O projeto Refúgio polonês, do arquiteto Jakub Szczesny , sugere, a partir da casa provisória, de uma plataforma de atividades e da publicação, questionar os rótulos culturais em uma época de crescimento de políticas xenófobas. As indagações sobre o que é ser polonês, o que é ser brasileiro, fundamentam-se na ideia de que todas as construções identitárias são sempre resultados de processos heterogêneos.
Uma utopia concreta
A base do projeto é a construção deste “refúgio” projetado por Jakub Szczesny instalado no terraço de mais de 400 metros quadrados, fechado há mais de 30 anos, da Casa do Povo. Estes imigrantes imaginaram e tornaram real o projeto da Casa do Povo como um espaço para acolher associações, iniciativas e atividades que já existiam no bairro do Bom Retiro. Agora, mais de 60 anos depois, um artista e arquiteto vindo da mesma terra que a maioria desses imigrantes, retoma características originais da Casa do Povo e transforma o seu terraço em uma “utopia concreta”. Abrigo, casa, tenda, esconderijo, puxadinho, retiro, succah, ninho; o Refúgio polonês é o espaço onde o próprio Szczesny resolveu morar por um mês e ficará aberto ao público nos horários de funcionamento da Casa do Povo. Em sua moradia temporária, Jakub utiliza móveis usados garimpados em lojas do bairro, objetos que já vem carregados de memória. Os panos e tecidos que são a base dessa casa, podem facilmente ser desmontados, colocados em uma mala, para logo serem reerguidos em outro lugar, recriando assim o refúgio.
O interesse de Jakub por moradias mínimas projetadas levando em conta diversas limitações, já é anterior a esse projeto e extrapola questões meramente formais ou técnicas. Na Keret House (2012) – um de seus trabalhos mais importantes e conhecida como “a casa mais estreita do mundo” –, o objetivo não era apenas fazer uma pequena moradia, mas sim criar, no coração de Varsóvia, uma intervenção discreta que desse continuidade entre tempos e espaços divididos, costurando entre si dois prédios separados por um vão de apenas 1,20m. Um desses prédios foi construído antes da Segunda Guerra Mundial, enquanto o outro foi erguido logo após o fim da guerra, ocupando o exato local onde os nazistas haviam construído a ponte que conectava o grande e o pequeno gueto. Foi lá que os judeus foram mantidos isolados e assassinados pela ocupação alemã, e também onde houve o famoso levante em abril de 1943 – o “Levante do Gueto de Varsóvia”. A Keret House, que carrega no nome uma homenagem ao escritor israelense de origem polonesa Edgar Keret, segue ativa até hoje e funciona tanto como um lugar de moradia, como uma forma de habitar o tempo nas frestas abertas pelas feridas da história.
Ao longo do projeto, o "Refúgio" é ativado e aberto a todos, acolhendo programações voltadas para questões ligadas à terra e ao território, muitas vezes realizadas em conjunto com refugiados, imigrantes, sem teto, sem terra e outros desarraigados.
O projeto Refúgio polonês é realizado conjuntamente pela Casa do Povo, Stowarzyszenie Artanimacje e Adam Mickiewicz Institute, sob a marca Culture.pl, como parte do programa de apresentação da cultura polonesa no Brasil.