O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em parceria com o Instituto Clima e Sociedade(ICS) e o Laboratório de Experimentação Digital (LED) lançou o aplicativo MoveCidade. O app tem o objetivo de gerar dados sobre qualidade e conforto dos serviços e infraestrutura dos transportes. Por enquanto, disponível apenas para Android, o aplicativo permite avaliar quesitos como pontualidade, segurança e acessibilidade dos sistemas de transporte coletivo e de bicicletas compartilhadas.
Jedidiah Hurt, diretor do documentário App: the human story, acredita que os aplicativos desenvolvidos nos dias de hoje dizem muito sobre quem somos e como vivemos. Já se foram oito anos desde a criação da primeira loja de aplicativos, algo que, mesmo em curto prazo, causou vastamudança cultural e econômica. Esse é um dos aspectos que fortalece a imagem reiterada da tecnologia como promessa de transformações sociais e de quebra de paradigmas (para não dizer salvação); efeito disso é a frequência de notícias sobre a internet das coisas, cidades inteligentes,carros autônomos e open data. Existe, portanto, um esforço para solucionar os problemas do nosso tempo com o apoio da tecnologia e, como se sabe, a mobilidade urbana também precisa serrepensada.
Por esse motivo, cada vez mais apps são criados para auxiliar os cidadãos a experimentarem sua cidade de maneira mais abrangente. Existem aplicativos desenvolvidos para procurar rotas alternativas, conhecer a estrutura e o fluxo de trânsito de cada avenida em tempo real, relatar a acessibilidade das calçadas, consultar linhas e itinerários dos ônibus, descobrir rotas mais seguras para pedalar, localizar as ciclovias e ciclofaixas das cidades. No entanto, essas ferramentas, apesar de facilitarem o cotidiano, podem não ser efetivas na proposição de um debate maior sobre políticas públicas.
Nesse cenário, o MoveCidade surge como uma ferramenta para informar e difundir conceitos sobre os direitos dos usuários dos sistemas de mobilidade e as garantias legais que possuem. Além disso, a plataforma funcionará como canal de engajamento para que os usuários falem o que pensam dos serviços de transporte da cidade. Assim, as avaliações vão gerar um banco de dados aberto. É esse foco na avaliação que garante ao aplicativo seu ineditismo.
Rafael Calabria, pesquisador em mobilidade do Idec, explica que a partir dessa avaliação ampla das linhas, ciclovias, estações de trem e metrô de algumas capitais brasileiras, será criado um mapa da qualidade dos sistemas de transporte. Serão levados em conta temas como pontualidade, manutenção, segurança, limpeza, entre outros. A partir disso, os dados serão utilizados para incentivar as empresas e governos a melhorarem os serviços de transporte.
“Vamos identificar áreas ou vias com mais problemas, empresas concessionárias com piores notas, regiões mal atendidas entre outras coisas, e poderemos apontar problemas, falhas e erros para as empresas que gerenciam os sistemas, além de divulgar esses dados para a população, para que ela também faça uso deles”, esclarece Calabria.
O Idec está planejando reuniões frequentes com os órgãos gestores dos sistemas de Mobilidade, “para apresentarmos os dados, os mapas e os problemas e com isso cobrar a melhoria do serviço”, conta o especialista. Além disso, serão feitas divulgações frequentes dos dados para a população que, com a informação em mãos, pode exercer seu papel na cobrança por melhorias.
“Além das nossas ações específicas, pensamos que é muito importante que as pessoas usem esses dados e façam pressão por elas mesmas também. O Idec acredita muito no empoderamento das pessoas como atores de pressão política”, destaca Calabria.
O aplicativo, ainda em versão experimental, funcionará inicialmente em São Paulo. A capital foi escolhida como piloto, pois responde por 49% do total de passageiros transportados nas dez maiores capitais brasileiras.
Via TheCityFix Brasil.