Por Daniela Hidalgo, arquiteta, mestre em arquitetura e planejamento rural. Candidata ao doutorado na Universidade de Tsinghua, Pequim. Trabalhou no escritório do arquiteto japonês Kengo Kuma. Atualmente é pesquisadora da Universidade de Tsinghua.
Os padrões idiossincráticos são uma série de variáveis constantes de traços, temperamento, caráter etc., distintivos e próprios de um indivíduo ou coletivo. Antes de iniciar uma proposta, o planejador deveria realizar um estudo de como as pessoas interatuam no espaço para, assim, conhecer os limites da comunidade. Isto é, identificar os locais por onde as pessoas mais circulam, atividades e pontos de interesse. Além disso, buscar padrões de porquê um espaço é bem quisto ou não por seus habitantes. E, finalmente, mapear como as pessoas realizam qualquer tipo de atividade comum no espaço.
Um arquiteto planejador que identifica os padrões de idiossincrasia é Randolph Hester, autor do livro Projeto para a Democracia Ecológica. Durante uma entrevista em Taiwan, Hester mencionou que o papel de um planejador é ajudar a comunidade a identificar o que é mais importante em sua cultura, assim como sua forma espacial. Como exemplo, Hester mencionou um projeto em Manteo, nos EUA, que se baseia no estudo das atividades da comunidade. Os padrões de idiossincrasia identificados em Manteo, também considerados lugares sagrados, foram os seguintes:
1- Pescadores nos molhes. Característica que move a economia de Manteo; 2- Outro local que frequentam é o escritório dos correios. Distração neste local: enviar uma correspondência leva cerca de 5 minutos, porém esta atividade dura na cidade cerca de uma hora, já que o local se converteu em um ponto de interação para os moradores. 3- O restaurante holandês é onde os pescadores se reúnem as 5h da manhã para conversar sobre política. Quase todos os movimentos de protesto tiveram início ali. Os pesquisadores estudaram todas as atividades e este mapa se converteu na “estrutura sagrada” de Manteo.
Outro exemplo: durante minha viagem à Amazônia, na comunidade de Peñacocha, com um grupo de pesquisadores, realizamos o mapeamento e análise das atividades diárias dos habitantes da região. Uma delas era o embarque e desembarque em uma pequena praia nas margens do rio Napo. Curiosamente, esta comunidade possui um grande molhe construído há dois anos pela Petroamazonas que quase ninguém utiliza. Por que a pequena praia e não o molhe para embarcar e desembarcar? Os moradores mencionaram que, como o rio Napo apresentam corredeiras, se usassem o molhe as canoas seriam golpeadas contra o molhe, então, é mais cômodo utilizar a praia. Além disso, na praia podem atracar uma canoa ao lado da outra. A pequena praia é também um ponto de encontro dos habitantes de outras comunidades quando vêm trazer seus filhos à escola.
“Mapear as necessidades das pessoas é a melhor maneira de preservar a cultura”, diz Randolph Hester. Se o planejador conhece as necessidades das pessoas de um determinado lugar, entende as razões pelas quais tal lugar é apreciado ou renegado por seus habitantes. Isto permite um planejamento de acordo com os padrões de necessidade, isto é, uma planejamento que satisfaça as necessidades da maioria e, assim, reduza os custos de projeto.
Referências:
Hester, R. (2015) Entrevista pessoal: Uma visão geral da participação comunitária. Autor de Projeto para a Democracia Ecológica e Projeto Comunitário.
Hester, R. (1985). 12 passos para o desenvolvimento comunitário, Nova Iorque: Von Nostrand Reinhold Co.
Hester, R. (1990). Community Design Primer. Ridge Time Press. Pág. 81.
Pesquisa em Pañacocha, 2015.