Em tempos muito remotos, os humanos vagueavam em grupos mais ou menos organizados, caçando e comendo do que havia. Não tinham ainda descoberto como domesticar animais e cultivar plantas; não produziam excedentes e não havia cidades. Um dia, do alto de uma colina um chefe de um desses grupos viu ao longe uma nuvem de pó que avançava e pensou: se matarmos aqueles, toda a caça e mantimentos que eles possuem será um excedente para nós. Assim fizeram e continuaram na colina exercitando armas. Quando avistaram outro grupo, pensaram melhor: matamos a maior parte e escravizamos os mais fortes para ficarem a trabalhar para nós a ver se domesticam aquelas cabras bravas. Tal qual. Pelo sim, pelo não, e porque aquela colina era estratégica e os outros invejavam suas riquezas e posição, fortificaram o lugar e ergueram uma torre no meio. Tinha nascido a primeira cidade.
Os tempos mudaram muito entretanto. Já ninguém quer ficar na mesma colina para todo o sempre, andar a mando dos mesmos e a vida é outra. Fizeram-se estradas e tudo circula de um lado para o outro. Mas, porque se estima muito o passado, conservam-se as velhas torres como relíquias daquela energia primeira que persiste nas novas cidades de agora.
A série de textos do livro A Rua da Estrada é publicada no Correio do Porto