A arquitetura vernacular refere-se a projetos que encontram sua principal influência nas condições locais: clima, materiais e tradição. Em um país tão diverso quanto a China, com 55 grupos de minorias étnicas reconhecidos pelo Estado e climas e topografias muito variadas, muitos estilos diferentes de moradia vernacular evoluíram como soluções pragmáticas às as necessidades e limitações singulares de seus contextos.
A rápida urbanização na China tem favorecido as torres de apartamentos em relação à habitação tradicional, devido a sua facilidade de construção e à densidade populacional que permitem, tornando as habitações vernaculares cada vez mais raras em todo o país. Algumas empresas, como oMVRDV e o Ben Wood's Studio Shanghai, notaram os vários benefícios que as habitações vernaculares oferecem e criaram projetos que tentam conciliar a tradição com a urbanização. Mesmo se você não está planejando construir na China, os seguintes estilos de habitação tem muito a ensinar sobre o que significa viver em um determinado momento e lugar. Esta não é uma lista extensa, mas abrange os principais tipos de habitações vernaculares encontradas na China.
Siheyuan
Parte proeminente da cultura de Pequim, as siheyuan são compostas de quatro edifícios retangulares dispostos em um quadrado para criar um pátio interno. Eles são configurados para a vida multi-geracional, com os quartos mais distantes da rua historicamente reservados para as filhas da família, as quais antigamente deveriam permanecer dentro do complexo. O edifício principal abrigava o chefe de família, deixando aos empregados os quartos laterais menores. Os beirais dos telhados dos edifícios proporcionam um pátio sombreado, que tem um programa semelhante ao de uma sala de estar, e funciona como um espaço privado ao ar livre para a família.
Sequências de siheyuan criam becos, chamados hutongs, que ligam a cidade. Hoje, as siheyuan de Pequim são muitas vezes ocupadas por várias famílias e são conhecidas pela falta de comodidades. Como a siheyuan típica não tem mais de dois pavimentos, a pressão da densidade populacional tornou as torres de apartamentos muito mais interessantes aos empresários e planejadores urbanos, embora alguns projetos tenham tentado criar um senso de novidade, mantendo os princípios de projeto das siheyuan-hutong.
Tulou
A província do sudeste Fujian abriga as residências tulou dos povos de Hakka. Uma mistura de terra e vigas de madeira formam paredes espessas e cilíndricas, que possibilitam construir vários pavimentos, e que antes se faziam necessárias para proteger o interior de ataques. As paredes voltadas para fora tem apenas uma entrada e não possuem janelas, e todas as varandas, portas e aberturas estão voltadas para dentro, protegendo ainda mais os residentes de um potencial perigo. Cada estrutura abriga centenas de pessoas - um clã inteiro - e funciona como uma pequena aldeia, com espaço para atividades comunitárias num interior grande e aberto.
Ao contrário da estrutura hierárquica da siheyuan, as residências individuais tulou foram divididas igualmente: um reflexo do alto valor dado ao senso de comunidade, que também pode ser observado na igualitária forma redonda da tulou. Em 2008, 46 tulous foram designadas Patrimônio Mundial da UNESCO por conta da unidade pacífica entre arquitetura defensiva e residencial, e estarão protegidas caso um dia os bairros na Fujian rural se urbanizem.
Yaodong
Encontrado nas províncias do norte de China, incluindo (talvez a mais famosa) Shaanxi, as yaodong, ou casas de caverna, usam terra das encostas como isolamento para regular a temperatura em invernos e verões severos. Elas podem ser esculpidas em uma encosta, cavadas no chão criando uma habitação enterrada, ou construídas de forma autônoma, colocando terra em cima de uma estrutura de tijolos. Múltiplas moradias são construídas adjacentes e em cima umas das outras e juntas formam uma aldeia hierárquica, muitas vezes para um único clã ou uma grande família.
À medida que mais jovens se mudaram para as grandes cidades em busca de trabalho, a vida nas yaodong tornou-se menos popular. No entanto, na última década percebe-se uma nova apreciação em relação aos benefícios econômicos e ambientais da vida nas yaodong, e ONGs tem tido relativo sucesso na construção e comercialização dessas novas habitações como opções verdes e eficientes.
Shikumen
Ao contrário das siheyuan, tulou e yaodong, que já existem há milênios, as shikumen de Xangai são uma relíquia do início do século XX, quando a influência ocidental dos franceses começou a tomar conta do estilo arquitetônico da cidade. Tendo não mais de três andares, estas casas de madeira e tijolo são construídas uma ao lado da outra, dentro de um muro de pedra. As fileiras de casas criam uma rua isolada, que chegou a manter um modo de vida claramente xanganês. Os vizinhos passam grande parte do tempo fora de sua casas relativamente pequenas, e a vida cotidiana - produzir de macarrão, lavar de roupas, jogar cartas, beber café, etc. - se desloca para a rua e é compartilhada com a comunidade. As shikumen muitas vezes apresentam grandes batedores de porta ornamentados, flores Art Deco emotivos geométricos indicativos da Era de Jazz de Xangai.
Os edifício baixos uma vez já abrigaram 60% dos moradores da cidade, mas muitos bairros foram demolidos recentemente pelo Estado, que em troca oferece aos moradores das shikumen indenização e habitação em novas torres de apartamentos que, embora economicamente eficientes, não acomodam a vida na rua. Para o cidadão comum, não há nada a ser feito para parar ou até mesmo atrasar o desaparecimento das shikumen, mas projetos como o Xangai Street Stories de Sue Anne Tay e o Cardboard Shikumen de Richard Liwei Huang lutam para preservar a memória e o design da habitação através de sua documentação, da narração e da realidade virtual.