Através de uma carreira de somente 13 anos, o arquiteto italiano Giuseppe Terragni (1904-1943) deixou um importante legado de obras construídas que hoje são referências obrigatórias da arquitetura moderna e racionalista.
Viajamos às cidades de Como e Milão para visitar quatro obras emblemáticas que refletiam claramente sua forma de projetar; baseado na configuração organizada dos elementos arquitetônicos, que aparecem limpos, puros e expressivos... individuais, mas conformando parte essencial de um conjunto harmônico.
Novocomum, Casa Rustici, Asilo Sant'Elia, Casa Giuliani Frigerio e um bônus, a seguir.
Novocomun / Como, Itália (1927-1929)
Segundo a história, nos anos 20 o arquiteto foi encarregado pelo projeto de habitações de fachada clássica, como a maioria que eram projetadas na época. Terragni seguiu o encargo ao pé da letra e apresentou à prefeitura um edifício tradicional que foi rapidamente aprovado. No entanto, ele tinha outra ideia em mente. Nos planos de construção estava desenhado um edifício vanguardista, que hoje em dia é um ícone da arquitetura racionalista na Itália.
Ainda que em princípio tenha se pensado inclusive em sua demolição, Novocomun transformou-se em um dos edifícios mais populares da cidade graças aos inéditos gestos que o compõem; um volume limpo e ortogonal de concreto que se quebra nas esquinas através de formas cilíndricas e curvas. Sobre essas amplas aberturas curvas sobressai o volume do último piso, como um volume suspenso. Sem dúvida, um adiantado a sua época.
Casa Rustici / Milão, Itália (1933-1935)
Projetado por Terragni em colaboração com Pietro Lingeri e localizado na importante avenida Corso Sempione em Milão, este edifício de apartamentos foi concebido em um primeiro momento como dois volumes separados, dispostos de forma perpendicular à rua.
Utilizando uma singular operação para essa época, o arquiteto decidiu unificar as duas unidades através de um terceiro elemento arquitetônico: a varanda. Graças a esses grandes terraços orientados para os parques arborizados da avenida, ele conseguiu gerar uma fachada, sem muito esforço, com uma melhor integração dos edifícios vizinhos. Esta fachada "permeável" marca a entrada e cria um pátio interno para circulação e áreas comuns. Também aparece claramente a grelha de pilares e paredes da estrutura, destacada através do uso de mármore branco.
Asilo Sant'Elia / Como, Itália (1936-1937)
Dois volumes e um elemento unificador. Terragni volta a usar esse diagrama conceitual em planta para desenvolver este projeto de jardim infantil. Um dos volumes contém quatro salas, enquanto que o outro contém o refeitório e os banheiros. Nesse caso, o elemento central é o acesso, que compartilha um único espaço com um salão principal e a recepção. sobressaindo da fachada e elevando-se por sobre o terreno. Tudo isso se inscreve no quadrado imaginário de 40 metros de lado, conformando um 'U' que abraça um pátio interno de jogos.
Sua disposição 'rotacionada' em relação ao entorno parece responder à orientação solar, mas em realidade é uma jogada para desprender o edifício do restante das habitações e faze-lo aparecer magistralmente. Volta a aparecer explicitamente a grelha de pilares, para dar conta do processo projetual e geométrico da proposta.
Casa Giuliani Frigerio / Como, Itália (1939-1940)
Este é o último edifício projetado por Terragni antes de partir à guerra, obrigado a terminar o projeto através de cartas com seu amigo e colaborador Luigi Zuccoli. O interessante desse edifício é a desarticulação de seus diferentes níveis em corte, o que se expressa em suas diferentes fachadas, expostas à rua em três de seus lados.
É assim como aparecem habitações escalonadas em meios pisos e apartamentos em diferentes configuações espaciais, além de espaços flexíveis conectados por panéis móveis. As fachadas refletem tudo isso através de um jogo de janelas corridas, balcões que entram e saem e elementos metálicos lineares.
Casa Lavezzari / Milão, Itália (1934) *Bônus
Claramente não é uma de suas obras emblemáticas, mas é um edifício que resume várias das operações projetuais que desenvolveu ao longo de sua carreira. Implantado em um terreno trapezoidal de esquina, Terragni resolve essa complexidade através do mesmo diagrama que utilizou antes; dois volumes de habitação que são rotacionados e se fundem no ponto mais estreito do sítio, fazendo aparecer o acesso e as circulações.
Dessa maneira, o arquiteto aproveita o espaço triangular - o mais difícil de resolver em planta - para localizar as escadas (gesto que também adotou anos antes no Novocomun). Aparecem novamente os balcões como elementos puros e independentes nas fachadas, nesse caso, marcadas por duas grandes paredes cegas que vão do primeiro ao último nível.
* Fotografias tiradas pelo autor do texto original, José Tomás Franco, no mês de maio de 2013.