Arquiteta e urbanista formada pela UnB, Gabriela Cascelli é uma das fundadoras do coletivo Arquitetas Invisíveis. Num esforço de iniciar uma discussão sobre arquitetura, urbanismo e gênero, ela escreveu este texto no qual pretende debater questões de contrastes entre o "público e privado" e o "masculino e feminino", presentes na construção social e urbana.
Leia o texto, a seguir.
" (...) Com a modernidade, houve uma construção social dos gêneros que excluiu a mulher da vida pública e do trabalho produtivo e representativo, delegando a ela tarefas relacionadas ao espaço privado e alheia ao mundo público. A mulher não desfruta plenamente de sua reclusão e privacidade, pois para isso é necessário fazer parte da vida pública.
Foi-se construindo o privado como direito à propriedade, à privacidade e à intimidade, enquanto o público deveria servir como garantia de igualdade de oportunidades, de oferta de serviços e de bem-estar. De acordo com Hannah Arendt, há uma esfera que permeia tanto o público quanto o privado, que é a esfera social. Se a esfera pública se refere ao comum, àquilo que se expressa e que se propagandeia em um amplo mundo compartilhado, é na esfera social que se “comunica” o privado. Por outro lado, a esfera privada está relacionada à intimidade e à propriedade, e sua concepção parte da consciência de “estar privado de coisas essenciais de uma verdadeira vida humana. Estar privado da realidade que provém de ser visto e ouvido pelos outros”. Por isso, carecer de um lugar próprio, privado, significa deixar de ser humano.
A habitação, um dos direitos universais, é definida por Zaida Muxí como “poder desenvolver as diversas esferas da vida em igualdade de oportunidades, com intensidade e integridade.”. Assim, as mulheres vêm sendo privadas de seu direito à habitação, bem como do seu direito à cidade. Essa exclusão, ironicamente, tem aparatos legais para ser superada, como a Constituição de 1988 e o Estatuto da Cidade.
Estando a mulher, portanto, privada da vida pública, os movimentos feministas foram responsáveis pela constante busca de seus direitos. É recente a conquista de direitos básicos, como a participação da vida política, acesso aos estudos e ao mercado de trabalho. E mesmo assim, ainda há um lento avanço que busca eliminar o papel socialmente construído para a mulher, que lhe impõe salários mais baixos para realizar as mesmas funções, jornadas duplas e triplas, recorrentes abusos morais e sexuais, pouca representação política nas instâncias de poder (tanto na arquitetura quanto nos cargos de Governo) e dificuldade de acesso à cidade. (...)"
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