Com a recente notícia de que Frei Otto foi o vencedor do Prêmio Pritzker de 2015 - homenagem adiantada em duas semanas devido ao falecimento do arquiteto do dia 9 de março, o que fez dele o primeiro a receber a honraria postumamente - entrevistamos um grupo de renomados arquitetos sobre o que pensam da entrega do prêmio ao alemão. Eles destacaram o espírito visionário de Otto, sua inventividade, destreza técnica e importância da pesquisa em seu trabalho. Um arquiteto com uma trajetória consolidada que, na opinião dos entrevistados, poderia ter recebido a honraria anteriormente.
Saiba, a seguir, o que pensam Paulo Mendes da Rocha, Alejandro Aravena, Iñaki Ábalos, entre outros, sobre o reconhecimento de Frei Otto:
PAULO MENDES DA ROCHA
Premiado com o Pritzker em 2006
O mundo todo ficou encantado com o foco na arquitetura do Frei Otto. Pritzker 2015.
Expulsou a atração da gravidade. Fez com que flutuassem as catedrais.
Usou cordas e panos como os navegantes.
Uma visão erótica da vida, exibindo o êxito da técnica.
ALEJANDRO ARAVENA
Jurado do Prêmio Pritzker e Diretor Executivo do Elemental
Frei Otto criou ao longo de sua vida não apenas espaços e construções criativas, inovadoras e sem precedentes, mas também criou conhecimento. É aí que reside sua maior influência: não como formas que foram copiadas, mas como caminhos que se abriram graças às suas pesquisas e descobertas. Nesse sentido, sua contribuição ao campo da arquitetura não foi apenas hábil e talentosa, mas também de uma grande generosidade.
MAURICIO ROCHA
Co-fundador do Taller de Arquitectura
O trabalho de Frei Otto merecia esse reconhecimento há muito tempo; seu projeto de coberturas consegue resolver granes espaços arquitetônicos com uma engenharia avançada para sua época. Lembra-me em certa medida o trabalho Félix Candela, porém em contextos diferentes e com materiais adequados a cada realidade. Desde pequeno me impressionava o estádio olímpico de Berlim e suas coberturas flutuantes. Herdei de meu pai dois livros de Frei Otto e sempre que olhava para eles me perguntava porque não lhe haviam concedido o Pritzker.
Para mim o Prêmio Pritzker deve ser dado à trajetória de um arquiteto com clareza de ideias e maturidade nos resultados, em sua maioria arquitetos com mais de 60 anos; no caso de Frei Otto, chegou tarde, com seus quase 90 anos e poucas horas para desfrutar do reconhecimento antes de sua partida, deixando clara a importância de conceder esse prêmio à solidez e congruência de uma arquitetura, sem concessões e com muita força.
IÑAKI ÁBALOS
Diretor do Departamento de Arquitetura de Harvard GSD e Curador do Pavilhão da Espanha INTERIOR na Bienal de Veneza 2014
Frei Otto nos demonstrou que ciência e beleza são partes essenciais da arquitetura; acompanhadas de gana e inspiração, elas produzem imagens inesquecíveis, experiências únicas. Minha admiração pela pessoa e por sua obra não tem limites; quando volto às imagens da construção das coberturas de Munique publicadas em seu dia, tenho calafrios, quase vertigem, frente à segurança, ao risco e à maestria, e não consigo tirar da cabeça a ideia da construção de catedrais medievais...
Ah! E me alegra especialmente que o Pritzker não se deixe enganar por retóricas sociais de segunda, a verdadeira contribuição da arquitetura está no conhecimento. Parabéns!
FERNANDA CANALES
Doutora Arquiteta, Curadora da exposição Arquitectura en México 1900-2010
É um prêmio que chega tarde, não apenas porque o arquiteto faleceu um dia antes de anunciarem seu reconhecimento, mas pela dissociação da arquitetura de sua coerência estrutural. O legado de Frei Otto nos faz lembrar da importância de compreender as construções com sabedoria estrutural, grande conhecimento técnico e simplicidade formal.
JUAN HERREROS
Doutor Arquiteto, Professor da Escola de Arquitetura de Madri e da Columbia University
Frei Otto nos deixou essa obra impressionante e atemporal que é o estádio olímpico de Munique, na qual muitos de nós identificamos certos ideais de leveza, dissolução formal, encontro entre disciplinas e displicência otimista. Com o tempo, Frei Otto foi dando outros passos necessários, sempre à frente das novas inquietações que não diziam respeito apenas à arquitetura: a necessidade de construir uma agenda sustentável, a importância dos conhecimentos transversais, a urgência de desfazer a prática ortodoxa da arquitetura como a única nutrida de nobreza. Celebramos que o Pritzker se lembre de vez em quando desses personagens heterodoxos que tanto ajudam a desanuviar a tensão em nossa disciplina, e lamentamos seu desaparecimento que, no entanto, terá a contrapartida positiva de nos fazer voltar nossa atenção para sua obra.
PAULO ANDRE BARROSO
Engenheiro civil especialista em tensoestruturas
Meu primeiro contato com as coberturas tensionadas deu-se lá pelos idos dos anos 1976-77, no Canadá, quando estudava para um mestrado na área de estruturas. A principio meu interesse eram as estruturas metálicas e portanto as tensocoberturas naquele tempo, não me chamaram muita atenção. Anos depois, por volta de 1980, quando de minha visita a Munique na Alemanha, sofri um grande impacto e fiquei estarrecido com as coberturas translucidas suportadas em uma malha de cabos de aço do Complexo Olimpico executado em 1972. Me pareceu incrível a possibilidade da construção de um “telhado” numa superfície de dupla curvatura. Como era possível o desenvolvimento de tal geometria? Quais eram os materiais utilizados? Ali havia uma nova engenharia e de repente, fiquei altamente interessado no assunto. Foi aí que eu ouvi a primeira vez o nome de Frei Otto e aprendi um pouco sobre seu trabalho.
Para mim, como engenheiro estrutural que sou, Frei Otto é um paradigma. Frei Otto, engenheiro, arquiteto e inusitado criador de formas, foi o “poeta” das tensocoberturas, pois o significado de sua obra transcende o material em si próprio. Suas formas reversas revelam graça, leveza e integração com o modelo criativo da natureza.
BENEDETTA TAGLIABUE
Jurada do Prêmio Pritzker e Diretora do escritório EMBT Miralles Tagliabue
Quando me lembro dos muitos projetos de Frei Otto ou vejo imagens deles, me vêm fortes emoções: alegria, curiosidade, admiração, um desejo de imitar e continuar desenvolvendo. Esses fortes sentimentos que o trabalho do ganhador do Pritzker de 2015 constantemente evoca podem ser uma luz para nós todos.