No início do mês de março, no Palácio de Governo do Chile, foi organizado um evento inédito para a arquitetura chilena: membros do governo, autoridades do governo e a imprensa se reuniram para participar, da primeira conferência de imprensa em espanhol realizada pela Bienal de Veneza.
Neste contexto, um emocionado Alejandro Aravena, curador desta edição da Bienal de Veneza e primeiro sul-americano a desempenhar este papel, apresentava as últimas notícias acerca de "Reporting from the Front", a 15ª Mostra de Arquitetura que abriu suas portas ao público do dia 28 de maio:
Tanto a Bienal, quanto os arquitetos convidados, ou os que estão trabalhando na curadoria, não pretendem outra coisa senão abrir um debate que possibilite que a arquitetura e a cidade melhorem a qualidade de vida, e que os arquitetos possam compartilhar seu conhecimento para alcançar esse objetivo.
Não é a mesma coisa colocar estas questões em nossos espaços comuns de fala e colocar-las no Palácio Presidencial. De alguma forma, este evento transmite a mensagem de que estes temas são importantes. Por isso, muito obrigado pela oportunidade de estar aqui.
A presença da Presidente em um acontecimento como este é um símbolo que consolida um capítulo de avanços e conquistas da arquitetura chilena no mundo. Nas últimas décadas, a arquitetura chilena posicionou-se no mundo como uma das produções mais potentes, levando arquitetos nacionais a receber o reconhecimento que há alguns anos atrás não se podia imaginar.
E quando pensávamos que o clímax desta chuva de êxitos internacionais havia sido a nomeação de Aravena como Diretor da Mostra Internacional de Arquitetura de Veneza, recebemos a notícia de que a edição de 2016 do Prêmio Pritzker, o maior reconhecimento ao qual um arquiteto pode aspirar, seria entregue ao mesmo em janeiro passado.
Todos estes sucessos nos assinalam que a arquitetura chilena parece estar em seu melhor momento, e esta versão da Bienal de Veneza deveria ser um medidor do verdadeiro impacto que sua produção está tendo no mundo. A seguir, lhes deixamos com aqueles projetos que provem de uma geração jovem de arquitetos, que graças a seu próprio talento, ao uso das tecnologias e à compreensão de seus contextos locais como background para inserir-se em uma rede internacional, conseguiram se destacar entre a multidão através de um consistente discurso arquitetônico.
Parte importante do boom da arquitetura chilena no mundo poderia ser atribuída às possibilidades de difusão que representa a internet, canalizada por meios especializados. David Basulto vem literalmente "reportando da frente" há 10 anos, desde 2006, quando, junto a David Assael, fundou a Plataforma Arquitectura, o site da internet que de Santiago do Chile conseguiu tornar-se no endereço de arquitetura mais visto no mundo, e que hoje funciona pelo nome ArchDaily. Exatamente sua visão, crítica e especialização, mas, sobretudo, sua visão de estrangeiro o levaram a ser convidado pelos Países Nórdicos para ser o curador de seu pavilhão, um dos mais importantes em Giardini.
Finlândia, Suécia e Noruega são países que, aos olhos latino-americanos, nos parecem idílicos, locais onde as necessidades básicas encontram-se contempladas e as discussões acerca dos problemas que na América Latina nos afligem, parecem ser inexistentes. Diante disso, Basulto apresentará "In Therapy", uma reflexão arquitetônica a respeito do caminho para o qual se dirigem estas sociedades consolidadas, mas que seguem tendo complexidades específicas em seus contextos sociais e culturais.
A apenas alguns passos do Pavilhão dos Países Nórdicos, encontra-se o Pavilhão dos Estados Unidos. As curadoras Cynthia Davidson e Mónica Ponce de León selecionaram uma série de propostas especulativas para locais específicos em Detroit, dentre os quais encontra-se o projeto do escritório A(n) Office, composto por V. Mitch McEwen e o chileno Marcelo López-Dinardi.
Tanto em Giardini, quanto em Arsenale, ocorrerá a Mostra Central "Reporting From the Front", para a qual Alejandro Aravela convidou escritórios de arquitetura do mundo inteiro a apresentar seus trabalhos e métodos para contribuir com o melhoramento da qualidade de vida. Em Arsenale, o arquiteto da Universidade do Chile e Universidade de Harvard, Felipe Vera, está apresentando seu estudo do maior assentamento temporário do mundo, o Kumbh Mehla. Junto ao arquiteto indiano Rahul Mahrotra, questiona-se a respeito da importância da permanência do urbanismo e da arquitetura através de um pavilhão que foi construído com os mesmos elementos com os quais se constrói uma cidade completa que a cada 12 anos abriga a 5 milhões de pessoas para celebrar uma das festas religiosas mais importantes da Índia.
Se o provérbio chileno "Talca, Paris e Londres" originou-se com o objetivo de posicionar Talca, uma cidade localizada no vale central do Chile, como parte das grandes potências urbanas, no cenário da arquitetura o slogan não se distancia muito da realidade. Graças ao interessante modelo de ensino desenvolvido pela Escola de Arquitetura da Universidade de Talca, que promove em seus estudantes o trabalho de autogestão, em sintonia com as comunidades locais e a seu contexto rural, Talca transformou-se em um caso fascinante para o mundo.
Em Veneza, poderemos ver estes singulares métodos de ensino expostos em "A contracorrente", o Pavilhão do Chile, curado pelo Diretor da Escola de Talca, Juan Román, e o acadêmico formado pela mesma instituição, José Luis Uribe.
Além disso, como parte da Mostra Internacional convocada por Alejandro Aravena, o Grupo Talca, escritório de arquitetura composto pelos arquitetos Rodrigo Sheward e Martín de Solar, reconstruirão o Mirante Pinohuacho, obra icônica da produção emergente da Escola de Arquitetura de Talca. Pinohuacho nasceu diante da necessidade de salvar os bosques ao sul do Chile e potencializar seu turismo, para o qual os Vásquez, uma família dedicada ao ofício da madeira, encomendou há dez anos a Sheward, a construção de um mirante. Este mesmo projeto que será construído próximo a Villarrica foi desmontado e levado a Veneza, onde se voltará a construi-lo.
Contribuindo com esta descentralização da boa arquitetura que se produz no Chile, poderíamos dizer que os arquitetos Pezo Von Ellrichshausen são alguns dos maiores expoentes, com uma interessante produção gerada no sul do Chile, em Concepción. Sua obra é reconhecida no mundo todo e depois de 2014, quando conquistaram o prêmio MCHAP por sua obra Casa Poli, dividem seu ano dedicando-se ao ofício em seu escritório em Concepción e as aulas que realizam em Chicago. O Pavilhão Vara, ocupa um lugar de protagonismo nos exteriores de Giardini.
Todos estes trabalhos se somarão, durante 6 meses, às propostas de arquitetos consolidados há mais tempo, como Cecilia Puga, Teresa Moller e ao escritório composto por Mirene Elton e Mauricio Léniz, que também serão embaixadores da arquitetura chilena em Giardini e Arsenale durante os próximos 6 meses.