Este texto por Natalie Southwick foi originalmente publicado em RioOnWatch.org.br sob o título "A Importância e os Desafios de Colocar as Favelas no Mapa" e está sendo utilizado com sua permissão. Tradução por Mayã Furtado.
Mapear as favelas do Rio de Janeiro pode ser uma questão política e social controversa e o debate só foi ampliado nos últimos anos, devido ao fato de que o Rio sediou megaeventos de perfil global como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos deste ano.
Os esforços do Google para excluir e, em seguida, mapear favelas
Em 2013, supostamente a pedido da prefeitura e de empresas de turismo, o Google removeu a palavra “favela” e, muitas vezes, todas as denominações das próprias comunidades de seus mapas do Rio–comunidades que representam quase um quarto da população da cidade. Buscas produziam resultados errados e as áreas densamente povoadas apareciam no mapa como espaços em branco de cor bege ou, na melhor das hipóteses, uma série de linhas vazias com lacunas que vagamente sugeriam casas.
A ausência de favelas na ferramenta de mapeamento mais onipresente do mundo tem sérias consequências práticas–empresas locais e nomes de ruas não aparecem nos resultados de buscas, tornando ainda mais difícil para alguém não familiarizado com os bairros acessar indicações confiáveis–assim como, gerando repercussões simbólicas menos tangíveis para os moradores.
“O fato de não estar no mapa, dá uma sensação excludente. De que a gente não faz parte da cidade”, disse Paulinho Otaviano, morador e guia local do Santa Marta, em uma entrevista em Todo Mapa Tem Um Discurso, um documentário que explora questões de mapeamento, geografia, identidade e representação nas favelas do Rio.
“Não faz sentido para nós sermos excluídos desta realidade”, acrescentou.
A falha no mapeamento das favelas, no entanto, é muito anterior ao Google e aos vídeos 360 graus. Durante anos, a maioria das favelas nem sequer apareciam nos mapas oficiais criadas pelo Instituto Pereira Passos (IPP), que é a agência de planejamento da Prefeitura do Rio–apesar do fato de que essas comunidades têm sido o foco de uma série de novas iniciativas de urbanismo, como o Morar Carioca e o PAC, na última década.
O IPP só começou a sanar algumas deficiências em 2013 quando–em conjunto com o agora extinto programa UPP Social (e mais tarde o programa Rio+Social, também já extinto)–mapeou 12 favelas, que compreende 56 comunidades. Uma pequena porcentagem em uma cidade com cerca de mil favelas.
As alterações nos mapas do Google nesse mesmo ano, adotadas antes da Copa do Mundo–que trouxe milhares de turistas para o Rio–teriam sido o resultado de uma campanha travada desde 2009 pela Secretaria Especial de Turismo do Rio de Janeiro e a Riotur para ter a palavra “favela” removida dos mapas e substituída por morro, ou nada. Como resultado, as comunidades como a Rocinha, a maior favela do Rio, e a Favela Morro da Chacrinha, na Zona Oeste, tiveram a palavra retirada de seus nomes, enquanto outras, como Cantagalo, na Zona Sul, tornou-se “Morro do Cantagalo”.
Algumas favelas são comumente conhecidas como morros ou tem a palavra em seu nome, mas muitos moradores viram a mudança como mais uma forma de minimizar a evidência da sua presença na cidade.
Na época, o Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas, que organizava campanhas chamando a atenção para as violações dos direitos associados aos megaeventos no Rio, comentou: “A remoção virtual faz parte de um projeto de cidade que tenta invisibilizar a pobreza e os pobres, tanto em ambientes virtuais como na realidade, com as remoções forçadas“.
De acordo com a equipe por trás do Todo Mapa Tem Um Discurso, a mudança para mudar o nome das favelas sugere que essas áreas não contêm nada de interessante ou são simplesmente desabitadas–até mesmo comunidades como Rocinha e Complexo da Maré, e outras que são oficialmente registradas como bairros, estas duas com bem mais de 100.000 habitantes cada.
Em sua entrevista no documentário, o jornalista comunitário e morador da Rocinha Michel Silva explicou:
“A Rocinha tem sido considerada um bairro desde 1993, mas quando você olha no Google, ela não tem uma única rua registrada. Apenas a entrada. Ela não tem Laboriaux ou Caxopa, que são ruas tradicionais que todo mundo conhece. A Rocinha é conhecida internacionalmente e não tem nada no Google?”
O Google finalmente começou a responder a estas críticas e deu alguns passos públicos para sanar esse déficit. Em 2014, pouco depois de ter retirado a palavra “favela” dos mapas, a gigante de tecnologia começou a trabalhar com o AfroReggae para mapear muitas comunidades que tinham acabado de serem excluídas.
O projeto Tá no Mapa incorporou técnicas inovadoras para mapear as áreas que não são acessíveis a veículos, incluindo o envio de voluntários equipados com mochilas de gravação de alta tecnologia conhecidos como Trekkers–ao invés de seus carros habituais empunhando periscópio–para mapear as ruas que são somente para pedestres. As equipes de mapeamento, muitas vezes compostas por moradores, trabalharam em conjunto com associações de comércio locais e associações de moradores para documentar e registrar empresas locais, ruas, marcos de referência e pontos de interesse.
Segundo o Google, quando começou novamente a colaboração em 2013, apenas 0,001% das favelas do Rio apareciam nos mapas oficiais. A partir de julho de 2016, as equipes tinham mapeado 26 favelas e acrescentaram mais de 10.000 negócios ao Google Maps, com mais alguns projetados para serem completados até o final do ano.
Pouco antes dos Jogos Olímpicos, o projeto Arts & Cultura do Google também lançou o Beyond the Map (Além do Mapa), um projeto de mapeamento multimídia interativo criado em colaboração com a Epic Magazine, que oferece aos espectadores uma introdução envolvente em algumas das comunidades do Rio.
O narrador na introdução, em inglês, explica que muitos espectadores podem pensar nas favelas como um “local inexplorado e misterioso no mapa”–apesar do reconhecimento internacional de algumas favelas, e o fato de que sua natureza “inexplorada” é, pelo menos em parte, o resultado direto da falha do Google para adicioná-los a esses mesmos mapas.
Os visitantes do Beyond the Map começam no ponto de moto-táxi na parte inferior do morro de São Carlos, na região central do Rio. De lá, os espectadores podem escolher o seu próximo passo–uma viagem de alta velocidade para o topo da colina em um dos moto-táxis, ou seguir uma sequência vertiginosa filmada por um drone ao redor da cidade para o Complexo da Maré, Complexo do Alemão, Vidigal, Rocinha e as praias da Zona Sul.
Em cada um desses locais, os espectadores podem acessar vinhetas de vídeo com moradores como Paloma, uma entusiasmada estudante de Ciência da Computação, da Maré; Luis, um bailarino adolescente do Alemão; Morenas de Sol um grupo de percussão e performances só de mulheres no Vidigal; Ricardo, o fundador da Rocinha Surfe Escola; e José Júnior, coordenador do AfroReggae.
Em sua entrevista, Paloma resume os sentimentos de exclusão que afetam muitos moradores de favelas. “A favela é um ponto em branco no mapa”, disse ela. “É como se nós não existíssemos.”
José Júnior esboçou os objetivos mais amplos do projeto, que se estendem além de simplesmente colocar os nomes das ruas e adicionar os negócios no mapa físico. “Mesmo tendo a maior parte da população brasileira e, no caso o Rio de Janeiro, nesses lugares, eram locais que pareciam invisíveis”, disse ele. “Este é um projeto de inclusão. É mais do que digital, é social”.
Mas, apesar de tudo, nem todos veem esses projetos de forma tão positiva. Alguns moradores têm sido resistentes aos esforços da equipe para fotografar e mapear suas casas ou empresas, e outros sugeriram que a principal motivação para iniciativas de mapeamento de favela do Google e da Microsoft seja o potencial de lucro, em vez de altruísmo. O AfroReggae não é o único grupo que se organizou para realizar mapeamentos de favelas; moradores da Maré criaram o seu próprio mapa do bairro, moradores do Vidigal possuem o seu próprio mapa para os visitantes e outros têm contribuído para a plataforma de dados abertos Wikimapia que mapeia favelas.
Com favelas começando a repovoar mapas do Google, no entanto, estes setores estão ainda muito longe de outras partes da cidade em termos de representação e precisão. As imagens do Google Street View para a seção da Maré perto da Avenida Brasil, por exemplo, datam de 2011–o que os torna particularmente ultrapassados no espaço arquitetonicamente dinâmico de uma favela. As imagens para a entrada da Providência são de 2012, e a entrada da Babilônia/Chapéu-Mangueira foi documentada em 2014, e não há imagens do Street View do Santa Marta ou Vidigal, apesar destas serem duas das favelas mais populares entre os turistas.
Mesmo quando existem imagens do Street View, elas raramente se estendem para além de alguns quarteirões até a estrada de entrada principal da comunidade. A única exceção notável a essas lacunas é a Cidade de Deus, relativamente plana, com quadras (e acessível para carros), que teve suas imagens do Street View atualizadas em fevereiro de 2016, provavelmente como parte do novo projeto de mapeamento.
Apesar do progresso na iniciativa de mapeamento colaborativo em algumas comunidades, muitas favelas ainda não têm nomes no zoom do Google Maps; no Pavão-Pavãozinho, na Zona Sul, ou Chacrinha na Zona Oeste, quem visualizar irá ver alguns nomes de ruas, mas nenhum nome para dizer-lhes qual a comunidade que estão olhando, até chegar perto o suficiente para pegar o nome de uma UPP ou uma escola local.
Mesmo a mania Pokemon Go tem ignorado os moradores das favelas; porque o jogo se baseia em dados do Google Maps para preencher seu mundo com pequenos monstros, um Pokémon solitário é uma visão rara na maioria das favelas.
Controvérsias com o aplicativo de navegação Waze
Google não é a única empresa de tecnologia que fica aquém quando se trata de mapeamento de favelas. O Waze, o aplicativo de navegação popular para aqueles que são novos na cidade e também entre os motoristas da Uber, tem estado no centro de várias controvérsias recentes sobre suas características de aproximação e de segurança.
Em março de 2013, os atores Tadeu Aguiar e Sérgio Menezes tiveram seus telefones, equipamentos de som e carro roubado depois que o Waze os direcionou para um desvio pela favela Costa Barros no Complexo do Chapadão, na Zona Norte. Em dezembro de 2015, Regina Múrmura de 70 anos foi morta quando ela e seu marido Francisco seguiram o seu GPS e entraram na favela Caramujo em Niterói, onde alguém abriu fogo sobre seu carro, atacando o veículo com 20 balas. Em entrevista à CNN, Francisco Múrmura culpou o Waze pelo erro trágico. “O aplicativo foi responsável por tudo. Foi o aplicativo Waze que nos levou lá. Eu não tenho nenhuma dúvida de que eles são responsáveis por isso”, disse ele.
Rumores de preocupação com segurança e ferramentas de GPS se tornaram um alvoroço após 12 de agosto, quando um policial da reserva Hélio Andrade, do distante Estado Roraima, foi baleado e morto quando ele e outro policial entraram por engano na Vila do João, na Maré.
No início de agosto, pouco antes dos Jogos Olímpicos começarem, o Waze anunciou que estava estreando um novo recurso de segurança de “alerta em área com risco de crime”, com um alerta sonoro e um pop-up vermelho brilhante que aparece no aplicativo quando um motorista entra em uma das 25 áreas pré-determinadas com “risco de crime”. De acordo com representantes do Waze, a atualização veio em resposta à demanda dos seus usuários, inclusive no Brasil, um dos maiores mercados do aplicativo e o único local no mundo com este novo recurso.
O nível de risco foi baseado em dados públicos de segurança do Disque Denúncia, e verificado por editores voluntários de mapas no Rio. As áreas variam em tamanho, de uma quadra de uma cidade para bairros inteiros, mas não incluem áreas muito movimentadas, mesmo se elas também relatam altos índices de crime.
O Waze rapidamente enfrentou críticas de alguns moradores, que disseram que as advertências só iriam reforçar o estigma e a percepção negativa dessas áreas. Representantes rebateram dizendo que o Waze intencionalmente não estava liberando os nomes dos bairros de “alto risco” ou exibindo-os em um mapa para evitar a criminalização deles. Motoristas só recebem o alerta se digitarem um endereço em uma das áreas como o seu destino, ou ao entrarem em um bairro “de risco” com o aplicativo aberto no seu dispositivo.
“Nós não dissemos que você está prestes a entrar numa favela; estamos chamando de uma área com maior números de crimes”, disse Julie Mossler, chefe de marca e marketing global do Waze, em um comunicado. “A área de crime elevado é orientada por dados. Não é meramente nomear um bairro de perigoso”.
Ainda assim, muitos moradores ainda não se convenceram. Em um artigo no Viva Rocinha, um morador disse: “Quando você mapeia uma parte da cidade e diz que uma parte é perigosa e outra não, você está excluindo pessoas”. Um porta-voz da Waze disse ao jornalista da Quartzque a Rocinha não é uma das 25 áreas com alertas, embora um artigo no jornal O Dia ter citado fontes afirmando que a Rocinha estava entre as áreas de alto risco, junto com Alemão, Maré, Chapadão e Cajueiro.
Mapeamento de previsão de crime no Rio
Perto do final de agosto, o Instituto Igarapé, um centro de estudos de política de segurança do Rio, revelou a sua própria ferramenta de mapeamento para rastrear e prevenir o crime em toda a cidade.
CrimeRadar, apontada como a primeira ferramenta pública do mundo de previsão de crime baseada em dados de livre acesso, compilou seus dados a partir de 42 delegacias estaduais, entidades governamentais, e chamadas para o sistema de chamada de emergência Rio 190, por crimes cometidos entre janeiro de 2010 e março de 2016, totalizando mais de 14 milhões de eventos de crimes diferentes. O chamado aplicativo “pré-crime” também incorpora algoritmos de análise preditiva e ferramentas para tentar mapear a evolução de criminalidade futura, essencialmente, prevendo onde crimes podem ser mais prováveis de acontecer na próxima semana.
CrimeRadar, que funciona em desktops e smartphones, exibe seus dados preditivos com cores que esquentam com o crescimento do risco potencial em uma determinada parte da cidade, codificadas em uma escala de 1 a 10, cada número com uma cor correspondente. Os usuários podem filtrar informações com base na gravidade, categoria e frequência dos diferentes tipos de crimes, e ver tanto os registros históricos ou previsões para os próximos dias, repartidos por hora do dia.
O esforço para aumentar o acesso dos cidadãos às informações de segurança pública que está normalmente disponível apenas para as entidades responsáveis pela aplicação da lei e do governo é admirável, mas há preocupações sobre potencialmente contribuir para a estigmatização de certas comunidades.
Os criadores do CrimeRadar afirmaram que consideravam estas questões ao projetar o aplicativo. Ao invés de delinear bairros como na abordagem usada pelo Waze, o CrimeRadar mostra a cidade em uma série uniforme de zonas de 250 metros quadrados, e não inclui qualquer informação de perfil sobre supostos autores ou vítimas de crimes.
Na verdade, Robert Muggah, especialista em segurança e desenvolvimento e diretor de pesquisas do Instituto Igarapé, diz que parte do objetivo do aplicativo é mostrar aos moradores e visitantes do Rio que o crime não está necessariamente concentrado em favelas ou áreas de baixa renda, e que riscos podem ser maiores em áreas turísticas de grande movimento.
“Nós desenvolvemos o CrimeRadar para ajudar e conduzir o debate da segurança pública no Rio de Janeiro orientado por dados e baseado em evidências”, disse à Wired. “A ideia é criar uma fonte confiável de informação, em vez de confiar em notícias episódicas que contribuem para uma sensação de histeria. Nosso objetivo é fazer com que as estatísticas, que já estão disponíveis publicamente, estejam acessíveis e acionáveis para os cidadãos”.
A fonte–e dimensão–dos dados a ser utilizado é uma possível causa de preocupação. Enquanto o aplicativo do Igarapé usa o mais completo conjunto de informações oficiais disponíveis, muitos crimes no Rio não são notificados, e os policiais são conhecidos por interferir em cenas de crime ou descaracterizar crimes em seus relatórios oficiais, muitas vezes para encobrir abusos de direitos humanos. Esta falta de fiabilidade dos dados oficiais, e a criminalização simultânea de certos bairros e comunidades, é exatamente o que tem dado origem a aplicativos orientados para o cidadão como o DefeZap e Nós por Nós que permitem que os cidadãos denunciem incidentes e violações pela polícia em suas comunidades.
Ao mesmo tempo, muitas das maiores favelas ainda não estão incluídas no CrimeRadar, incluindo comunidades como a Maré e o Alemão, que sofreram altos níveis de violência policiale violações de direitos. De acordo com os criadores do aplicativo, essa omissão é devida à falta de confiança nos dados oficiais–Já que de certa forma as favelas são excluídas da geografia “oficial” do Rio.
“Os dados recolhidos a partir destas áreas são muitas vezes incertos e sujeitos a altos níveis de volatilidade”, explicou Robert Muggah.
“Enquanto nós gostaríamos de preencher as lacunas de tais dados–como no caso dos dados das favelas–a nossa capacidade de fazê-lo depende de melhorias na qualidade da coleta de dados e relatórios”, declarou ao Wired o Colin Gounden, diretor executivo da firma de análise matemática, Via Science baseada em Boston, que trabalhou com o Igarapé para desenvolver ferramentas de previsão do aplicativo. Ele disse que não há planos atuais para incorporar relatórios de contribuição colaborativa reportando sobre crimes nessas áreas por causa de preocupações sobre a confiabilidade dos dados resultantes.
Mapeamento de vídeo game
Ironicamente, os mapas mais amplamente conhecidos de favelas não retratam favelas reais. Durante anos, os designers de vídeo game foram influenciados a criar ambientes visualmente interessantes para os jogadores, com base nos estereótipos das favelas como violentas, sem lei e mal construídas. Este ano, os designers de Rainbow Six Siege lançaram um teaser introduzindo o novo mapa de favela do jogo, comercializado como o “mapa mais destrutível até então”. Um mapa de favela também foi destaque em duas versões do popular jogo Call of Duty.
Enquanto esses mapas não mostram favelas reais, e muitas vezes perpetuam estereótipos estigmatizantes e negativos sobre favelas e seus moradores, eles dão mais atenção aos detalhes que a maioria dos mapas oficiais de favelas.
Ainda assim, os esforços de grupos como o AfroReggae e a iniciativa Tá no Mapa, bem como os esforços de mapeamento a nível local, como o projeto Wikimapa liderado por jovens e um mapa impresso do Vidigal originado na comunidade e que é atualizado anualmente, mostram que as comunidades estão se organizando e intervindo para preencher as lacunas. Isso os ajudou a ganhar o apoio do setor privado como a Google e a Microsoft, embora novamente, subsistem preocupações sobre as motivações de negócio destas multinacionais.
A questão de como fornecer informações confiáveis, úteis para melhorar o acesso, navegação e segurança para todos é um desafio constante em uma cidade tão complexa e dinâmica como o Rio, mas simplesmente apagar comunidades inteiras do mapa dificilmente é uma solução viável ou efetiva, e parece especialmente dirigida às favelas estigmatizadas do Rio. Afinal de contas, nós não vimos a Google excluir os locais de fuzilamentos em massa nos EUA, dos ataques terroristas na Turquia ou da repressão policial repressiva nas Filipinas–todas áreas com violência significativa. Por outro lado, a recente abordagem do Google Maps em relação a visualização da Palestina no mapa sugere que a existência de motivações políticas para que o gigante das buscas escolha mapear determinadas áreas, não seja exclusiva para o Rio.
O desenvolvimento de novos aplicativos como CrimeRadar e recursos como Beyond the Map são passos importantes para aumentar o acesso do público aos dados necessários, mas o alcance limitado de tal tecnologia e o potencial perigoso para reforçar estereótipos negativos também mostram o quanto ainda há para percorrer para colocar favelas no mapa.