A arquitetura depende de seu tempo. É a cristalização de sua estrutura interna, o lento desdobrar de sua forma. - Ludwig Mies van der Rohe
Em 1951, Mies van der Rohe projetou a Casa Núcleo, um projeto participativo que poderia ser concluído por seus moradores.
Este modelo flexível desafiou certos conceitos arquitetônicos, explorou novas tecnologias industriais e propôs um sistema modular para melhorar a qualidade e a acessibilidade da habitação.
Em um artigo de 2011 intitulado “A Casa Núcleo de Mies van der Rohe, um Projeto Teórico sobre a Habitação Essencial”, Luciana Fornari Colombo diz:
"[...] a Casa Núcleo pode ser considerada um exemplo notável de projeto teórico, ou seja, de um projeto realizado de forma independente, como um auto desafio. Este tipo de projeto permite ao arquiteto testar e desenvolver livremente ideias arquitetônicas genéricas, para ninguém e nenhum lugar em específico, capazes de inspirar projetos futuros. Neste sentido, projetos teóricos não são apenas projetos não edificados. Eles fornecem uma apropriada oportunidade para colocar a arquitetura em frente de seus limites disciplinares."
De acordo com Myron Goldsmith, que colaborou na concepção do Core House, citado no artigo de Colombo, "as principais ideias sobre as quais Mies van der Rohe refletiu e testou neste projeto. Elas foram: a arquitetura como pano de fundo para as pessoas; o mínimo uso de elementos; o quão longe se pode ir em um espaço unificado (o que deve ser fechado, o que pode ser aberto); o quão longe se pode ir na simplificação da ideia de habitação e como viver dentro dela."
O que exatamente é a Core House?
Em 1945, a revista Arts and Architecture anunciou uma oportunidade extraordinária para a experimentação da arquitetura doméstica: o programa "Case Study Houses", que durou vinte anos. O objetivo era fornecer soluções para o projeto e construção de modelos arquitetônicos simples e baratos em todo o mundo. Posteriormente, o programa abordou a necessidade de ajudar as pessoas a reconstruir suas vidas na era do pós-guerra nos Estados Unidos, quando milhões de soldados retornaram às suas casas depois da Segunda Guerra Mundial.
Seis anos mais tarde, Mies van der Rohe projetou a Core House (1951) como um projeto de pesquisa pessoal, sem qualquer apoio financeiro de um cliente. Myron Goldsmith e estudantes do Instituto de Tecnologia de Illinois estavam envolvidos no processo de design. O projeto consistiu em um espaço quadrado fechado com uma fachada de vidro com quatro colunas exteriores em forma de H apoiando o telhado plano. O espaço interior era livre para ser organizado ao redor do núcleo de serviço, utilizando móveis, divisórias e cortinas em oposição ao uso de paredes permanentes.
Colombo aponta que “a Casa Núcleo foi concebida para adaptar-se a diferentes famílias e locais. Para isso, a casa poderia ser construída em 40, 50 ou 60 pés quadrados (12,19, 15,24 ou 18,28 metros) e receber diferentes arranjos para o núcleo de serviços.” A autora também diz: “Aberta em todas as direções para a natureza circundante através de grandes painéis de vidro, a casa impõe mínima obstrução à vista, apenas poucas esquadrias e colunas esbeltas. Estas colunas são deslocadas de sua posição habitual, as esquinas, enfatizando o senso de espaço contínuo e criando a percepção do telhado como um plano leve flutuante."
Para uma ideia aproximada de como os indivíduos poderiam adaptar o projeto, Mies van der Rohe também propôs algumas variações no tamanho dos modelos e arranjo do núcleo de serviço.
No ano seguinte, o Chicago Daily Tribune publicou um artigo importante sobre a Casa Núcleo, escrito por Anne Douglas (1952) intitulado “Dinner in Yesterday’s Bedroom – It’s Possible in this Flexible Plan”, no qual Mies é citado:
"... Uma dúzia de pessoas vieram até nós nos últimos anos e pediram uma casa moderna na faixa de US$ 30.000 a US$ 40.000. Nós lhes dissemos que era difícil trabalhar em casas individuais, pois o trabalho não tem relação com o custo da casa ... Já que parece haver uma necessidade real de tais casas, tentamos resolver o problema ".
Embora o projeto não tenha recebido muita atenção na discussão do programa Case Study Houses ou da teoria da arquitetura em geral, Colombo conclui seu artigo afirmando:
"Além de inovar e influenciar trabalhos posteriores tanto quanto diversos projetos construídos, a Casa Núcleo também é importante como um exemplar cristalino de arquitetura moderna, expressando o contexto histórico e cultural no qual ela foi desenvolvida. Porém, assim como acontece com obras de arte superiores, este projeto transcende a sua própria geração. Depois de muitas décadas, esta casa não perdeu suas qualidades inovadoras, oferecendo ainda hoje uma maneira moderna de suprir a necessidade diária de abrigo. Além de todas as suas influências e repercussões, o valor do projeto da Casa Núcleo também reside nele mesmo, no seu efeito purificador sobre as questões fundamentais da arquitetura. Esta proposta original representa a realização de uma bela aparição em vidro, quase imaterial e infinita."
Archilogic
Outrora domínio exclusivo dos programadores, a programação de códigos está sendo usada por uma nova geração de designers, artistas e arquitetos, ansiosos para explorar como o software possibilita novos modos de gerar formas e traduzir ideias. A Archilogic construiu o projeto de Mies van der Rohe na web. Clique nas configurações e escolha o seu layout favorito.
Usando as ferramentas internas do software, é possível alterar o layout interno da casa e até mesmo inserir mobiliário ou obras de arte.
Participe do processo de projeto e mostre suas ideias!
Bibliografia
- Douglas, A (1952). “Dinner in Yesterday’s bedroom – It’s possible in this flexible plan.” Disponível em archives.chicagotribune.com.
- Colombo, L.F (2011). "A Casa Núcleo de Mies van der Rohe, um Projeto Teórico sobre a Habitação Essencial (1)." Disponível em vitruvius.com.br.
- Van der Rohe, M (1952). ‘The Core House’ Disponível em Moma.org