Essa semana apresentamos a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto na nossa série “Pelas lentes de Fernando Guerra”, em que expomos uma sessão completa de fotos do fotógrafo para uma obra icônica, com um texto sintético sobre ela. A Escola do Porto exerce grande importância no cenário arquitetônico mundial, sempre figurando entre as melhores em rankings e tendo arquitetos como Eduardo Souto de Moura (Pritzker 2011), Fernando Távora e o próprio Álvaro Siza Vieira (Pritzker 1992), como grandes precursores.
Construída entre os anos de 1985 e 1996 pelo mestre português Álvaro Siza, antigo aluno da escola, o conjunto é constituído por 10 volumes distintos entre si, cada um com suas peculiaridades, mas que encontram uma identidade através da cor, opacidade e soluções construtivas.
O programa original da escola incluía instalações de salas de aulas para 500 estudantes, um auditório, administração, uma sala de exposições e uma biblioteca. O arquiteto decidiu fragmentar esse programa em edificações separadas. Na parte sul, com vistas para o Rio Douro, foram implantados os programas de salas de aula e ateliês. Uma característica marcante da obra de Siza, que é de enquadrar magistralmente as vistas que deseja que o observador aprecie, é bastante marcante nesse projeto e, sobretudo, nos volumes de salas de aula. Esses volumes, cuja atividade de projeto carecem de inspiração, tem uma relação forte com o entorno natural da cidade do Porto. São justamente essas aberturas, em conjunto com as proteções solares, que Siza cria uma diferenciação e um movimento entre os volumes.
Quatro torres alinham-se paralelas ao rio. Do outro lado do terreno,no entanto, predominam duas edificações laminares, conectadas por um semi-círculo. No meio do lote surge um grande pátio irregular, quase que triangular. É interessante que o pátio lembra a forma do primeiro pavilhão construído por Siza no terreno, ainda próximo da edificação histórica, e que apresenta uma forma de U com os braços levemente fechados. O jogo entre ângulos retos e oblíquos é bastante presente na obra, sobretudo nas circulações e visuais pretendidos.
Na parte norte do terreno, os volumes lineares são mais opacos, onde Siza implantou as funções mais coletivas, que são o auditório, a sala de exposições e a biblioteca, além da parte administrativa, mais próxima à rodovia vizinha.
Com a consciência de que grande parte da interação e da aprendizagem não se dava nas salas de aula e nas bibliotecas, mas, principalmente, nos espaços intermediários, pátios e café, o arquiteto deu grande atenção a isso. Ele projetou a faculdade como uma pequena cidade, aproveitando os desníveis do terreno para criar espaços mais sociais, outros amplos, e outros mais íntimos. Os corredores e rampas que ligam os níveis e os programas funcionam como ruas, e o café e o pátio como praças e parques.
Veja a galeria de fotos e imagine como é estudar e aprender em um edifício tão inspirador.
Referências
La Facultad de Arquitectura de la Universidad de Porto (Alvaro Siza)- Arquitecturas (2001). Direção: Richard Copans.