipo de arquitetura no dia de hoje?
4. Uso Misto: diferentes programas em um só edifício
O arranha-céu se apresenta como uma espécie de cidade, multi-programático e aparentemente autossuficiente. Os espaços são amplos, luminosos e modernos, incluindo escritórios, moradias e até mesmo ateliês de arte para as crianças. Os diferentes programas da torre são separados por níveis, para funcionar em paralelo, porém de forma independente.
5. A Maquinaria por trás do arranha-céu (e a importância da parte técnica)
Através do roteiro do filme, enfatiza-se o mecanismo que permite o funcionamento do edifício. Em repetidas ocasiões, são mostradas as salas de máquinas e seus operários trabalhando (inclusive se vê o arquiteto revisando as caixas elétricas). A história enfatiza o trabalho específico de diferentes envolvidos na sua construção e coloca em discussão a responsabilidade de cada um deles, em relação ao incêndio.
6. O Arquiteto como um Herói
"Todos querem saber por que o melhor arquiteto do mundo não está aqui". Enquanto a festa de inauguração começa no andar 135, o arquiteto procura resolver um problema elétrico que logo causará o grande incêndio que dá nome ao filme. Doug não somente busca o responsável por não seguir suas especificações técnicas, mas também se envolve completamente; trabalha junto com os bombeiros, auxilia seus companheiros e inclusive apaga o fogo com suas próprias mãos.
7. Locações reais utilizadas para dar vida a "Torre de Vidro"
Para a entrada da torre foi utilizada a praça de acesso dos escritórios centrais do Bank of America, conhecida atualmente como 555 California Street e localizada no Distrito Financeiro da cidade. As cenas no hall e seus espetaculares elevadores de vidro, foram filmadas no Hyatt Regency San Francisco. As áreas de vigilância da torre foram filmadas no subterrâneo do Century City, enquanto a mansão do engenheiro elétrico está localizada no endereço 2898 Vallejo Street, no bairro Pacific Heights.
8. A Maquete da "Torre de Vidro"
Para a realização de algumas cenas exteriores do arranha-céu, foi construída uma maquete de 21 metros de altura, isto permitiu a equipe criar pequenos incêndios na torre para serem incluídos no filme, sem perder o realismo. Entre estas cenas, também incluiu-se o momento da inauguração em que se acende todas as luzes do edifício.
FICHA TÉCNICA
Direção: John Guillermin, Irwin Allen
País: Estados Unidos
Ano: 1974
Duração: 165 min.
Gênero: Ação, Drama, Catástrofes
Roteiro: Stirling Silliphant, baseado nos livros "The Tower" de Richard Martin Stern e "The Glass Inferno" de Thomas N. Scortia y Frank M. Robinson
Música: John Williams
SINOPSE
Doug Roberts, arquiteto, volta de um longo período de férias a tempo para ver o resultado do seu último desenho: o arranha-céu mais alto de São Francisco. Durante a festa de inauguração, realizada no último pavimento, o arquiteto nota que suas especificações técnicas não foram seguidas ao pé da letra e que as instalações elétricas do edifício continuam tendo curto-circuitos.
Uma das falhas provoca um incêndio e os convidados se vêem encurralados pelo fato, já que ao estar em uma altura tão elevada, é impossível controlar o fogo. Mas, o arquiteto do arranha-céu contata o chefe dos bombeiros e planeja uma solução.