Este texto foi originalmente publicado na Metropolis Magazine como "Studio Fuksas' Controversial (Yet Striking) Convention Center Opens At Last."
Apensar de seu nome que evoca maciez, “A Nuvem” (Nuvola em italiano) tem sido um dos projetos arquitetônicos mais seriamente discutidos na Itália na última década. Mesmo depois de sua inauguração em outubro de 2016, o edifício continua a gerar controvérsia sobre seu custo (estimado em €353 milhões, ou aproximadamente R$1,152 bilhão) e os atrasos que marcaram sua construção.
O Centro de Convenções EUR, como é oficialmente conhecido, é o maior edifício a ser construído em mais de 50 anos - talvez não pareça muito para a Cidade Eterna, mas também não é algo insignificante. O projeto foi elaborado por Massimiliano e Doriana Fuksas em 1998, mas não saiu do papel por quase duas décadas. Nesse período, a cidade já elegeu cinco prefeitos diferentes e foi alvo de inúmeros escândalos de corrupção.
Enquanto isso, EUR permanece tão intocável como sempre o foi. O bairro, construído no final dos anos 30 para sediar a Feira Internacional de 1942 que acabou cancelada, é lar de edifícios de grandes nomes da arquitetura italiana do século XX, incluindo Adalberto Libera e Marcello Piacentini. É lá que estão o Museu Etnográfico de Pigorini, o Colosseo Quadrato (atual sede da Fendi) - e uma série de agências públicas e empresas privadas. As ruas ortogonais e os edifícios com grande rigor geométrico, com seus pórticos de pé direito duplo, criam uma paisagem de cheios e vazios, alternados, repletos de luz e sombra.
A Nuvem reinterpreta este caráter, proporção e geometria simples - mas utiliza metal e vidro ao invés da tradicional onipresença da alvenaria e mármore. O complexo está na porção sul da EUR, lugar do antigo estacionamento abandonado que Federico Fellini utilizou como set de cinema nos anos 1960. O enorme centro de convenções compreende três grandes elementos arquitetônicos: uma caixa de vidro conhecida como Theca, que mede 70 x 45 m; A Nuvem em si, uma estrutura de fibra de vidro e metal dentro da Theca e o Blade, um volume prismático que abrigará um hotel que acompanha a lateral sul da caixa de vidro.
A abordagem nordeste do edifício na Via Cristoforo Cololbo é espetacular e ilustra um dos elementos mais fortes do edifício - seu domínio do percurso arquitetônico. Uma série de escadarias de travertino descem abaixo do nível da rua para se abrir num grande hall de entrada com pé direito de 48 m de altura repleto de luz. A estrutura fantasmagórica da Nuvem, coberta de painéis de fibra de vidro, paira sobre o espaço.
Deste hall de entrada visitantes têm acesso à dois espaços principais do Theca. O primeiro representa todo um pavimento do edifício. Este espaço tem ares de hangar, completamente em preto, e se torna mais convidativo com seu piso em madeira.
A segunda rota leva os visitantes para a Nuvem em si. A partir do hall, duas escadas rolantes levam ao mezanino, e uma escada menor sobe para desaparecer na Nuvem. Uma vez dentro, os suportes da estrutura - antes apenas visto através da superfície leitosa da Nuvem - são finalmente revelados. Uma série de portas pretas levam ao auditório principal, inteiramente revestidos com painéis de madeira de Cerejeira Americana. Os arquitetos utilizaram estes materiais variados - travertino, vidro, painéis de fibra de vidro, madeiras - de maneira bastante direta para distinguir as zonas dentro do edifício.
Os Fuksases basearam todo o conceito do projeto na dicotomia entre formas livres e rígidas. "O problema", segundo Massimiliano, "era resolver o confronto entre uma forma que é completamente livre como uma escultura (a Nuvem) e sua envoltória mais regular (o cubo de vidro)." Este desafio não é novo - arquitetos de antes da era do computador trabalhavam duro para conciliar as formas livres com as retilíneas, mas aqui assume uma analogia urbana. De acordo com o arquiteto, o centro de convenções reúne os espíritos de duas Romas diferentes, do marroco ao moderno. "O edifício tem dois conjuntos de inspirações: a rígida geometria de EUR de um lado e a Roma barroca, orgânica, a roma de Borromini. Quis reunir todas estas Romas e ver o que acontecia."
Críticos argumentam que o complexo era desnecessário - outro lugar similar, projetado por Libera, está a apenas alguns metros de distância - e que o projeto simplesmente custou muito caro. O estúdio Fuksas defende que o preço final foi abaixo das expectativas iniciais, e a empresa pública que detém a propriedade e gere o centro diz esperar gerar de €300 milhões a €400 milhões ao ano através de congressos, eventos e turismo. Ainda nenhum hotel demonstrou interesse em se instalar no Blade e dúvidas legítimas foram levantadas se o centro vai cumprir com o número de visitantes prometido. Arquitetonicamente também há um problema, o edifício foi concebido quase 20 anos atrás, e responde às necessidades que podem ter sido apropriadas na época, mas hoje já não mais. (Massimiliano Fuksas, por sua vez, se orgulha de ter mantido o projeto original sem modificações.)
Mesmo assim, é preciso ser dito que é um edifício moderno quase inexpressivo, que traz um toque de barroco contemporâneo para o icônico bairro racionalista EUR de Roma. Além do mais, é de certo modo uma metáfora perfeita para Roma de hoje: bela, contraditória, um pouco confusa. É um reflexo da cidade em si.
The Cloud / Studio Fuksas
Click here for more images and the architect's drawings and description.