Falar sobre arquitetura e construção sem mencionar a questão das derrapagens orçamentais não é algo fácil de se fazer. Este tipo de problemas imprevistos acabam por acontecer na grande maioria dos projetos, pois as dinâmicas da arquitetura e da construção são extremamente complexas e muitas vezes apresentam desafios que não são 100% controláveis. Ao longo dos últimos anos várias empresas de project management têm vindo a integrar a gestão de custos nos seus portfólios de serviços, fazendo um esforço para ir ao encontro desta necessidade do mercado. No entanto a maior parte deste trabalho acaba por ser feito por consultores com um background na área financeira e com pouco (ou nenhum) conhecimento sobre arquitetura ou soluções e processos construtivos.
Com esta atenção cada vez maior dada à questão do orçamento, o desempenho dos projetos quanto ao custo tem vindo a melhorar cada vez mais, mas normalmente às custas da estética e da qualidade final do projeto. Seria viável colocar os arquitetos a gerir esta vertente do projeto? No fim das contas, são eles que têm a sensibilidade conceptual e o conhecimento técnico necessários para desempenhar esta tarefa de forma verdadeiramente completa.
Na DIMSCALE temos vindo a desenvolver um modelo de gestão de custos desempenhado quase em exclusivo por arquitetos desde o final do ano de 2012. O que descobrimos é que é relativamente fácil formar arquitetos para se tornarem gestores de custo, mas que é quase impossível convencer um consultor de que o segredo do sucesso de um projeto está no seu conceito, funcionalidade e qualidade. E mesmo que se consiga convencer o consultor deste facto, transmitir-lhe todo o conhecimento conceptual e técnico necessário irá ser um desafio ainda mais difícil.
Apesar de termos começado como empresa de quantity surveying a trabalhar para arquitetos, temos agora em mãos um conceito de serviço que engloba todos os aspetos necessários à gestão de custos, desde a avaliação de custos inicial até à fase de procurement. Apesar de termos engenheiros na nossa equipa a fazer trabalho muito específico em cada especialidade, a maioria da equipa é composta por arquitetos.
O conhecimento que os arquitetos têm e o seu entendimento transversal do projeto são verdadeiramente insubstituíveis – onde um consultor financeiro vê números um arquiteto vê uma série de outras variáveis que têm influência na funcionalidade, necessidades de manutenção, qualidade e conceito do projeto.
O custo do projeto está escondido em cada uma destas quatro variáveis, quer estejamos a falar de custos imediatos ou custos que se irão refletir a longo prazo relacionados com a utilização e necessidades de manutenção futuras do projeto. Durante a fase de desenho do projeto uma solução não pode ser trocada por outra sem ponderação, já que há muito mais para ser feito para além de “olhar simplesmente para a etiqueta do preço”. Os arquitetos têm uma visão de 360º de tudo o que é necessário saber para tomar estas decisões sem perder o sentido das consequências que cada opção irá ter. Uma solução que implica uma redução de custo imediata pode colocar em causa a funcionalidade do projeto e representar custos acrescidos no futuro. A verdade é que existe uma tendência para se falar de gestão de custos como sendo algo apenas relevante no curto prazo, quando é necessária uma visão bem mais abrangente e que vá para além destes tais custos imediatos.
Além da funcionalidade e das necessidades de manutenção, um arquiteto é também (de longe) a melhor pessoa para perceber o conceito do projeto e equilibrá-lo com as expetativas de custo. O âmbito conceptual do projeto é tão importante como qualquer outra variável – é o que traz significado ao projeto, tornando-o verdadeiramente completo e fazendo com que faça sentido no local onde é implementado. O conceito vai muito para além da imagem, tem implicações decisivas na utilização diária que é feita do projeto construído e no modo como as pessoas vivenciam esse espaço. Os arquitetos compreendem de que forma cada decisão irá ou não trazer valor ao projeto de forma muito prática e direta.
Recentemente, por exemplo, trabalhamos num projeto para um edifício universitário (IB-S) localizado no norte de Portugal. A primeira estimativa que fizemos excedeu em muito o orçamento imposto pela faculdade, mas o trabalho de otimização de custos que levamos a cabo juntamente com o arquiteto do projeto (Arq. Cláudio Vilarinho) tornou possível manter o aspeto conceptual principal do projeto: a pele da fachada em betão. Tivemos para tal que reduzir o custo do edifício, mas fizemo-lo de forma a que não afetasse a sua funcionalidade, qualidade e necessidades de manutenção. O projeto está atualmente em fase de construção e tudo está a correr como previsto, incluindo o planeamento de custos, sendo que o feedback que temos tido quer do arquiteto quer da universidade tem sido bastante positivo.
Neste caso específico a otimização de custos acabou por desempenhar um papel decisivo em todo o processo. O arquiteto Cláudio Vilarinho reconheceu a importância da gestão de custos para o projeto: “A gestão de custos é vital para a concretização de qualquer projeto. O arquiteto projetista tem que ser cuidadoso e tentar respeitar um orçamento realista, que o cliente deve desde logo providenciar. Geralmente o arquiteto projetista tem alguma dificuldade em conectar a criatividade com o custo. Com o projeto do IB-S tivemos exatamente este problema, e por isso sentimos a necessidade de complementar a nossa equipa com uma equipa externa.”
Outro exemplo de como temos adicionado valor aos projetos através deste conceito é a parceria que mantemos há cinco anos com o Atelier Central Arquitectos. O arquiteto José Martinez reconheceu também que esta ligação com a DIMSCALE tem-lhe permitido apresentar aos seus clientes projetos mais consistentes: “Consideramos indispensável, extremamente importante, que o nosso cliente possa ter uma ideia real do investimento que está inerente aquilo que se está a tentar obter em cada uma das fases do projeto”. O escritório lisboeta do arquiteto José Martinez tem confiado no conceito de Architecture Cost Management na sua intervenção nos projetos, logo desde os primeiros estudos. “Esta proximidade permite ao Atelier Central ter uma consciência permanente do custo associado a cada opção, logo desde a fase de esquisso. Esta colaboração tem resultado em projetos muito consistentes sem grandes surpresas ou desvios orçamentais, evitando a sempre embaraçosa situação de revisões de projeto que têm que ser feitas para ir de encontro ao orçamento do cliente. Tão importante como sonhar é ter a noção da realidade.”
Os arquitetos precisam de se aperceber do valor do seu próprio conhecimento e de compreender que podem ser uma mais-valia em outras posições que não o desenho de Arquitetura – contradizendo assim o cenário atual em que os projetos de Arquitetura são geridos por engenheiros ou consultores financeiros. No nosso ponto de vista, o melhor cenário seria a especialização dos arquitetos em áreas mais específicas dentro da Arquitetura, Imobiliário e Construção, adicionado a cada especialização o conhecimento geral e a compreensão transversal do projeto que só os arquitetos podem trazer.
Artur Sousa é CEO da DIMSCALE, uma companhia portuguesa especializada em oferecer serviços de gestão de custos para projetos arquitetônicos e imobiliários. Atualmente, cerca de 90% de sua equipe de produção é composta por arquitetos.