Os Canastros são estas casas esguias e arejadas onde se guardavam as espigas e se defendiam da humidade e dos ratos. Quando veio das américas, o milho provocou uma verdadeira revolução nos campos: planta exigente em calor, regas, adubos, sachas e mil cuidados para que crescesse saudável e não fosse comida pelos morcões. Por isso o gado foi estabulado; por isso se cortavam matos nos montes para que o esterco dos animais depressa se transformasse em carradas de estrume; por isso se exploravam águas para apaziguar a sede da terra. O milho era o milagre do pão, a comida para os humanos e para os animais, o grão que se podia guardar, as medas de palha para o gado; o folhelho para os colchões; a moinha para as almofadas; o carolo para o lume. O milho era um dispositivo de socialização; as levadas comunitárias da água de rega; a junta de compartes para gerir o corte dos matos no baldio; as desfolhadas e o milho-rei para os namoros; a espiga para as alminhas ou o andor de S. Lourenço ou do S. Miguel padroeiro das colheitas…
Era o tempo do Portugal profundo, pré-moderno, pobre, descalço, resignado, emigrante. Por isso se cantava nas lavouras, para ludibriar a fome e ritmar o trabalho. Os da cidade achavam graça a esses camponeses, pobrinhos mas felizes e respeitadores.
Acabou-se. Na Rua da Estrada o espigueiro conserva a sua pose de quase-templo arruinado do deus Pã, testemunha dos encantamentos de outros tempos e da escassez de que se procura limpar a má memória.
Iremos então ao Café Canastro no rés-do-chão da casa kitada onde o seu dono terá morada; há onde estacionar para lá do portão aberto onde poderá ter havido um jardim, uma horta, galinhas e roupa a secar. Diz aquele losango vermelho com círculo branco no poste da luz que não se pode caçar. Ele há coisas muito estranhas e difíceis de entender…
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