Na Colômbia, o arquiteto estadunidense Frank Locker tem assessorado a Secretaria de Educação de Bogotá, guiando arquitetos e construtores sobre o modelo de uma nova infraestrutura escolar, capaz de enfrentar as constantes mudanças sociais e culturais da sociedade colombiana. Com vasta experiência em arquitetura educacional e ambientes para aprendizagem, Locker afirma que estamos nos limitando a replicar, literalmente, o modelo espacial das prisões, sem interesse algum em estimular uma formação integral, flexível e versátil.
Segundo o professor da Harvard GSD, continuamos repetindo a grande fórmula do século XX: professores transmitindo um conhecimento rígido e básico, de caráter unidirecional e massivo às novas gerações, ignorando o fato de que todos os estudantes possuem distintas motivações, interesses e habilidades. A comparação com a prisão não é exagero. "Com que espaço você relacionaria uma fila de salões de porta fechada com um corredor no qual não se pode estar sem permissão e um sinal sonoro que ordena entrar, sair, terminar ou começar as aulas?", questiona Locker.
Então, como seria o projeto das escolas do século XXI?
Que em nível mundial os modelos educacionais estejam em constante questionamento e transformação (ou 'crise'), não é uma novidade: temos visto desde a Revolução Francesas e a queda do monopólio eclesiástico da educação no Antigo Regime até o atual debate público no ultraconservador Paquistão sobre se é necessário educar tanto as mulheres quanto os homens (atualmente 86% apoiam essa ideia), passando pela ofensiva militar dos extremistas islâmicos Boko Haram ('a educação ocidental é pecado') que buscam a erradicação da atual formação educativa na Nigéria para impor a lei islâmica (sharia) em todo o país.
As transformações educativas requerem longos períodos e seus frutos são cozidos à fogo baixo. Curiosamente são promulgadas por aqueles que viveram em sistemas educativos já oxidados e seus resultados serão visíveis em gerações que ainda nem iniciaram sua formação. Entretanto, e seja qual for o sistema - positivo ou negativo - a arquitetura costuma refletir estas visões em vez de revoltar-se contra elas, pois é a materialização das visões formativas estipuladas pelo Estado e os privados além das margens permitidas para a criatividade espacial.
Então, em plena era da informação (mais correto do que falar de uma era do conhecimento), os cidadãos exigem diferentes mudanças nos seus modelos educativos e em diferentes velocidades para diferentes sociedades e idiossincrasias. A nossa disciplina, a GSAPP da Columbia, dirigida por Mark Wigley estimulou desde a teoria até a formação das futuras perguntas de arquitetura, enquanto na América Latina, estudar arquitetura continua sendo um fórmula segura para a ascensão social. Do mesmo modo, na África e Ásia, os novos arquitetos continuam abordando as necessidades básicas de infraestrutura e serviços em países em vias de desenvolvimento.
Deste modo, como então a arquitetura influencia na criação de espaços educacionais?
Colégio como prisão e o medo do professor
O arquiteto estadunidense, Frank Locker, afirmou em uma recente entrevista para o jornal colombiano 'El Tiempo' que sua aproximação com a arquitetura educacional foi produzida curiosamente quando começou a receber requerimentos sobre infraestruturas formativas que se afastaram do modelo tradicional de colégio, ou seja, 'como prisões'. Quando consultado sobre porquê os colégios de hoje foram desenhados como prisões, Locker responde:
"Nos Estados Unidos, as mesmas pessoas que desenharam as prisões, desenharam também muitos colégios. Com que espaço você relacionaria uma fila de salões de porta fechada com um corredor no qual não se pode estar sem permissão e um sinal sonoro que ordena entrar, sair, terminar ou começar as aulas?"
O ordenamento espacial e o tempo que as crianças passam neste tipo de infraestrutura se reflete na sala de aula: em outra entrevista a um jornal colombiano, Semana, Locker adverte que "em algumas culturas espera-se que se tenha medo do professor e este tipo de infraestrutura contribui para apoiar essa filosofia pedagógica". Não é necessário indagar-se muito para respaldar essa ideia: relembremos a distribuição das mesas e cadeiras nos nossos colégios e o professor como fonte inatacável e impecável do conhecimento.
Além disso, estamos no século XXI, em plena idade da informação e o professor deixa de ser o dono do conhecimento. Com novas gerações formadas e alimentadas através dos múltiplos canais que oferece a internet, seu papel deve ser o guia que facilita e orienta os alunos a criar seu próprio conhecimento. E claro, essa mudança de paradigma sobre o papel do professor possui repercussões espaciais. Locker reconhece:
"Estes salões fechados, retangulares e isolados funcionam muito bem para esta modalidade de aprendizagem, pouco afetiva para reter conhecimento. Além disso, está centrado no docente e não no estudante e não oferece aos alunos as habilidades que necessitam para sobreviver no mundo de hoje."
Locker Postula que as escolas devem permitir a existência de uma comunidade, "que haja espaços para grupos de estudantes de várias idades, que em um mesmo lugar possam ser realizadas atividades simultâneas e que tenham ferramentas para facilitar a aprendizagem ativa", onde "os estudantes deixem de ser anônimos, evitando assim problemas de convivência. São lugares onde o diretor e os professores realmente conhecem seus alunos". As salas são de forma circular, tendo ferramentas para facilitar a aprendizagem ativa, por exemplo, móveis que favoreçam a colaboração entre alunos, com acesso a dispositivos móveis e laboratórios para projetos.
A escola: flexível, educativa, pública e urbana
Coincidem nesse pensamento a jornalista e historiadora Anatxu Zabalbeascoa e a politóloga catalã Judit Carrera que resgatam, em recentes colunas, as lições da educação finlandesa após 40 anos de ensaio e erro, com a arquitetura como ator primordial na materialização dos objetivos estatais.
Enquanto Zabalbeascoa afirma que "os melhores espaços educativos são aqueles que foram desenhados para todos, os que estabelecem uma relação como lugar e com o mundo exterior em vez de isolar, os que são flexíveis e que podem se reinventar", então Carrera resgata em "A escola como espaço público" que os finlandeses "concebem as escolas como espaços simultaneamente urbanos, educativos e políticos. Como espaço físico, a escola aspira proporcionar o bem-estar do lar. Para os arquitetos finlandeses, projeto de um centro escolar é motivo de orgulho e prestígio", além do habitual apoio do investimento público no desenvolvimento de jovens arquitetos.
No entanto, o êxito da Finlândia não nos pode obscurecer a visão, pois não é possível replicá-lo como uma franquia de comida rápida ou uma receita farmacêutica ao redor do mundo, por mais tentador que nos pareça; Tal como uma lição de arquitetura, isto trata-se do...contexto. Sim, contexto social, econômico, espacial, geográfico e perceptivo. Claro, não é possível entender o êxito do modelo nórdico sem considerar a feroz pressão cultural da Rússia após sua independência - país do qual se separou em 1917 - e uma economia atrasada em meados dos anos 50, enquanto o resto da Europa se recuperava da Segunda Guerra Mundial através da industrialização, consumo e da progressiva urbanização da sociedade.
"Em 1970 tínhamos um baixo nível educacional, éramos uma nação agrícola pobre, que necessitava de uma melhor educação para desenvolver nossa prosperidade e segurança. O debate político foi feroz e acalmou-se somente quando as legislações foram aprovadas", afirmou Pasi Sahlberg, especialista finlandês em política educativa, em uma recente entrevista a um jornal chileno, sobre o contexto histórico da Finlândia e das reformas que transformaram seu país há 40 anos.
Apesar da impressa se apressar em apresentar os postulados de Locker e da receita finlandesa como a "educação do futuro", na realidade a necessidade de reformular os paradigmas formativos a nível espacial são contemporâneos. Parafraseando Mark Wigley, talvez estamos dando as respostas corretas a perguntas mal formuladas. Então, antes de pensar como desenhar os futuros (atuais) espaços de arquitetura educacional, a pergunta é outra: o que buscamos exatamente ao (nos)educar?
Si bien la prensa se apresura a presentar los postulados de Locker y la receta finlandesa como la "educación del futuro", en realidad la necesidad de reformular los paradigmas formativos a nivel espacial son contemporáneos. Parafraseando a Mark Wigley, quizás estamos dando las respuestas correctas a preguntas mal formuladas. Entonces, antes de pensar cómo diseñar los futuros (actuales) espacios de la arquitectura educacional, ¿qué buscamos exactamente al educar?