A incerta utopia da arquitetura de Auroville

Próximo a Pondicherry no sul da índia está Auroville, uma cidade experimental dedicada aos ensinamentos do filósofo místico Sri Aurobindo. Com 20 km² foi fundada em 1968 pelo colaborador espiritual de Aurobindo, Mirra Alfassa. Também conhecido como "The Mother,” (a mãe) ela viu Auroville como um local onde homens de todos os países se sentiriam em casa."

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© Flickr user InOutPeaceProject licensed under CC BY-SA 2.0

Hoje em dia, Auroville possui menos de 2,500 habitantes e continua a se sustentar, embora com resultados mistos. De um lado a visão utópica da Mãe não se manteve por muito, com a presença de assassinatos, suicídios, visitantes sendo avisados para não saírem sozinhos a noite, e o controle questionável do dinheiro em uma sociedade teoricamente sem moeda.

© Flickr user InOutPeaceProject licensed under CC BY-SA 2.0. ImageThe "Lumeire" Community

Por outro lado, Auroville é um de eco-experimentação criativa, com a transformação de uma antiga paisagem de deserto em uma floresta, painéis solares suprindo a maior parte da energia consumida na cidade, cultivos orgânicos, e construções sustentáveis. Esta experimentação está nas premissas do caráter de Auroville como "lugar de pesquisas materiais e espirituais." [1]

© Auroville Foundation. Used with permission. ImageFuture School

Não é surpreendente que a arquitetura da cidade também seja uma mistura de experimentações. Existem modernas casas isoladas ao estilo Kahn, cabanas vernaculares com coberturas de palha, grupos homogêneos com nomes como “Aspiration” ou “Solitude” e centros públicos eco-friendly dedicados à construção com terra, todos ao redor de um edifício monumental central dourado.

Abaixo estão alguns dos edifícios que compõem o ambiente único de Auroville:

1. Templo de Matrimandir, projeto de Roger Anger

© Wikimedia user Santoshnc licensed under CC BY-SA 2.5. ImageThe Matrimandir Temple

Literalmente, o coração de Auroville está Matrimandir, um templo dourado implantado no centro do master plan que por sua vez, foi inspirado em uma galáxia. Embora Anger o projetou juntamente com a Mãe na época de sua comissão em 1965, o templo não foi inaugurado até 2008, levando 37 anos para ser construído. Anger comentou a inspiração em Le Corbusier, por sua "genialidade no uso da forma" e como ele era "único e corajoso em suas concepções." [2] A contradição entre essas inspirações e os ideais de igualdade de Auroville é ainda outro paradoxo da cidade.

2. O Centro de Visitantes de Auroville, projetado por Suhasini Iyer-Guigan

© Flickr user Thejaswi licensed under CC BY-SA 2.0. ImageAuroville Visitor Center

A partir da experiência escultural de Anger, Iyer-Guigan é uma arquiteta inclinada à autoconstrução, prefabricação e tecnologias alternativas de construção. Seu Centro de Visitantes é uma expressão disto, construído em 1998 de tijolos de terra compactada e ferrocimento prefabricado. Atua como centro de recepção e complexo demostrativo onde usuários podem aprender e aperfeiçoar suas técnicas de construção com terra. [3]

3. The Vikas Settlement, projeto de Satprem Maïni

© Auroville Foundation. Used with permission. ImageThe Vikas Settlement

Especialista na técnica de blocos de terra comprimidos (CSEB, sua sigla em inglês), Maini liderou o projeto de Vikas Settlement, um edifício de quatro pavimentos construído utilizando a tecnologia de CSEB. Os blocos são ditos mais sustentáveis, uma vez que podem ir ao forno com apenas 700-900ºC, ao invés dos 1.200ºC exigido pelo concreto. A incorporação de fontes de energia renováveis e sistema de gestão de águas cinzas impulsionaram o projeto como finalista da Premiação do World Habitat Award em 2000.

4. Refúgio Templo da Árvore, Mona Doctor-Pingel

© Auroville Foundation. Used with permission. ImageTemple Tree Retreat

Residente de Auroville nos últimos 25 anos, Doctor-Pingel considera a sustentabilidade "um modo de vida, e não se resume apenas a alguns dispositivos.” Fiel à sua filosofia de projeto de Bauibiology, ou Biologia Construtiva, considera os campos eletromagnéticos, materiais naturais e energias da terra em um processo de projeto que busca a harmonia do planeta. O Templo é um reflexo destes aspectos, mesclando jardins à estrutura de blocos de terracota e pisos de pedra de 'cuddapah'.

Referências:

1. Kundoo, Anupama. (2007), Auroville: An Architectural Laboratory. Archit Design, 77: 50–55. doi:10.1002/ad.557
2. Desai, Madhavi. Women Architects and Modernism in India: Narratives and contemporary practices. Routledge, 2016.
3. Miles, Malcolm. Urban Utopias: The Built and Social Architectures of Alternative Settlements. Chippenham: Routledge, 2008.

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Sobre este autor
Cita: Lam, Sharon. "A incerta utopia da arquitetura de Auroville" [The Unreliable Utopia of Auroville’s Architecture] 11 Nov 2016. ArchDaily Brasil. (Trad. Santiago Pedrotti, Gabriel) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/799071/a-incerta-utopia-da-arquitetura-de-auroville> ISSN 0719-8906

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