A densidade urbana é um ponto muito importante para o futuro das cidades. Seguindo os princípios do Desenvolvimento Urbano Orientado pelo Transporte Sustentável (DOTS), por exemplo, entre os fatores que cidades mais compactas conseguem melhorar está a eficiência energética dos prédios. Agora, uma pesquisa publicada na PNAS comprova que quanto mais dispersa a população, maior o consumo de energia.
A análise considerou as previsões de densidade populacional urbana e o uso associado de energia, em três cenários. Nas últimas três décadas, as densidades urbanas vem diminuindo em todos os países, o que deve, segundo o estudo, se manter até a primeira metade do século. Em todos os cenários, em relação aos níveis de 2010 até o projetado para 2050, a utilização anual de energia global para aquecimento e resfriamento pode aumentar de 7%, assumindo um cenário de crescimento mais compacto e avanço na tecnologia, a 40%, se houver um crescimento urbano mais disperso e sem avanços tecnológicos significativos.
Os pesquisadores também se concentraram apenas na energia direta usada no resfriamento e no aquecimento de edifícios. Embora a energia indireta, como a consumida na construção de um edifício, seja também considerável, ao longo do tempo o uso direto de energia tende a exceder o uso indireto. Sendo assim, as previsões sugerem que o aumento da densidade pode levar a maiores reduções no uso de energia do que o aumento da eficiência energética em muitas regiões em desenvolvimento.
Pensando nas localidades, China, Europa e América do Norte representam a maior parte da energia acumulada futura para aquecimento e resfriamento até 2050. No entanto, destas três regiões com o maior consumo de energia previsto para os edifícios, a China tem o maior potencial de economia, sendo que dois terços deste potencial podem ser realizados através do incentivo a densidades urbanas mais elevadas (isto é, formas urbanas mais compactas), não apenas no país, mas também no Sul da Ásia e em algumas regiões da África. Na América do Norte e na Europa, a melhoria da eficiência influencia mais do que a densidade urbana, enquanto na América Latina e no Caribe e na antiga União Soviética, tanto a densidade urbana como a melhoria da eficiência são igualmente importantes.
O estudo diz que os resultados “mostram que a densidade urbana será um fator chave para determinar a eficiência energética dos edifícios durante a primeira metade do século. Em geral, nossas descobertas indicam que a economia no uso de energia a partir do desenvolvimento compacto pode crescer substancialmente até 2050”. Vale lembrar que investir em prédios eficientes influencia muito no retorno financeiro, social e ambiental tanto para quem constrói quanto para a cidade e os moradores dos empreendimentos. Segundo o levantamento Accelerating Building Efficiency, do WRI Ross Center for Sustainable Cities, pelo mundo, edifícios e construções são responsáveis por 60% do uso de eletricidade, 12% do uso de água, 40% do lixo e 40% dos recursos materiais. Mesmo as construções antigas podem passar por melhorias de eficiência energética e aprimorar seus desempenhos.
A publicação vem de encontro ao que defende o arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl sobre a necessidade de se pensar em cidades compactas, com mais estrutura e qualidade de vida para a população. Em entrevista ao TheCityFix Brasil, Gehl deu a sua visão sobre a densidade de uma cidade: “muitas vezes eu falo que os arquitetos preguiçosos respondem à densidade com torres. Mas, se o mesmo arquiteto trabalhar melhor, ele pode criar a mesma densidade com alturas menores. Eu realmente acho que altos prédios estão ultrapassados e, ao estudar de perto a questão da densidade, nós podemos ter cidades muito melhores”.