Mestres dos Materiais: Vidro é Mais com Mies Van der Rohe

A série "Mestres dos Materiais" mostra como certos materiais têm ajudado a inspirar alguns dos maiores arquitetos do mundo. Hoje, apresentaremos o artigo sobre o vidro e como esse material influenciou a obra do arquiteto alemão Mies Van der Rohe.

Mies van der Rohe, famoso por sua frase "menos é mais", foi um dos mais proeminentes arquitetos modernistas, célebre pelo vasto uso do vidro em seus edifícios. Sua obra introduziu um novo nível de simplicidade e transparência, e seus edifícios foram muitas vezes reconhecidos como uma arquitetura de "pele e osso" devido à sua ênfase em estruturas de aço e fachadas de vidro.
Além de Mies Van der Rohe, o vidro também foi uma importante influência para muitos arquitetos do movimento moderno e reformulou a maneira com a qual pensamos e definimos o espaço.
Hoje, o vidro se tornou um dos materiais mais utilizados na construção de edifícios, mas sua maior expressão arquitetônica provavelmente é melhor exemplificada no trabalho de Mies.

De acordo com Kenneth Frampton's em "Critical History of Modern Architecture", Mies declarou sua proposta para Friedrichstrasse Skyscraper: "Eu optei pelas paredes de vidro com pequenos ângulos entre si para evitar a monotonia em grande superfícies. Descobri, trabalhando com modelos de vidro reais que o importante é o jogo de reflexos e não o efeito de luz e sombra como em edifícios comuns". Image Courtesy of Bauhaus-Archiv Berlin, Photo: Markus Hawlik

Para Mies, os vidros representavam uma expressão da então era da industrialização pela qual a sociedade passava nos primórdios do movimento moderno, assim como ele acreditava que um edifício deveria ser: "uma clara e verdadeira declaração dos seus tempos".
Graças a dois projetos de arranha-céus em Berlim datados dos anos 1919 e 1921, (ainda que estes não tenham sido construídos), Mies é comumente reconhecido como pioneiro de arranha-céus edificados em aço e vidro.
Essas estruturas iminentes, que podem parecer comuns para os espectadores atuais, foram o resultado de inovações revolucionárias na tecnologia dos materiais.
Parte dessa inovação veio de sua invenção das janelas em fita para um edifício de escritórios construído na Alemanha, em 1922. Suas faixas de vidro ininterruptas entre as faces acabadas das lajes de concreto tornaram-se uma técnica muito utilizada nas fachadas de muitas estruturas comerciais na Europa.

Pavilhão de Barcelona. Image © Flickr User: gondolas

Ele acreditava que a arquitetura deveria incorporar uma continuidade fluída espacial integrando as linhas entre interior e exterior, dessa forma, o conceito de espaço fluído é uma das forças matrizes fundamentais à filosofia projetual de Mies e o vidro era essencial para transformar essa filosofia da fluidez em uma realidade física, e os espaços abertos criados por suas colunas livres e fachadas de vidro, como os que foram utilizados no Instituto de Tecnologia de Illinois, foram vistos como revolucionários.
O conceito de fluidez espacial foi, anos mais tarde, incorporado também em seu projeto para o Pavilhão de Barcelona, onde divisórias móveis de vidros e mármores permitiram que o espaço fosse visto como flexível e independente de sua estrutura. Aqui, mais uma vez, o vidro proporciona divisão do espaço interior em diferentes recintos, mas não deprecia a ideia de arquitetura como uma série de planos perpendiculares à baixo de um telhado também plano.

A casa Farnsworth. Image © Greg Robbins

No período moderno os vidros eram tidos como a quintessência da materialidade, já que esse material possibilitava, como nenhum outro, reconectar os usuários com a natureza e era capaz de, até mesmo, alterar a forma com a qual eles a percebem.
Projetada em 1945 e construída em 1951, a icônica casa Farnsworth é a epítome do uso do vidro no trabalho de Mies Van der Rohe, e foi, de muitas maneiras, um experimento para testar seus ideias projetuais em seu limite. Philip Johnson, outro pioneiro na inovação do uso do vidro, comentou: "A casa Farnsworth, com suas paredes de vidro contínuas, é uma interpretação ainda mais simples de sua ideia. Aqui a pureza da caixa não é perturbada. Nem mesmo as colunas de aço a partir das quais ela está suspensa, nem o seu independente terraço flutuante que rompe sua pele tensionada."

Neue Nationalgalerie . Image © Gili Merin

O uso do vidro e sua transparência inerente trouxe uma sutil harmonia com a estrutura modernista racionalizada, além de possibilitar uma vista panorâmica para o Rio Fox.
Em um certo sentido, quando dispostas do piso ao forro, as paredes de vidro permitem que as folhagens da vegetação externas, por si só, funcionem como barreiras visuais dos espaços internos.
Assim, o vidro na casa Farnsworth destacou um espaço privado, como é uma moradia, que estava inserido dentro da natureza e, tirando proveito dela, tornou possível compreender a crença de Mies de que: "Deveríamos tentar trazer a natureza, casas, e o ser humano à uma unidade única e mais avançada". Refletindo sobre suas conquistas no projeto da casa Farnsworth, Mies ainda acrescentou: "Se você puder ver a natureza através das paredes de vidro da casa Farnsworth, perceberá que ela ganha um significado ainda mais profundo do que quando a vê a partir do lado de fora. Dessa forma, ainda mais é dito sobre essa natureza: ela se torna parte de um todo ainda maior."

A Casa Tugendhat. Image © isifa Image Service s.r.o./Alamy

Mies van der Rohe, também estava bem familiarizado com a importância dada pelos arquitetos no momento de implementar os materiais de formas lógicas e significativas. Em seu primeiro discurso para os alunos do IIT, em 1938, Mies discorreu sobre como os arquitetos devem abordar os elementos mais básicos da arquitetura com o material sendo a importância primordial e disse: "Nós devemos nos lembrar de que tudo depende da maneira com a qual usamos o material, e não o material por si só. Além disso, os materiais novos não são necessariamente melhores. Cada material é apenas o que fazemos com ele". Embora Mies tenha sido um grande inovador da tecnologia dos materiais, ele era cuidadoso no uso do vidro, e de sua maneira, enfatizou seus princípios da arquitetura espacial e tirou vantagem de suas capacidades de criar reflexões ou emoldurar o espaço exterior de uma maneira muito peculiar.

Com o Edifício Seagram, Mies foi pioneiro de uma tipologia particular que foi a personificação da arquitetura corporativa no final do século XX. Image © Hagen Stier

Hoje, as inovações vêm progredido em um ritmo cada vez mais acelerado e muitos arquitetos e engenheiros tem redefinido o potencial do material. Dentre os novos usos estão o vidro estrutural, que é utilizado tanto em pisos e vigas, como em fachadas esculturais, e até mesmo em painéis solares transparentes. A tendência é que a variedade do uso do vidro continue a evoluir, no entanto nunca devemos nos esquecer que temos muito a agradecer ao pioneirismo de Mies Van der Rohe e também aos outros arquitetos do início do modernismo por nos trazerem esse material à proeminência.

Sobre este autor
Cita: Rawn, Evan. "Mestres dos Materiais: Vidro é Mais com Mies Van der Rohe" [Material Masters: Glass is More with Mies van der Rohe] 14 Set 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Migliani, Audrey) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/794679/mestres-dos-materiais-vidro-e-mais-com-mies-van-der-rohe> ISSN 0719-8906

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