Aderson Passos, arquiteto e pesquisador do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão em Projeto Digital (LED), um dos responsáveis pelo trabalho Design de Precisão, compartilhou conosco o resultado de um estudo criado no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará que seleciona, a partir de distorções paramétricas de tipologias conhecidas e recorrentes de cobogós locais, um tipo específico de cobogó/distorção para cada uma das orientações de fachada (L, O, N e S), mediante inputs climáticos de sol e ventos.
Desta forma, a peça criada é uma espécie de infograma, que situa, nas fachadas do cubo, qual o cobogó selecionado (em acrílico vermelho) para cada situação L, O, N ou S.
Portanto, foi desenvolvido um método de otimização que, adaptativo ao local de onde se retira as informações de sol, ventos e condições ideais de conforto, nos informa que tipologia conhecida de cobogó e qual distorção paramétrica da mesma é a melhor resposta para cada fachada.
Saiba mais sobre o projeto, a seguir.
Texto do Autor: "Flávio Motta*, certa vez, contou-nos sobre um xilogravurista com poucos recursos que transformava peças de seu talher em ferramenta de gravura. De fato, ele estava a nos falar sobre "Design de Precisão”. Num espaço semântico, como possível em algumas línguas como a portuguesa, o termo "precisão" tanto pode significar exatidão quanto necessidade. Portanto, "Design de Precisão" é aquele que se cria, que se forma, por necessidade, com exatidão. Assim há de ser o Design. Uma resposta criativa a uma demanda, constituindo um novo método, um novo processo, uma nova ferramenta, uma nova tecnologia.
A história do cobogó tem início no século passado. Criado para as necessidades das regiões equatoriais, tinha o propósito de reduzir a incidência da luz do sol permitindo o fluxo de ar no interior dos edifícios, das casas, das construções. Naquele tempo, uma única forma do cobogó poderia atender à demanda da arquitetura, independentemente da orientação da fachada. Atualmente, considerando a modelagem da informação e ferramentas paramétricas, propôs-se o (re)Design do cobogó considerando uma maior precisão. Para o estudo foi utilizada a latitude -3,8° e longitude -38,5° bem como a orientação norte, sul, leste e oeste das fachadas.
Simulações de exposição solar anual foram rodadas para cada variação das 4 tipologias de cobogó selecionadas, cada uma de acordo com um Índice de Forma (I.F.) que varia de 0,0 a 1,0. O I.F. determina tanto o raio do círculo desenhado nos painéis 1b e 2b como o quão distante do centro se encontram os 4 pontos nos painéis 3b e 4b. Os resultados mostram que a melhor tipologia para a proteção solar na fachada oeste (priorizada aqui devido às mais altas temperaturas no período da tarde) é o Cobogó 3, I.F.=0,7. A segunda melhor é o Cobogó 1, I.F.=0,5, para a fachada leste. Quaisquer das variações são capazes de completamente bloquear a incidência direta do sol nas fachadas norte e sul e, portanto, os ventos predominantes foram usados para determinar quais das tipologias restantes melhor se adequam a essas orientações. O Cobogó 4, I.F.=1,0, oferece menos resistência ao vento, e, assim, foi escolhido para a fachada sul. O cobogó 2, I.F.=0,0, foi o selecionado para a fachada norte, para assegurar a devida circulação."
*Flávio Motta foi professor de História da Arte e Estética na FAU-USP.
Texto por Aderson Passos e Daniel Cardoso.